Popularizar sem vulgarizar a ciência. Esse é o lema do programa de entrevistas Ciência Brasil, que está no ar há dois meses na internet e que tem como âncora Marcelo Hermes-Lima, professor do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB).
Trata-se de um talk show on-line no qual Hermes-Lima leva para o estúdio, a cada dez ou quinze dias, especialistas em diferentes áreas do conhecimento. ‘Muitos pesquisadores têm medo de que, ao falar para o público em geral, o trabalho científico corra o risco de ser vulgarizado e perder qualidade’, disse o biólogo à Agência FAPESP. ‘Nossa proposta é mostrar a importância da educação e da divulgação científica feita com fidelidade às informações. O Ciência Brasil é uma aula universitária disfarçada de entrevista.’
O programa, que integra a sessão científica do portal de informação e serviços ‘Painel Brasil’, estreou dia 3 de abril com uma entrevista com José Roberto Pujol, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UnB. O entomologista falou sobre anatomia forense, que é o estudo de como os insetos podem ajudar a solucionar crimes.
Novas metodologias de ensino médico
‘Colesterol’ é o tema do quinto e mais recente programa exibido, no qual o cardiologista Andrei Sposito, professor da UnB e orientador de pós-graduação em cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, falou sobre assuntos como hipertensão e a importância do controle dos níveis de colesterol.
Todas as edições exibidas estão disponíveis no site. Artigos científicos e trabalhos acadêmicos, relacionados ao assunto abordado em cada entrevista, também são colocados à disposição dos visitantes em links ao lado da janela dos vídeos.
‘Darwin e a evolução das espécies’ será o tema da próxima edição, que deverá ir ao ar nos próximos dias. Rosana Tidon, professora do Departamento de Genética e Morfologia da UnB, será a entrevistada. Em seguida, ‘Células-tronco cardíacas’ será o tema abordado por Adriano Caixeta, diretor do Instituto do Coração do Distrito Federal.
Hermes-Lima produz o programa como atividade paralela às aulas que ministra na UnB e ao desenvolvimento de pesquisas científicas com radicais livres e educação molecular, que incluem o estudo de novas metodologias de ensino médico para a disciplina de bioquímica.
Linguagem acessível
O professor da UnB explica o elevado acesso do Ciência Brasil com a pesquisa ‘Percepção Pública da Ciência e Tecnologia’, realizada em 2006 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) por meio de entrevistas domiciliares com mais de 2 mil pessoas nas cinco regiões do país selecionadas com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
‘Os brasileiros têm fome de ciência. O levantamento mostra que o interesse por assuntos científicos e tecnológicos no país é maior do que temas como moda, política, arte e cultura’, destacou.
O que chama a atenção, no entanto, é a dificuldade de compreensão dos temas: 37% dos entrevistados disseram não se interessar por ciência e tecnologia pelo fato de não entenderem os assuntos veiculados. ‘O preconceito parte dos próprios órgãos de comunicação no país, quando acham que o brasileiro não gosta de ciência. Com isso, acabam divulgando a ciência para um público especializado e com uma linguagem complexa’, disse Hermes-Lima. ‘Como o objetivo do Ciência Brasil é abordar assuntos desconhecidos do grande público com uma linguagem simples e acessível, meio milhão de pessoas já assistiu às três entrevistas veiculadas no primeiro mês do programa.’
As perguntas do programa são formuladas pelo próprio pesquisador, com auxílio de dois estudantes da Faculdade de Medicina da UnB, Hugo Magalhães e Natalie Camargo, seguindo um roteiro pré-elaborado pelo trio.
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Repórter da Agência Fapesp