Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Telejornais viram cinzas, mas podem renascer

Concordo com o colega Venício A. de Lima [‘Telejornais apresentam o mais do mesmo‘] quando afirma que os telejornais estão ‘velhos’, ultrapassados e que há uma corrida das emissoras para alcançar o ‘padrão Globo’ de qualidade. Penso, no entanto, que também se trata igualmente de uma questão de formato. A maioria dos telejornais não conta mais com entrevistas, como ocorria no Jornal da Record, apresentado por Boris Casoy, ou mesmo comentaristas que tentam acrescentar algo mais ao noticiário, como Franklin Martins com suas análises e como ocorre no matutino Bom Dia, Brasil, da TV Globo.

Seguir o padrão global significaria, então, nivelar o telejornal em todos os pontos? Copia-se o que há de melhor e os maus exemplos também. O público precisa ser atraído de várias formas. É óbvio que credibilidade e diversidade são fatores fundamentais, porém, já estamos no século 21 e só isso não basta. Será que o telejornal na TV aberta não teria de se encaminhar para uma atitude mais analítica, a exemplo do que especialistas defendem quando abordam o futuro do jornal impresso em relação ao online?

Tentativa

Só que não basta apenas tecer uma ou outra frase-feita, esboço do que poderia ser uma opinião mais bem formulada – como ocorre após certas reportagens exibidas em alguns telejornais noturnos. O Jornal da Cultura, que conta com análises de Luís Nassif e Alexandre Machado, além de entrevistas, seria – pelo menos para este que escreve – um exemplo a ser seguido. Aliás, que falta fazem as entrevistas – por vezes divertidas – de Boris Casoy, ainda que alguns o acusem de ser conservador.

A febre de dossiês e fitas-denúncia que atingiu parte das redações – e que foi citada na análise feita neste Observatório da Imprensa sobre os telejornais – não parece influenciar os telespectadores de modo tão negativo – afinal, creio que eles mesmos querem ver as denúncias ‘exclusivas’, os escândalos e, é claro, a apuração de tudo isso. É, sim, perigosa para o jornalista, principalmente os focas, que já chegam às redações e encontram um ‘prato-feito’, pronto para ser consumido e que não lhes proporcionará o aprendizado sobre a arte de se ‘garimpar’ informação – a base de qualquer bom repórter.

O jornalista Carlos Nascimento, durante entrevista ao Bate-Papo UOL, realmente disse que é ‘preciso mudar a linguagem, descobrir um jeito novo de construir o texto (…) o foco dos assuntos’, no entanto, ele também afirmou que não sabe qual é esta nova fórmula. Independentemente disso, pelo menos, os telejornais estão tentando. Vamos torcer para que não parem no meio do caminho.

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Jornalista e professor de Tecnologia em Rádio e TV da Universidade de Santo Amaro (Unisa-SP)