Sunday, 05 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1319

Transparência em conflitos de interesse

George F. Will, colunista conservador do Washington Post e vencedor de um prêmio Pulitzer, é casado com Mari Maseng Will, que foi diretora de comunicação do ex-presidente Ronald Reagan e da campanha presidencial de Bob Dole, em 1996. O casal, ao longo dos anos, viu-se envolvido em situações em que teve de ser transparente, devido à carreira de ambos e também pela proximidade com políticos republicanos. Ainda assim, Will, amigo de longa data de Nancy Reagan, custou a revelar, na década de 80, que ajudou Ronald Reagan com os preparativos do debate. Em 1995, o colunista defendeu o comércio livre de automóveis sem revelar que a empresa de sua mulher estava fazendo lobby para fabricantes japoneses.

Por isso, não foi surpresa que o site Politico tenha revelado este mês, em três matérias (aqui, aquie aqui), que Mari trabalhou para a pré-candidata republicana à presidência Michele Bachmann este ano, fez alguns serviços para a campanha de Mitt Romney, em junho, e foi contratada em tempo integral pelo governador do Texas, Rick Perry, este mês. “Will deveria ter revelado estas informações? Sua cobertura foi favorável aos candidatos republicanos?”, pergunta, em sua coluna[19/11/11], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton.

Críticas

Michele declarou-se formalmente pré-candidata à presidência no dia 27/6. Segundo Will, quando sua mulher soube do anúncio, pediu para se afastar e, desde maio, não tem mais contato com a campanha presidencial. Ele não mencionou Michele nenhuma vez durante o período em que Mari trabalhou para ela. Mas o fez no programa This Week, da rede de TV ABC, do qual participa todo domingo. No dia 11/3, ele revelou que Mari assessorava, ocasionamente, Michele Bachmann.

Em relação a Romney, Mari foi, a convite de seus assessores, aos escritórios do candidato no dia 28/6, para, segundo Will, ajudar sua equipe a elaborar uma estratégia para o movimento Tea Party. Todas as colunas no último ano e suas aparições no This Week revelam que Will foi cortês com quase todos os candidatos republicanos à presidência e com os que estavam considerando entrar na disputa, como Michele e Perry. Nos seus comentários na TV, ele criticou apenas três: Newt Gingrich, Sarah Palin e Romney. Sua crítica a Romney foi consistente: ele disse, na TV, que o ex-governador de Massachusetts não tinha um compasso ideológico e, por conta disso, eleitores republicanos não eram entusiasmados com ele. Por isso, ele não conseguia mais do que 25% nas pesquisas. Em uma coluna de outubro, Will foi ainda mais crítico ao abordar subsídios ao etanol.

Revelar relações

A questão é se ele foi repentinamente mais duro com Romney depois que sua mulher foi trabalhar para Rick Perry. Segundo analisa Pexton, o intervalo de tempo não mostra isso. O primeiro contato que Mari teve com a campanha de Perry foi no dia 3/11 e ela foi contratada no dia 7/11, depois da coluna de Will, publicada no final de outubro. No dia 8/11, o colunista contou a Alan Shearer, diretor editorial do Washington Post Writers Group, que distribui suas colunas, e a Fred Hiatt, editor das páginas editoriais, sobre o emprego de Mari. A informação também foi revelada na sua aparição seguinte noThis Week, no dia 13/11. Ele vai tornar a informação pública também em suas colunas, como fez em 1996.

Para Pexton, é sempre importante revelar informações deste tipo, para que leitores sejam capazes de julgar por si próprios se há algum conflito de interesse. Na sua opinião, Will deveria ter revelado a relação de Mari com Michele um pouco antes, mesmo sem ter escrito sobre ela e, quando Mari foi contratada por Perry, deveria ter informado imediatamente. No entanto, na sua avaliação, não houve mudança no tom do colunista por conta do trabalho de sua mulher.