O empresário Andrea Matarazzo chegou à secretaria de Estado da Cultura, em maio do ano passado, para cumprir um final de mandato. Chegou como quem tateia em terreno pouco conhecido. Oito meses passados e confirmada sua permanência no cargo, Matarazzo fala como quem, ao tomar pé de algumas coisas, não gostou muito do que viu. Na entrevista a seguir, ele revela alguns de seus alvos.
Folha – O senhor já declarou sua insatisfação com o MIS. Pretende mudar sua gestão?
Andrea Matarazzo – Não, mas pedi um novo plano para a atual gestão. O MIS deve manter a posição de vanguarda das novas mídias, mas precisa ampliar seu público. Não dá para receber 60 mil pessoas por ano. Ele precisa fazer um trabalho educativo e ampliar o acervo.
As obras do Teatro da Dança (projeto orçado em R$ 600 milhões) serão suspensas?
A.M. – O projeto será analisado dentro do conjunto de investimentos do estado. Como ele está modulado em três fases, vamos redefinir quando cada etapa vai começar.
A política cultural do PSDB, em SP, tem como marca a construção de grandes obras. Qual é, a seu ver, o principal papel do estado na cultura?
A.M. – Oferecer cultura de qualidade a quem não tem acesso. Estamos fazendo a infraestrutura. As oficinas culturais também são fundamentais.
Quando o senhor assumiu, houve uma crise nas Oficinas.
A.M. – Mas elas foram reformuladas e estão indo em outra direção. O conteúdo dos cursos foi atualizado, com a inclusão, por exemplo, de atividades voltadas ao ensino de novas mídias e tecnologias.
‘A criatividade em São Paulo é muito grande’
O contrato com a OS que cuidava das oficinas foi desfeito?
A.M. – Foi. E nós estamos criando, na Secretaria, uma controladoria para avaliar todas as Organizações Sociais que prestam serviço para o estado. Quero que a prestação de contas seja mais precisa e que melhorem os indicadores de avaliação.
Ao assumir, o senhor não parecia muito certo de que a OS era o melhor meio para se administrar a cultura. Qual é agora sua posição?
A.M. – A OS nos dá agilidade administrativa e a possibilidade de fiscalizar as políticas públicas. São irreversíveis.
Vindo de outras áreas da administração pública, o que mais o surpreendeu na cultura? Seu antecessor, João Sayad, ficou impressionado com a fragilidade financeira.
A.M. – Não, acho que nos últimos anos houve uma grande mudança na visão dos governos sobre política cultural. Nosso orçamento é de R$ 1 bilhão, incluindo a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura). Me surpreendi com a qualidade da produção cultural, a criatividade dos artistas. A quantidade de criatividade em São Paulo é muito grande.
‘A Cultura é referência em produção infantil’
É difícil atender às demandas dos artistas?
A.M. – As demandas são muito razoáveis. E estou muito acostumado a conviver com esse meio porque eu praticamente morava com meu tio, o Ciccillo [Matarazzo, fundador da Bienal de SP]. Ele não tinha filhos e eu ia almoçar com ele todos os dias. Coisa de família italiana.
O que o senhor acha do projeto de reforma da Lei Rouanet?
A.M. – Tenho que falar a verdade para você. Nunca olhei em detalhes o projeto.
A TV Cultura está passando por nova crise. O senhor pretende fazer alguma coisa?
A.M. – Não. A Fundação Padre Anchieta é independente e quem delibera é o conselho. Só repasso o dinheiro.
Mas, em outros momentos, a secretaria fez pressões por mudanças na TV…
A.M. – Não na minha gestão. Até porque quem está lá é o meu antecessor aqui [João Sayad].
O que o senhor acha da TV?
A.M. – Minha opinião pessoal é que, por ser uma TV pública, a Cultura deveria estimular a produção independente, comprando programas de terceiros. Também deveria comprar programas prontos de canais como o The History Channel, ou a Futura, para torná-los acessíveis a quem não tem TV a cabo. A Cultura é referência em produção infantil. Deveria se manter nisso e comprar o resto. Mas isso é uma opinião pessoal porque, como disse, não tenho ingerência nenhuma sobre a TV.
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Contratos com associações são reavaliados
A secretaria de Estado da Cultura tem hoje contratos firmados com 18 Organizações Sociais (OS). As OS são entidades de direito privado que, por meio de um contrato de gestão, administram projetos e espaços culturais públicos. No estado, elas cuidam de 50 programas e instituições – de museus à Osesp.
‘Como é um mecanismo relativamente novo, ainda está se depurando’, diz Matarazzo, para justificar algumas das mudanças que devem ocorrer na renovação dos contratos, neste ano.
Além do fim dos contratos com as associações que cuidavam das Oficinas Culturais e do Museu do Imigrante, haverá uma mudança de atribuições. A Folha apurou que Poiesis, que cuida, entre outros, do Museu da Língua Portuguesa, deve perder a tutela da Biblioteca São Paulo.
Matarazzo promoverá também alterações na estrutura administrativa. Para a Imprensa Oficial, o governador Geraldo Alckmin anunciou novo diretor: o ex-secretário de gestão do governo Marcos Monteiro.