Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV Pública pode ter
restrição à publicidade


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O Estado de S. Paulo


Domingo, 3 de fevereiro de 2008


TV BRASIL


O Estado de S. Paulo


Relator da MP da TV Pública quer restringir publicidade


‘No esforço para garantir a aprovação da medida provisória que cria a TV Pública, inaugurada em dezembro passado, o relator da matéria na Câmara, Walter Pinheiro (PT-BA), vai propor restrições à publicidade veiculada pela emissora. O relatório proibirá ‘autopromoção’ do poder público, com divulgação de obras ou de distribuição de benefícios sociais. No caso da iniciativa privada, a propaganda se limitará ao nome da empresa e à inscrição ‘apoio cultural’. Não serão permitidos slogans ou textos de exaltação dos produtos.


Pinheiro vai encampar a reivindicação de deputados e senadores e incluir no conselho curador da TV Pública representantes indicados pela Câmara e pelo Senado, não só pelo presidente da República. Também proporá a criação do cargo de ombudsman, encarregado de fazer uma crítica diária, ‘na TV, durante uns três minutos por dia’.


‘A idéia é engessar um pouco mais, criar amarras para evitar a autopromoção dos governos e caracterizar como TV pública, e não estatal. O governo não poderá fazer propaganda de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por exemplo’, diz o relator. Outra coisa, ressalva, será a ‘cobertura jornalística’ de acontecimentos que envolvem o poder público.


Para a propaganda de empresas privadas, Pinheiro diz que o objetivo é evitar a concorrência com as TVs comerciais. ‘A empresa aparecerá com sua marca, como apoiadora de um programa. Mas a publicidade não estará vinculada ao serviço ou ao produto que a empresa oferece. A TV Pública vai fazer o que a TV comercial não faz’, afirma. Outra proposta do deputado será a transmissão de programas educativos sem interrupção para propaganda.


No fim do ano passado, Pinheiro anunciou a intenção de ampliar os recursos da TV Pública, o que permitirá que ultrapassem os R$ 350 milhões anuais do Orçamento previstos na lei. O deputado confirmou que vai propor que seja autorizada a aplicação de parte da verba do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) na nova emissora. ‘Com os recursos via Fistel, não fica dependente do Orçamento da União.’ Para ele, se os recursos forem exclusivos do Orçamento, os governos poderão ‘estrangular ou liberar’ verbas segundo seus próprios interesses.


O Fistel arrecada cerca de R$ 3 bilhões por ano, pagos pelas operadoras de telecomunicações em dois impostos, a Taxa de Fiscalização de Instalação e a Taxa de Fiscalização de Funcionamento. Os recursos são divididos entre a agência reguladora, Anatel, e o Tesouro Nacional.


O relator informou que está ‘tentando conversar com PSDB e DEM’ para tentar diminuir a resistência à TV Pública. O problema, reconheceu, é que ‘tem gente que acha que a TV não tem que existir de jeito nenhum’. Para os governistas, não haverá dificuldades em aprovar a MP na Câmara porque a base tem ampla vantagem sobre a oposição. No entanto, eles têm dúvidas sobre a votação no Senado, escaldados com a derrota na prorrogação da CPMF.


Pinheiro pretende apresentar o relatório no dia 11 de fevereiro e negociar durante uma semana com base e oposição para que a MP, que tranca a pauta, seja votada no dia 18.’


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Eles não pegam nem gripe


‘Não existe novela sem beijo. Já ator que nunca beijou em cena… Ah, isso tem aos montes. A lista dos ‘encalhados’ da teledramaturgia é grande e diversificada. Há celebridades que passam anos sem dar uma única e inofensiva bitoquinha no ar. Parece difícil imaginar a ‘seca’ de alguns personagens em tempos em que todo mundo dá beijos escancarados e vai para cama a toda hora nos folhetins. Mas ela existe e não escolhe raça, idade e beleza para atacar.


Débora Nascimento que o diga. A bela morena de olhos claros, que vive a personagem Andréia Bijou em Duas Caras, ainda não conseguiu dar seu primeiro beijo no ar. ‘A minha personagem tinha dois pretendentes, mas de repente ficou sozinha’, fala. ‘Estou ansiosa para dar o primeiro beijo. Já estou em minha segunda novela e até agora nada’, completa. ‘Acho que vou ficar para titia.’


Segundo a atriz, o fato de ainda não ter beijado em cena tem a ver com o rumo tomado por sua personagem na trama das 9 da Globo. Andréia Bijou é uma passista que tem de escolher entre o carnaval e a missão de se tornar mãe-de-santo da comunidade. ‘Essa escolha ganhou uma proporção maior na trama, aí o romance ficou de lado’, explica ela. ‘Mas tudo bem, quem sabe na próxima novela eu tiro o atraso’, brinca.


Gorete Milagres sabe o que é isso. A atriz saiu semana passada do time dos BVs, os bocas-virgens da TV. Após uma década no ar, Gorete deu seu primeiro beijo na ficção, como a personagem Jacira em Amor e Intrigas, da Record.


‘Me senti como uma adolescente. Estava nervosa, tremendo’, conta Gorete, que atribui tanto tempo sem beijar ao seu maior sucesso na TV, a personagem Filó. ‘Amo a Filó, mas ela fechava a porta para outros trabalhos’, explica a atriz. ‘As pessoas agora estão me enxergando como atriz. Esse beijo representa o fim de um preconceito’, decreta Gorete, em uma euforia que chegou a incomodar seu marido real.


Mas ainda há os que acreditam que beijo apaixonado é coisa apenas para mocinhos lindos e perfeitos. Os feios, desajeitados, engraçados e mais velhos não devem beijar na TV. Coisa que o autor Silvio de Abreu discorda.


Mestre em driblar o preconceito criando casais inusitados, Silvio acredita justamente no contrário. Acha que o público quer ver os beijos imprevisíveis e tirar os ‘encalhados’ da fila. ‘Se o público gosta do personagem, seja ele feio ou bonito, torce para que seja feliz e ache um grande amor.’ E beije muuuiiiito, é claro.’    


 


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Encalhados, com orgulho


‘Os malvados e atrapalhados não têm vez na beijação. Pelo menos é isso que pensa o ator Luiz Guilherme, que coleciona vilões na telinha. Para ele, personagens do mal e os cômicos estão mais destinados à solidão.


‘Há novelas em que os vilões têm uma comparsa, mas nunca tive essa sorte’, diz. ‘Sempre fiz homens maus e solitários e que, portanto, não beijavam, ou personagens de humor, que quando rola um beijo, é uma coisa caricata, nada de beijo de amor’, continua. ‘ Mas levo isso na boa, me divirto.’


A atriz Suely Franco concorda, e diz que a idade do ator também influencia na quantidade de beijos que ele dá na TV. ‘Quando eu era mocinha, beijava mais. E olha que agora a turma beija por qualquer motivo’, fala a atriz, que viveu uma personagem que brincava justamente com isso. Mimosa de O Cravo e a Rosa passou a novela inteira tentando beijar Calixto (Pedro Paulo Rangel).


Mas os atores ainda têm de contar com a sorte. Longe dos vilões e dos atrapalhados, Luiz Guilherme voltou ao ar na Record (Amor e Intrigas) na pele de um personagem que não tem pinta de que vai desencalhar tão cedo.’Agora vivo um tímido que não quer namorar. Já não pareço o Gianecchini, se fico me fazendo de difícil na novela, não vou beijar nunca’, brinca o ator. ‘Mas quem sabe o autor muda de idéia e resolve me transformar em um romântico e beijador?’’   


 


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Ela ficou 38 anos sem beijar


‘Na fila dos BVs, os ‘bocas-virgens’ da telenovela, ninguém ganha de Lolita Rodrigues. Pioneira da TV ao lado de nomes como Hebe Carmago, Lima Duarte e Vida Alves, Lolita fez inúmeras novelas e teleteatros. Dona de lindos olhos verdes, era sempre a mocinha, claro. Mas tudo sem beijo. Exigência do então marido, o ciumento Airton Rodrigues.


‘Quando me escalavam para a novela era uma luta. Eu ia logo explicando para o diretor e para o autor que não podia ter cena de beijo. Se tivesse, eu não faria o papel’, conta Lolita. ‘O pior era ter de explicar para o meu par romântico na trama que não era nada pessoal.’


E o que ela fazia então na tão esperada hora do beijo? ‘Desmaiava, naquela época as mocinhas desmaiavam muito’, explica, rindo.


Foram 38 anos de uma boca casta. Em 88, Carlos Zara quebrou o ‘encanto’ e beijou Lolita no ar pela primeira vez. Foi em Sassaricando, ela tinha 58 anos e já estava separada de Airton. Vingança? ‘Não, a hora certa chegou’, garante ela.’


   


Alline Dauroiz


 Ele recheia o Garibaldo


‘Você pode até não conhecê-lo. Mas o artista plástico, ator e diretor Fernando Gomes faz parte da história da TV. E não apenas porque interpreta Garibaldo, da Vila Sésamo, o pássaro mais famoso do mundo.


Bonequeiro há 22 anos, ele criou, confeccionou e deu vida a muitos dos bonecos que encantam crianças desde os anos 80, como o Boninho, do Bambalalão; o X, do X-Tudo; o Júlio e toda a Turma do Cocoricó, programa que também dirige.


Fernando estima que, só para a TV, criou mais de 40 bonecos, tendo trabalhado desde o começo na Cultura, além de passar por Globo, Record e Bandeirantes.


Com tantos personagens na bagagem, parece frustrante não ser reconhecido pelo público. Ele garante que não. ‘No início da carreira tive um pouco de problema com isso e muitos amigos também entraram em crise. Depois percebi que gosto do que faço e faço muito bem. Hoje, ter uma identidade secreta é prazeroso.’


Muitas vezes, no entanto, quando esse ‘segredo’ é descoberto, Fernando passa por situações engraçadas. ‘Acontece de eu estar em uma loja e ter de ligar para o filho de alguém fazendo a voz do Júlio. Não deixa de ser um mico’, conta.


Para não decepcionar as crianças que o conhecem , o ator tem um truque: se apresenta como o amigo do personagem.


TESTES


Por todos os anos que está na Cultura, parece óbvio que seria de Fernando a missão de interpretar Garibaldo. Mas nem cotado ele estava para o papel.


Todos os manipuladores da emissora, além de atores de teatro de bonecos entraram na fila do teste. Quem escolheria o Big Bird brasileiro seria Kevin Clash, manipulador do Elmo americano.


‘Confesso que fui com uma ‘pegada’ mais parecida com a do Caroll Spinney (manipulador do Big Bird desde 1969). Ele fala de forma calma.’ E deu certo! O Garibaldo azul, de Laerte Morrone nos anos 70 era mais agitado e tinha a voz grave.


E dar vida ao pássaro amarelo não é fácil. Só a cabeça do Garibaldo pesa mais de 2 kg e é Fernando quem a sustenta ereto e com a mão direita levantada. Enquanto Laerte Morrone enxergava por um buraco na fantasia, Fernando vê o cenário por meio de um monitor preso ao corpo por um colete. Além do calor, é claro. Por isso, ensaia sem fantasia e a cada quadro gravado, fica vestido, em média, quatro minutos.


‘Para mim Garibaldo é uma entidade. Nem imaginava um dia interpretá-lo. O prazer que sinto fazendo compensa as dificuldades. É um sonho realizado.’’


 


Mário Viana


Mutantes temperados por Machado de Assis


‘Os sinais estão trocados na Record. Amor e Intrigas, a novela da estreante Gisele Joras e que vai ao ar às 21 horas, tem uma trama mais adulta do que a ‘novela das dez’, Caminhos do Coração, de Tiago Santiago. Tradicionalmente, quanto mais tarde começava uma novela, mais apimentada ela seria. Quem era criança não podia assistir e ponto final. Víamos escondido, é claro, e nos deliciávamos com produções clássicas como Assim na Terra como no Céu (1971), O Bofe (1973), Saramandaia (1976) e a melhor e mais ousada de todas, O Rebu (1975).


O modelo mudou. Vejamos o caso das duas produções da Record. Escrita por uma iniciante, Amor e Intrigas reúne um incrível número de truques dramatúrgicos: irmãs rivais, sendo uma boa como anjo e a outra, má como diabinha; filho à procura da mãe; ricaça malvada e núcleo de humor popular, etc.


Pode-se reclamar, mas novela é assim, brinca com os chavões e os ganchos folhetinescos e dá ao público variações do mesmo tema. O que diferencia uma novela da outra é o toque do autor principal, que monta as tramas e reúne um grupo de bons colaboradores, responsáveis pelos diálogos. Gilberto Braga e Aguinaldo Silva fazem isso. Gisele Joras começou bem. Os diálogos de sua novela têm boa fluência e não parecem cutucar a boca dos atores.


Já Tiago Santiago optou por brincar com os diálogos de história em quadrinhos e dos seriados. É uma aposta arriscada e, para muitos atores, deve ser um problemão falar aquelas barbaridades com carinha de coerência. Mas o ibope mostra que funciona, tanto que a novela cresce em audiência e em número de capítulos, prestigiada pelo público infanto-juvenil.


O autor de Caminhos do Coração já misturou Heroes com Lost, salpicou a telinha de mitologia grega e, agora, pelo visto, aproxima-se do conto O Alienista, que Machado de Assis escreveu em 1881. Nele, um médico de vilarejo radicaliza tanto em diagnosticar a loucura alheia que acaba internando a aldeia toda em seu hospício. É o que acontece na novela, que ganha novos mutantes a cada semana. Se Machado for imitado à risca, o fim da maquiavélica doutora Júlia (Ítala Nandi) será uivar para a lua, com os caninos salientes, enquanto a multidão de mutantes se beija, feliz para sempre.’


 


Etienne Jacintho


‘Tive uma queda por Criminal Minds’


‘Quando se fala em Joe Mantegna é impossível não recordar filmes de máfia como O Poderoso Chefão, sem contar a voz de Fat Tony em Os Simpsons. No cinema foi Bandini, personagem de Joe Fante, o comediante Dean Martin e até Fidel Castro. Agora, encarna um detetive especialista em perfis de criminosos na terceira e nova temporada da série Criminal Minds, que estréia dia 15, às 20 horas, no AXN.


Mantegna teve a dura missão de substituir Mandy Patinkin, que abandonou o elenco no dia em que as gravações iriam recomeçar. Quando os colegas ouviram o nome de Joe, respiraram aliviados, afinal, esse não é um ator qualquer. E a nova fase promete mais suspense na tela e mais tranqüilidade no set. Em uma conversa em Los Angeles, o ator falou ao Estado sobre sua chegada à série em meio ao turbilhão deixado por Patinkin.


Qual é a história de seu personagem em Criminal Minds?


É uma situação interessante, porque foi ele quem criou essa equipe com todo o cuidado e depois se aposentou. Ficou dez anos longe, foi para empresas privadas, ganhou dinheiro e agora está de volta a um mundo com computadores em um nível que não havia antes. Como um Frankenstein, ele criou um monstro e o abandonou – não que a equipe seja um monstro (risos)! Ele saiu quando era bebê e agora é um menino.


Você assistia a Criminal Minds antes de receber o convite?


Vi alguns episódios, como faço com séries de TV. Não sou muito de acompanhar, mas claro que, quando soube que iria me juntar ao elenco, fiz a lição de casa para me familiarizar com a série e seus personagens, para fazer pesquisas sobre o FBI e conversar com os roteiristas. Mas tive uma queda por Criminal Minds (risos)!


Por quê?


Estou muito fã e entendi porque a série faz sucesso, pois à medida em que assistia aos episódios, ficava mais intrigado. Gostei da história, do formato, dos personagens. Foi interessante e até educacional, pois a série mostra como lidar e reconhecer esses criminosos.


Por que aceitou o papel?


Há gente que tem essa profissão na vida real. Convivi com oficiais e militares toda minha vida, na minha família. Sempre dei apoio às pessoas que fazem esse trabalho ‘sujo’ – não estou falando de política; apóio quem está em campo, se expondo; as razões políticas são discutíveis. E pensei: ‘Vou interpretar esse personagem por uma hora e vou para casa.’ Há pessoas que vivem isso na real por 20, 30 anos. Vejo um ator com a mão cortada e é maquiagem. Eles não. Estamos imitando a vida e, se esses oficiais podem fazer isso de verdade, certamente posso agüentar o trabalho no set.’


 


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Patinkin teve uma relação dura com o tema pesado…


‘Não é difícil para mim separar-me dos meus personagens. E sei que vivemos neste gracioso planeta, mas há coisas horríveis à solta. Sou realista e não acho que somos sensacionalistas ao mostrar esse lado negro. O tema é pesado, mas os roteiristas escrevem as histórias de forma a mostrar que somos os últimos cavaleiros da távola redonda. Gosto dessa analogia. A série personifica esse mal do século 21, que são as pessoas que perseguimos como os serial killers, que por algum motivo ou doença cometem crimes. Nosso trabalho é descobrir por que eles têm esse comportamento e impedi-los. Estamos combatendo os dragões do século 21.


Como foi chegar ao set sob circunstâncias controversas?


Na verdade foi muito mais fácil do que você poderia imaginar. 50% desta equipe trabalhou comigo em Joan of Arcadia. Então, foi como voltar a uma antiga vizinhança.’    


 


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Sai Patinkin, entra Mantegna


‘Mandy Patinkin chegou ao set para o início da 3.ª temporada, foi buscar um café e nunca voltou. Dizem que ele estava infeliz, porque seu papel era muito pesado e a série, muito sombria. Joe Mantegna chegou para substitui-lo. E o elenco aprovou.


‘Adoro Mandy (Patinkin) em todos os aspectos, como ator e como amigo, mas estou amando Joe também. Acho que ele é uma boa soma à série, um cara divertido de ter como colega’ (Matthew Gray Gubler)


‘ Foi engraçado ter alguém novo no elenco, porque todos nos dávamos muito bem. Disse a Joe que temíamos que ele fosse um imbecil, mas ele não é (risos)! Ele é um doce de pessoa e se adaptou muito bem.’ (Paget Brewster)


‘Não poderíamos ter ninguém melhor que Joe. Ele é um cara muito bacana.’ (A.J. Cook)’


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Folha de S. Paulo


Domingo, 3 de fevereiro de 2008


 


POLÍTICA CULTURAL


Gilberto Gil e Paula Porta


Economia da cultura


‘O IBGE lançou, em parceria com o Ministério da Cultura, a segunda pesquisa de indicadores da economia da cultura. Os números são expressivos: as 320 mil empresas do setor geram 1,6 milhão de empregos formais e representam 5,7% das empresas do país. A cultura é o setor que melhor remunera -sua média salarial é 47% superior à nacional.


O fomento à economia da cultura é um dos eixos prioritários de ação do MinC. Criado em 2006, o nosso Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura trabalha em três frentes: informação, capacitação e promoção de negócios.


O Brasil tem evidente vocação para tornar a economia da cultura um vetor de desenvolvimento qualificado, em razão de nossa diversidade e alta capacidade criativa. Temos importantes diferenciais competitivos, como a excelência dos produtos, a disponibilidade de profissionais de alto nível e a facilidade de absorção de tecnologias. Temos um mercado interno forte, no qual a produção nacional tem ampla primazia sobre a estrangeira -a música e o conteúdo de TV são exemplos robustos, em que o predomínio chega a 80%. O prestígio do país está em alta, temos a oportunidade de ampliar mercados.


A economia da cultura, que envolve produção, circulação e consumo de produtos e serviços culturais, já responde por 7% do PIB mundial. Os produtos culturais são o principal item da pauta de exportações dos Estados Unidos e representam 8% do PIB da Inglaterra. O setor vem ganhando atenção.


Um de seus fortes ativos é a propriedade intelectual, mas segmentos dinâmicos, como festas e artesanato, não são baseados em patente ou direito autoral. O setor depende pouco de recursos esgotáveis e tem baixo impacto ambiental. Gera produtos com alto valor agregado e é altamente empregador. Seu desenvolvimento econômico vincula-se ao social pelo seu potencial inclusivo e pelo aprimoramento humano inerente à produção e à fruição de cultura.


A tecnologia digital criou novas formas de produzir, distribuir e consumir cultura e, com elas, surgem novos modelos de negócio e de competição por mercados, nos quais a capacidade criativa ganha peso em relação ao porte do capital.


O desenvolvimento da economia da cultura exige mecanismos diversificados de fomento, diferentes da política de fomento via leis de incentivo fiscal. É preciso formular ações integradas e contínuas que enfrentem os gargalos, sobretudo quanto à distribuição de produtos e espetáculos e à democratização do acesso ao rádio e à TV. Implantar uma estratégia para esse setor é um desafio imediato se quisermos aproveitar oportunidades geradas pelas novas tecnologias.


Esse desafio envolve Estado, entidades setoriais e iniciativa privada e requer: (1) implantar agenda para os segmentos dinâmicos; (2) aprofundar o conhecimento sobre eles, para subsidiar o planejamento das políticas públicas e das empresas; (3) capacitar empresas e produtores, sobretudo em gestão de propriedade intelectual; (4) identificar oportunidades de mercado; (5) ampliar a presença no mercado externo; (6) dinamizar o tripé distribuição-circulação-divulgação e, (7) enfrentar a necessidade de regulação e atualização na legislação.


Em 2007, realizamos as primeiras ações diretas de promoção de negócios, como a Feira Música Brasil, a elaboração do programa do artesanato de tradição cultural e o apoio à exportação do audiovisual.


Firmamos parcerias para incluir o setor no escopo de ação dos órgãos de fomento e pesquisa. Com o BNDES, linhas especiais de crédito e inclusão de fornecedores da cultura no cartão BNDES. Com o BNB e o Basa, linhas de microcrédito com mudanças nas garantias. Com o IBGE, coleta de informações e construção de indicadores, que deve culminar no PIB da cultura. Com o Sebrae, formulamos seu programa para o setor. Com o Ipea, contratamos estudos. Banco do Brasil e Caixa estudam produtos específicos. Com o BID, parceria para pesquisas de cadeia produtiva.


Ainda é preciso evoluir muito nas ações de fomento e na capacidade de formulação e planejamento por parte dos realizadores e das organizações do setor, superando a lógica de projetos pontuais.


A diversa e sofisticada produção cultural brasileira, além de sua relevância simbólica e social, deve ser entendida como um dos grandes ativos econômicos do país, capaz de gerar desenvolvimento.


Realizar esse potencial significa produzir riqueza e inclusão social, além da inserção qualificada do país no cenário internacional.


GILBERTO PASSOS GIL MOREIRA , o Gilberto Gil, 65, músico, é o ministro da Cultura. PAULA PORTA , historiadora, doutora pela USP, é assessora especial do ministro da Cultura e e coordenadora do Prodec (Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura’


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


‘Caminhos’, a novela dos mutantes, terá dinossauro


‘A novela ‘Caminhos do Coração’, da Record, está cada vez mais inacreditável. Os inofensivos mutantes do começo cederam espaço a um ‘freak show’ de lobisomens, vampiros e novos mutantes, todos do mal. Quando se pensava que a fábrica de seres surreais de Tiago Santiago ficaria repetitiva, eis que o autor surpreende: sua novela terá, em breve, um dinossauro e um sapo gigante.


Assim como os lobisomens e o batráquio, o primeiro dinossauro da teledramaturgia nacional será produzido em computação gráfica, em uma parafernália chamada Inferno.


‘O dinossauro será um velociraptor, um carnívoro bípede do período cretáceo’, conta Santiago. ‘Será mais uma experiência genética da doutora Júlia [Ítala Nandi, que também criou os mutantes]. Ela conseguiu o código genético do dinossauro e o reproduziu na ilha onde estão os mutantes. Ele vai atacar as pessoas da ilha. Qualquer semelhança com [o filme] ‘Jurassic Park’ [1993] não será mera coincidência’, brinca.


O sapo gigante, que deve aparecer na novela no meio desta semana, também irá atacar a população da exótica ilha. Igualmente cria da maluca doutora Júlia, o monstrengo tem um veneno letal na língua.


‘Caminhos do Coração’ tem esse nome, digamos, excêntrico, porque poderia enveredar para uma história romântica. Mas os mutantes emplacaram e mudaram o mapa.


A VOLTA DA EX-PAQUITA


Ex-paquita, Monique Alfradique, 21, ganhou seu primeiro papel de destaque há três anos, em ‘A Lua Me Disse’. Neste mês, ela retorna à faixa das 19h da Globo, em ‘Beleza Pura’, no ar a partir do dia 18. Para viver Fernanda, identificada na sinopse da autora Andrea Maltarolli como moderna, Monique clareou os cabelos e ganhou uma franja da moda. Fernanda irá rivalizar com Luiza (Bianca Comparato). Ela acha a colega de escola um bicho-do-mato, mas terá que disputar com ela o mesmo garoto, Klaus (Rafael Cardoso).


SUPERCHIC


Promessa de se tornar uma nova ‘Sex and the City’, a série ‘Lipstick Jungle’, a estrear nesta sexta na NBC, terá um toque brasileiro. São do estilista Carlos Miele (M.Officer) vestidos do figurino de Brooke Shields, uma das protagonistas.


MULHER ATUAL


A jornalista, radialista, humorista, blogueira e mestra em física nuclear Rosana Hermann, 50, foi nos últimos três anos uma das cabeças por trás do ‘Pânico’. Estava feliz, mas um convite da Band a abalou. ‘O que pesou foi a possibilidade de voltar ao ar. Eu adoro apresentar’, diz, negando que seja uma ‘Robert’ (pessoa que faz de tudo para aparecer). A partir de 3 de março, Rosana apresentará e será editora-chefe do vespertino ‘Atualíssima’. ‘Eu também sei desbloquear iPhone, faço tricô e crochê e cozinho muito bem’, brinca.


BELDADES


Depois de uma ponta em ‘Paraíso Tropical’, Deborah Secco volta às novelas das oito em ‘Juízo Final’. A atriz foi confirmada na semana passada no elenco da substituta de ‘Duas Caras’, ao lado de Juliana Paes e Mariana Ximenes.


Pergunta indiscreta


FOLHA – A sua relação com Patrícia Poeta é melhor do que com Glória Maria, com quem você não falava?


RENATA CERIBELLI (repórter e apresentadora eventual do ‘Fantástico’) – A minha relação com a Patrícia Poeta é ótima. Não havia relação com a Glória. Adoro a Patrícia, dou o maior apoio. [Patrícia] foi uma ótima escolha para o programa. Nunca me foi dito [que seria a substituta da Glória]. E a Patrícia já revezava comigo na apresentação do ‘Fantástico’. Ela começou a apresentar o programa em Nova York.’


 


Marco Aurélio Canônico


Uma câmera na mão e um monstro na cabeça


‘É o filme de monstro da geração YouTube. É uma catarse diretamente ligada aos sentimentos do 11 de Setembro. É ‘Godzilla’ filmado ao estilo de ‘A Bruxa de Blair’.


É ‘Cloverfield – Monstro’, o blockbuster produzido por J.J. Abrams (de ‘Lost’) que chega aos cinemas nacionais na próxima sexta, depois de estabelecer o recorde de bilheteria de janeiro nos EUA (US$ 41 milhões no primeiro fim de semana, para um custo de US$ 30 milhões, fora o marketing).


É também o mais bem-sucedido caso de propaganda viral já visto na web, uma campanha cheia de mistérios e desdobramentos que deixou os blogs em polvorosa desde que os primeiros sinais do filme surgiram, na forma de um trailer pouco elucidativo, divulgado na estréia do filme ‘Transformers’, em julho.


‘A idéia era fazer material complementar que parecesse real, como se fosse criado por outras pessoas, porque no filme a informação é limitada pelo ponto de vista restrito’, diz Matt Reeves, diretor do filme, à Folha, por telefone.


‘Nossa história pretendia recriar as sensações das pessoas ao passar por um evento desses, do ponto de vista restrito que elas têm, sem informação. Os outros pedaços do quebra-cabeça foram espalhados como uma rede de informações, formando uma metahistória.’


Ponto de vista ‘real’


Como em ‘A Bruxa de Blair’ (1999), o que se vê é uma história contada em retrospecto, a partir do material de uma câmera de vídeo resgatada pelos militares após o desastre.


Na gravação que está na câmera, o espectador é apresentado a Rob Hawkins, um jovem que está de partida para um emprego no Japão e que ganha uma festa de despedida secreta.


As imagens da festa vão sendo registradas por Hud, um amigo de Rob, e é do ponto de vista dele que o espectador acompanha os incidentes que se sucedem a partir de uma série de explosões à distância.


Os jovens saem à rua sem muita noção do que está acontecendo, até que a cabeça da Estátua da Liberdade chega voando, arrancada por algo não identificado, mas que faz grunhidos apavorantes.


Daí em diante, estabelecem-se o caos e a correria, e o público vai a reboque da câmera amadora conduzida por Hud (em várias ocasiões literalmente, já que o ator T.J. Miller empunhou o equipamento).


‘Assisti a muitos vídeos do YouTube para ver como as pessoas gravam suas vidas. Tanto do que acontece hoje é colocado na internet porque é o modo como a nova geração processa o mundo, e o estilo do filme é baseado nisso’, diz Reeves.


Mas fazer um filme profissional parecer algo amador não é tão simples quanto parece.


‘O desafio foi que eu queria que a filmagem parecesse acidental, mas que tivesse uma narrativa cinematográfica, e precisava juntar isso de modo sutil. A maioria das cenas teve mais de 40 tomadas, porque era uma busca pela tomada certa, que parecesse acidental.’


O resultado ficou tão realista e frenético que alguns espectadores sentiram-se mal, nos EUA, com tonturas e enjôos.


‘Está vivo!’


Para somar ao realismo desejado, um elenco de desconhecidos era ‘crucial’, diz o diretor.


‘A idéia era fazer um filme que parecesse uma filmagem caseira que o próprio público pudesse ter feito, então colocar Will Smith quebraria a ilusão.’


Diferentemente de ‘A Bruxa de Blair’, que não mostra seu personagem-título, ‘Cloverfield’ nunca considerou ficar apenas no suspense.


‘A graça desse filme é que, depois de usar um estilo realista e gerar toda a expectativa, que é uma referência aos climas de ‘Alien’ e ‘Tubarão’, nós mostramos o monstro.’


De fato, o bicho aparece -e é difícil dizer qualquer coisa sobre ele, além de que é bem alto (tem mais de 105 metros, segundo o diretor, ultrapassando a altura dos prédios, na tela) e de que não, não se parece em nada com o Godzilla.


‘É um bebê, recém-nascido. Ele está confuso, desorientado e irritável. E estava submerso nas águas há milhares e milhares de anos’, diz o produtor Abrams nas notas da produção.


Pesadelo coletivo


Ver Nova York sob ataque, com prédios caindo, poeira subindo e gente correndo, remete imediatamente ao 11/9/2001.


‘Assim como o ‘Godzilla’ original era uma metáfora para a ansiedade daquela era nuclear, e isso era parte de sua atração, queríamos criar nosso monstro americano remetendo ao pesadelo coletivo que tivemos, e suas raízes estão definitivamente no 11/9’, diz Reeves.


A crítica estrangeira não foi unânime em sua análise do filme -e pelo menos parte do público parece ter concordado com os detratores do longa, porque ele sofreu um espetacular tombo de 68% nas bilheterias em seu segundo fim de semana nos EUA.’


 


Lucas Neves


Comédia ‘The Office’ finalmente chega à TV aberta


‘É Carnaval, mas o gerente regional da distribuidora de papel Dunder Mifflin, Michael Scott (Steve Carell), e seus subordinados na série cômica ‘The Office’ não querem saber de botar o bloco na rua. Ao contrário: a turma dá expediente na Record a partir desta terça, em plena folia momesca.


Adaptação do programa inglês homônimo, o seriado norte-americano narra o cotidiano de um escritório em que as jornadas de trabalho não passam imunes às excentricidades do chefe. Seus comentários sobre o desempenho da equipe e explanações acerca das ‘metas de produtividade’ sempre roçam no sexismo ou na canalhice.


Ao lado de Michael estão o bajulador nerd Dwight (o ótimo Rainn Wilson), o ‘joão-sem-braço’ Jim (John Krasinski) e a secretária Pam (Jenna Fischer), entre outros. Na história, as dependências da Dunder Mifflin recebem a visita de documentaristas que pretendem registrar o dia-a-dia corporativo; por isso, os personagens a toda hora gesticulam ou se dirigem à câmera. Não há claque ou platéia (como em ‘Friends’) nem um ritmo cadenciado de piadas. Desde a sua estréia nos EUA, em março de 2005, ‘The Office’ teve boa acolhida da crítica.


Já o público levou mais tempo para se familiarizar com a egolatria de Michael. A comédia, hoje em sua quarta temporada, é vista semanalmente por cerca de 8,5 milhões de pessoas -o que, se não a coloca no patamar de títulos como ‘Two and a Half Men’, é o suficiente para lhe dar estabilidade na programação da rede NBC.


Em novembro de 2007, as gravações da nova safra foram interrompidas por causa da greve dos roteiristas de Hollywood. Oito episódios (de uma encomenda de 25) foram produzidos antes da paralisação.


Em 2006, a série recebeu o Emmy de melhor comédia. Há uma semana, o elenco foi agraciado com o prêmio do sindicato dos atores. O currículo de ‘The Office’ também tem indicações ao Globo de Ouro.’


 


Bia Abramo


Pérolas, porcos e patetas


‘‘GRAÇAS A Deus, nunca fui de ler livro.’ A frase, definitiva, é de uma das ilustres celebridades criadas no laboratório do ‘BBB’, um tal de Fernando. É má política ficar indignado com aquilo que já sabemos não ser digno de atenção, mas, ainda assim, por vezes a estupidez dá tais sustos na gente que é difícil ficar impassível.


Neste caso, o mais intrigante não é, evidentemente, o fato de o moço não ser de ‘ler livros’. A cultura escrita não goza lá de muito prestígio entre nós, brasileiros, falando de maneira bem genérica. Se consideramos o microcosmo do ‘BBB’ -gente jovem, considerada bonita, com pendores exibicionistas, ambição de se tornar celebridade e propensa a ganhar dinheiro fácil-, o índice deve tender a quase zero.


O mais revelador é o alívio com que ele se expressa, como a dizer: ‘Graças a Deus não fui amaldiçoado com essa estranhíssima vontade, esse gosto bizarro, esse defeito de caráter’. Qual é, exatamente, a ameaça que se pensa haver nos livros, ficamos sem saber, mas o temor de pertencer ao esquisito grupo daqueles que ‘são de ler livro’ fala por si só.


Por outro lado, é nesses momentos de espontaneidade real que o ‘BBB’ tem algum interesse. Embora aqueles que chegaram ao programa não sejam, a rigor, representativos de nada, nessas brechas escapa o que vai na cabeça dessas moças e rapazes, de certa forma parecidos com os que estão do lado de fora.


O desprestígio do conhecimento letrado é marca funda da sociedade brasileira -e quando é formulado com tanta veemência e clareza, é preciso prestar atenção.


Enquanto isso, na universidade de Aguinaldo Silva, o pau come. Na novela ‘Duas Caras’, a instituição de ensino é palco de uma luta renhida entre aqueles que ‘querem estudar’ -para vencer na vida, não mais do que isso; estudar aqui tem um valor de troca muito claro- e o bando de baderneiros e oportunistas, identificados como ‘de esquerda’, que querem tumultuar o projeto ‘eficiente’ do reitor, um ex-militante convertido ao ensino privado.


Todos estudam lá -as mulatas sestrosas da favela, as patricinhas do condomínio, a mulher adulta que volta à sala de aula. Só não se sabe, ao certo, o que se estuda -embora haja gente empunhando livros e cadernos, não há uma indicação sequer (nem nos diálogos, nem nas trajetórias dos personagens) de que, em uma universidade, ao contrário dos shoppings do ensino, deva se produzir conhecimento e que o conhecimento de verdade é transformador. Justamente o que deve temer o ‘brother’ Fernando.’