A televisão é, sem dúvidas, o meio de comunicação de maior repercussão na sociedade brasileira. Surgida na década de 1950, foi responsável por minar a hegemonia radiofônica e, hoje, é identificada por seu caráter popular. Sua programação é voltada para satisfazer o gosto da grande massa; por isso, seguindo dados de pesquisa de audiência, são privilegiados programas de entretenimento – telenovelas, filmes comerciais e programas de auditório – em detrimento de formatos que sigam uma linha informativa e cultural – noticiários, documentários e programas de entrevista.
Por esse raciocínio, é fácil notar o reduzido espaço destinado aos telejornais. Apesar de estes serem a fonte principal, senão a única, de informação de milhões de brasileiros, os noticiários têm pecado pela falta de variedade dos assuntos abordados e pela superficialidade de suas matérias. Generalizando a questão, o que se constata é um grande desinteresse das emissoras em investir nessa área.
Não se vê matérias que busquem aspectos variados de um mesmo fato e o cubram por inteiro. Quando assim o fazem, chamam o que deveria ser uma matéria corriqueira bem apurada de matéria especial. Além disso, as redações têm sofrido um processo de enxugamento, o que gera uma concentração de trabalho ainda maior para cada jornalista. Toda essa falta de estrutura tem contribuído para a queda do aspecto qualitativo das edições.
Tomando por base a televisão aberta, os jornais de horário nobre – entendendo-se que há uma maior preocupação com as suas produções – não fogem a essas características negativas. Tanto o líder de audiência Jornal Nacional como o seu concorrente Jornal da Record exemplificam as questões levantadas aqui.
Opinião particular
Com uma linha editorial menos crítica, o Jornal Nacional tenta manter o mito do jornalismo imparcial. Por meio de editorias com espaços bem definidos e de um padrão nacional de linguagem, este noticiário pretende distanciar os espectadores dos emissores. Tanto os apresentadores como os repórteres assumem uma postura séria, a qual se acredita ser fundamental para se transmitir credibilidade. Desse modo, o jornalismo opinativo desse meio fica limitado a quadros como o de charges e a um espaço assinado por um comentarista, cuja presença não é regular.
Ainda assim, pode-se perceber as estratégias de mercado, infiltradas em seu conteúdo, para atrair audiência. Sabendo-se do reduzido horário disponível na grade de programação, entram na edição final do Jornal Nacional matérias como casamentos de celebridades ou séries especiais com temas comerciais ou, ainda, matérias como o acompanhamento de alpinistas brasileiros ao Monte Everest – este último caso caberia melhor em um noticiário esportivo.
O grande diferencial do jornalismo global se encontra, sobretudo, na qualidade de captação e edição de imagens, estando à frente das outras emissoras em estrutura técnica. Também está à frente em estrutura internacional, mantendo nos principais centros mundiais correspondentes fixos e uma sede de transmissão.
O Jornal da Record, por sua vez, segue pelo caminho contrário do seu concorrente direto. Aposta na quebra de barreiras entre emissor e receptor utilizando, para tanto, recursos lingüísticos e de edição. A linguagem usada por esse veículo é certamente mais popular, criando, muitas vezes, a impressão de diálogo entre o jornalista e o espectador, além de pretender levá-lo para dentro da matéria. Vocabulários como ‘desgraça’, ‘injuriado’ e ‘bravo’, além de discursos diretos e irônicos como: ‘Uma dica, Senhor Ministro: quando for visitar a cidade X vá de avião, porque de carro não dá!’, referindo-se à qualidade das estradas brasileiras, jamais passariam pela edição do Jornal Nacional. Ainda com esse objetivo, os editores também recorrem a trilhas sonoras a fim de dar uma carga emotiva às reportagens.
Uma característica peculiar desse jornal é a maneira como o âncora, Boris Casoy, conduz a apresentação das notícias. Fazendo comentários ao final de cada matéria, ele imprime ao noticiário um caráter opinativo bastante crítico e irônico. Todavia, não se deve esquecer que suas intervenções demonstram suas opiniões particulares e não representam, de forma alguma, conclusões de análises de especialistas.
Máquinas desligadas
É verdade que o primo pobre do jornal global não dispõe dos seus recursos técnicos e da sua estrutura internacional. Também não dá muita importância à editoria esportiva. Reserva, porém, um outro diferencial. São muito interessantes e bem-feitas as matérias da editoria cultural, as quais reportam estréias de peças e filmes, além de exposições de arte. Igualmente interessante é o espaço destinado a entrevistas de estúdio em formato de bate-papo com figuras importantes do cenário brasileiro, como o ministro Celso Amorim.
Por fim, ambos os telejornais apresentam uma seleção de notícias bastante semelhante, ou seja, convergem no que concerne ao eixo central dos noticiários. O que se alteram são as notícias secundárias e as seções especiais. Também se assemelham os cenários, que acompanham a tendência mundial de mostrar a redação trabalhando, ao fundo. Nesse aspecto, o Jornal da Record denuncia sua fragilidade frente ao Jornal Nacional. Enquanto a redação da Rede Globo está a todo vapor, em sua redação os jornalistas estão desligando os seus computadores e se preparando para ir para suas casas.
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Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo