Ao remexer papéis antigos, encontrei uma pauta de fim de ano. A pauta é de 2000, quando o mundo dobrava o milênio. Mas parece que foi feita ontem. Segue como sugestão e ajuda aos queridos companheiros que vão dar plantão nesses dias de festas. Como não me lembro do autor (e com certeza ele também não irá se lembrar do que escreveu, pois provavelmente copiou o texto ou o adaptou a partir do que foi feito no ano anterior), é só mandar um Ctrl C – Ctrol V e tamos conversados. Afinal, como já dizia Abelardo Barbosa: na televisão nada se cria, tudo se copia. Então, toca a copiar (ninguém nota mesmo). Boas Festas a todos!
Pauta para o Natal e o Ano Novo
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Preparativos para o Natal. Vamos dar uma passada nos shoppings para conferir a decoração. Deixamos uma equipe de plantão para gravar imagens das luzes da decoração oficial da cidade, no dia em que o prefeito for acender. Aquilo sempre rende, é bonito. Com uma música natalina, fica ótimo, dá um belo sobe-som, e se quiser pode esticar à vontade, até fechar o tempo do telejornal (ninguém nota que a gente faz aquilo quando as matérias estão fracas ou quando simplesmente os fatos se recusam a acontecer). Aproveitamos a ida aos shoppings para verificar como andam as vendas. A correria. O vuco-vuco nas lojas de brinquedos. Mas vamos usar a criatividade, pra diferenciar das matérias dos outros anos;**
O Natal dos solitários. Faremos uma matéria humana, mostrando como será o Natal dos velhinhos do asilo. Registramos o trabalho dos voluntários. Finalizamos perguntando qual seria o melhor presente que gostariam de ganhar. Uma coisa bem original, pra sair da mesmice de todo ano;**
A profissão de Papai Noel. Vamos conhecer a vida do Papai Noel Francisco de Oliveira, aquele mecânico que todo ano se veste de Papai Noel para garantir um extra e alegrar as crianças. Matéria gostosa, comovente. Vamos perguntar a ele, se fosse Papai Noel de verdade, que presente gostaria de dar. Mas, cuidado pra não repetir o que já se fez. Vamos tentar ser originais, quem sabe pedindo pra mulher do Francisco também se vestir de Papai Noel e assim deixar o telespectador na dúvida sobre quem é o verdadeiro. Vai ficar bárbaro;**
O Natal dos atrasadinhos. Muita gente deixa para comprar presente na última hora. Vamos dar dicas de como conseguir um presente criativo depois que todas as lojas fecharem. Padarias sempre podem ser uma saída. Todas vendem bebidas, panetones. E dá pra montar uma bela cesta com pães, bolos, geléias, essas coisas. Mas o repórter tem de usar a criatividade, senão cai na repetição;**
O lado religioso da festa. Faremos nota com a programação das igrejas. Se der, faremos imagens. Mas nada muito grande, só um registro. Aproveitamos pra realçar o excesso de mercantilização da festa natalina. No final, uma sonora do bispo ficaria bem, chamando os cristãos ao verdadeiro espírito natalino. Ninguém faz isso;**
A Ceia de Natal. Uma repórter entrevista um bom chefe de cozinha e monta junto com ele a receita para uma boa ceia. Vamos puxar para os produtos regionais, já que a maioria da nossa população não tem recursos para comprar castanhas importadas. Um Natal tropical, com muitas frutas, castanha-do-pará etc. É outra pauta criativa. Dessa forma, saimos do ramerrão de sempre. O telespectador já não aguenta aquelas pautas de fim de ano. Parecem xerox umas das outras, não é?**
Na noite de Natal, vamos deixar uma equipe de plantão na casa de uma família pobre. Levaremos uma pequena ceia e os presentes que os meninos pediram na carta a Papai Noel (escolheremos uma das cartas que pedimos no telejornal da semana passada que nos fossem enviadas com a promessa de que faríamos chegar às mãos do bom velhinho). Só isso já garante uma matéria para o jornal do dia 25, que nunca tem nada de interessante, como sempre. Obs: Vamos evitar a expressão ‘bom velhinho’;**
Atenção para as delegacias, detran, pronto-socorros e hospitais. Com sorte, sempre pinta um acidente bom para abrir o telejornal. Vamos realçar o contraste entre a selvageria dos que se excedem na bebida e na velocidade ao clima de paz que o Natal desperta. Aposto que essa matéria será nosso diferencial. Se for bem feita, bem criativa, é claro;**
A saída da cidade. O Natal dos que vão pegar a estrada.. A fiscalização da Polícia Rodoviária. A expectativa de pessoas que estão indo passar o Natal com suas famílias em outros estados. Não esquecer de finalizar com os conselhos aos motoristas para não se excederem na bebida e na velocidade. É uma pauta meio óbvia, como vêem, mas é serviço. Tem de dar, todo ano tem de dar;**
A chegada do Ano Novo. As previsões dos videntes, tarólogos, pais de santos e bruxos. O significado do número 2.000 para os numerólogos. Vamos aproveitar para ver como está a venda de roupas brancas para a o reveillon. Mostramos a decoração dos principais clubes. Atenção, cinegrafistas: vamos procurar ângulos inusitados, pra variar um pouco. Levar gelatinas vermelhas. Dão efeitos ótimos quando filmamos videntes (de baixo pra cima);**
Os preparativos para o reveillon em contraste com os que correm da festa e preferem aguardar o ano novo numa fazenda ou chácara (ver a agenda do ano passado: os nomes são os mesmos, é só dar uma atualizada e mandar ver). Mas sempre deixando correr a criatividade, para não sermos repetitivos;**
Ouvimos alguém do Detran para dar conselhos sobre excesso de álcool, excesso de velocidade, aquela coisa que a gente está cansado de saber mas é sempre bom repetir. Aproveitamos para confirmar quantas pessoas começam a chegar à cidade a partir do dia 1º Sem esquecer da criatividade etc;**
Este ano, vamos encerrar o telejornal de uma forma diferente. Vamos sair com a câmera andando pela redação e aí todo mundo vai desejando Feliz Ano Novo. Aproveitamos para mostrar aquelas pessoas que nunca aparecem porque sempre estão atrás das câmeras, o editor, o motorista, o motoqueiro etc. Já vi isso em algum lugar, mas se tivermos criatividade etc, quem sabe conseguimos fazer uma coisa diferente, né?**
Não esquecer de mandar uma equipe acompanhar as oferendas a Iemanjá, os fogos à meia-noite e a primeira criança nascida no Ano Novo. Mas vamos usar a criatividade, a palavra-chave, gente, é cri-a-ti-vi-da-de. Talvez seja o caso, sei lá, de convencer o pai a roubar a criança (vai que ele topa, né?) por alguns instantes para levá-la até a beira d’água para colocá-la num daqueles barquinhos e oferecê-la à Rainha do Mar (vamos evitar a expressão ‘Rainha do Mar’, é um lugar-comum horrível);**
Acho que é isso. Se alguém tiver outra sugestão, favor pregar no quadro de avisos da redação. O pauteiro está de recesso. Só volta dia 3. Para os amigos que vão ralar nestes plantões, um Bom Natal e um Próspero Ano Novo!******
Professor, jornalista e pesquisador em Comunicação