“‘O jornalismo regional é uma tendência que vem crescendo’ Dárcio Arruda, jornalista.
‘É mais fácil ler notícia do New York Times do que saber o que acontece no Interior do Ceará’. O desabafo do leitor Manoel Bitu é bem irônico, exagerado até diante do novo suplemento do O POVO. Mas trata de uma realidade latente do jornal: a dificuldade na cobertura do interior cearense. Um quadro que acaba refletindo na qualidade – e quantidade – das informações, apesar do esforço dos jornalistas na apuração e checagem das pautas diárias publicadas na editoria Ceará, que geralmente tem apenas uma página contra um caderno do concorrente.
Segundo a editora executiva do núcleo Cotidiano, Tânia Alves, o jornal não possui correspondentes no Interior. ‘Fazemos nossas matérias a partir de colaboradores e de nossos repórteres na Redação. Quando necessário, uma equipe é enviada ao Interior’ explicou ela. Nesse trabalho diário a ajuda do telefone e do e-mail tem sido imprescindível. A questão é que só com o repórter no local é possível transmitir a informação próxima da realidade.
Foi o caso da cobertura dos recentes casos de gripe suína em Pedra Branca, a 262 km de Fortaleza. O POVO só chegou à cidade segunda-feira (28), um dia após o concorrente. Só na edição de terça-feira saiu a primeira imagem da população e o noticiário ganhou força ao repassar a tensão dos moradores. Cenas que, por telefone, é impossível captar. Para a editora nenhuma informação relevante deixou de ser publicada. A chefia de Redação afirma estar sensível ao problema e que está estudando estratégias para melhorar cobertura.
Câmera lenta
Uma das ferramentas que diferencia O POVO e mostra a disposição de transparência é a seção Erramos. Boa ou má é uma forma do jornal reconhecer as constantes falhas. O bom senso diz que é preciso certa agilidade na correção. Fato que nem sempre é observado. Para se ter ideia da demora vamos a alguns exemplos: no dia 26 de setembro, nas Páginas Azuis, o jornal errou a idade do Procurador da República, Roberto Gurgel. A correção foi publicada somente dia 26 de novembro. Exatos dois meses depois. Outro. A editoria Economia citou em matéria, dia 5 de novembro, que a média de turistas brasileiros que visitavam o Ceará anualmente era de 80 milhões. Um absurdo visível. A correção – 2,5 milhões – saiu só dia 22.
Os casos se repetem em outras editorias. Esportes corrigiu na última quinta erro cometido dia 21 de novembro quando chamou o ex-governador Parsifal Barroso de Pascoal Barroso. Pelo menos uma vez por semana o ombudsman envia aos editores uma relação para atualização dos Erramos e a cada quatro meses é publicado balanço aos leitores das correções feitas. A chefia foi questionada sobre a demora e pediu desculpas aos leitores. Prometeu mudar procedimentos de cobrança para diminuir prazos.
Fator local
A proximidade é um dos fatores importantes da notícia. Tal procedimento básico do jornalismo é esquecido pelo O POVO. Na última quinta-feira, por exemplo, a editoria Brasil deu manchete para a queda do número de mortes violentas no País. Os dados constam de pesquisa divulgada pelo IBGE e mereciam até maior destaque. A matéria – oriunda de agências de notícias – mostrou os dados do Brasil e de cada região. E parou por ai. Ora, e no Ceará? O que dizem os números? Apesar dos dados estarem disponíveis e revelarem aumento de mortes no estado, o texto não abordou a questão.
Situação semelhante foi verificada na editoria Tendências, na mesma edição. Outra pesquisa do IBGE apurou que o número de divórcios no Brasil e no Ceará cresceu. Até que a matéria teve maior profundidade e personagem local. Porém, esqueceu os dados de Fortaleza, também disponíveis, e que apontavam outra direção: o fortalezense está se divorciando menos. Diante dessas informações – abordadas pelo concorrente – qual interessaria mais ao leitor? Fácil: Saber por que o quadro local é tão diferente do resto do Brasil. É uma questão de hierarquia da notícia. Quanto mais próxima do leitor, maior interesse gera. Bastava mudar a angulação de textos enviados por agências e procurar aquilo que interessa em caráter regional.
ESQUECIDO PELA MÍDIA: Projeto de implantação de taxímetro nos mototáxis de Fortaleza
FOMOS BEM
EDUCAÇÃO Série sobre irregularidades no transporte escolar no Interior
FOMOS MAL
ADOLESCENTES Jornal não deu uma única linha sobre relatório do Unicef que mostra aumento na taxa de homicídios de adolescentes no Ceará”