“A Folha comemorou na quarta-feira recorde de audiência de seu site, que teve 19,2 milhões de visitantes em março, boa parte deles interessada em celebridades e em esportes.
Foi de olho nessa clientela que o jornal criou no ano passado o ‘F5’, site de fofocas e fofices. Se conseguiu alavancar a audiência, a Folha.com precisa agora melhorar a qualidade dos seus textos.
‘Contratem urgentemente um revisor. Há muitos erros de português e economizam tanto espaço nas matérias que falta letra para explicar, não há clareza’, reclama o comerciante Marcos Marcussi, 58.
A ‘falta de letra’ é a contextualização. Embora tenha espaço de sobra, já que não há a restrição física do papel, a Folha.com não costuma se preocupar em explicar bem os fatos, não dá um histórico mínimo nem compara números.
Na semana que passou, um terremoto foi noticiado assim: ‘Um forte tremor voltou a abalar hoje a capital do México e provocou alarme na população. Segundo informou o Serviço Geológico dos EUA, o terremoto foi de magnitude 6,3’. Isso é muito ou pouco? O texto não diz.
Na cobertura do velório de Millôr Fernandes, a atriz Marília Pêra lembrou da força que recebeu do escritor. O texto dizia: ‘‘Ele me apoiou publicamente quando não era politicamente correto me apoiar’, lembrou a atriz, sem explicar do que se tratava’. Se ela não quis dizer, o repórter deveria ter informado que era uma referência à época em que enfrentou fortes críticas por apoiar Collor para presidente (1989).
Mesmo considerando que a produção frenética do on-line não permite burilar textos, não dá para entender como reportagens que beiram o nonsense ficam horas na rede. Mereceria um prêmio quem entendeu esse texto de 28 de março: ‘As ações europeias caíram nesta quarta-feira, atingindo a mínima de fechamento em três semanas, com três dos principais índices caindo próximos aos níveis de suporte, enviando um sinal de baixa para o mercado, com dados fracos dos EUA atingindo confiança do investidor’.
Dificilmente um texto é impresso na Folha sem ao menos uma segunda leitura. Na Folha.com, basta escrever e apertar a tecla ‘publicar’.
‘Há controle prévio para assuntos que envolvam ataques ou acusações. Mas a postagem instantânea ocorre com frequência, em nome da agilidade que o meio exige. Agilidade que permite, também, que fragilidades ou erros de forma e apuração sejam corrigidos rapidamente e com transparência’, afirma a Secretaria de Redação.
Não daria para reproduzir o modelo do impresso na rede porque seria necessária uma Redação gigantesca. Mas seria possível apostar na seletividade, em diminuir a quantidade de posts e trabalhá-los melhor. A Folha.com publica 500 notícias/dia, várias delas sujeitas a muitas atualizações.
É verdade que reina na internet um frenesi constante por novidade, mas, como dizia Caetano Veloso naquela música de 1967, quando só havia bancas de revistas no mundo, quem lê tanta notícia?
Desce fácil
A notícia de que o tradicional Bar Léo foi fechado por vender um chope mais barato como se fosse Brahma deixa os roteiros de lazer da cidade em maus lençóis.
Na ‘revista sãopaulo’, o Bar Léo foi escolhido por um júri de convidados da Folha como o melhor chope da cidade, em junho de 2011: ‘Chope com colarinho perfeito e temperatura correta, tirado com esmero e rapidez’.
O texto atual do ‘Guia da Folha’ sugere que ‘vale até ficar de pé’ para tomar ‘um dos chopes mais bem tirados da cidade’. Na ‘Veja São Paulo’, o chope é ‘de incrível leveza, que desce fácil, fácil’.
Segundo a polícia, a fraude acontecia há mais de um ano e foram encontrados também alimentos vencidos no local. A responsável pelo bar disse que o ‘problema’ tem dois meses.
Fica a dúvida: será que os locais que compõem os roteiros estão sendo revisitados com frequência ou estão recebendo elogios com base em glórias do passado?”