Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Suzana Singer

Uma onda de reclamações se seguiu ao anúncio de que a Folha passa a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital. Muita indignação (“Cobrar vai contra o espírito livre da internet”), ironia (“Fui…”), crítica (“Do jeito que anda o site, vai ser difícil gastar as 20 clicadas”) e até tiradas românticas (“Vou sentir falta desse espaço, uma pena terminar assim, sem nenhum afago”) foram usadas pelos leitores que ameaçam se divorciar da Folha na web.

Desde quinta-feira, o acesso digital é contado. Quem passar de 20 textos por mês será convidado a fazer um cadastro. Se chegar a 40 links, terá que pagar (R$ 1,90 no primeiro mês, R$ 29,90 nos seguintes).

É o tal “paywall”, muro de cobrança poroso, em que se restringe o acesso, mas sem rigor. Alguma navegação gratuita é permitida: no caso da Folha, além dos 40 textos por mês, seções como a capa (home) e o “Guia” não entram na contagem. É uma estratégia para buscar uma nova fonte de receita sem diminuir drasticamente a audiência, já que ela garante os anúncios.

Desde que o “New York Times” implantou essa cobrança, em março de 2011, o modelo “poroso” vem sendo discutido por jornais de todo o mundo. A razão é simples: a receita de publicidade na internet, diferentemente da TV aberta, não é suficiente para cobrir os custos.

Se o motivo é nobre, a revolta dos internautas também é compreensível. Acostumados a se informar de graça na rede e incomodados com um monte de anúncios que saltitam sobre a tela, não entendem por que devem colocar a mão no bolso.

A audiência na internet é dispersa, fluida, provavelmente a expressiva maioria dos visitantes do site da Folha nem vai dar com a cara no “muro de cobrança”, porque consome pouquíssima notícia.

Entre os que atingirem a cota de 40 textos por mês, só os realmente comprometidos com o jornal aceitarão pagar. Não é difícil imaginar formas de burlar o “paywall”, mas a experiência com iniciativas semelhantes -download de músicas, por exemplo- mostra que uma parcela considerável não se incomoda em gastar, desde que não seja muito.

Para esse grupo menor mas fiel, o jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do “mundo B”, ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede.

Neste momento, o desafio da Folha é mostrar que um noticiário bem-feito custa caro, mas que vale a pena financiá-lo.

‘Qualidade custa caro’

O editor-executivo Sérgio Dávila responde aos questionamentos dos leitores sobre o “paywall”:

Por que cobrar pelo digital?

A ação serve à estratégia de unificar as operações impressa e digital. Além disso, a Folha é pioneira no Brasil de um modelo mundial, inaugurado pelo “paywall poroso” do “New York Times”, e dá um passo necessário na rediscussão do modelo de negócios por que passa a indústria de comunicações no mundo inteiro.

Os anúncios no site não são suficientes para cobrir os custos?

Não.

A cobrança não vai contra o espírito livre da internet?

Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há por que ser diferente no modelo digital, ou as contas não fecham.

Como evitarão que os internautas migrem para sites gratuitos?

Para o internauta eventual, que lê até 40 textos/mês, a Folha vai oferecer o conteúdo de sua versão impressa, que era inacessível. Não achamos que sites de notícia gratuitos sejam nossos concorrentes.

A cobrança significará um salto de qualidade no site da Folha?

Sim. Há cursos em andamento para melhorar a qualidade dos textos produzidos para a plataforma digital. A Redação passa por aprimoramento periódico.