Estariam a redação e o conselho editorial do Washington Post sendo injustos com o prefeito de Washington, Vincent C. Gray? O ombudsman do Post, Patrick Pexton, recebeu comentários de leitores dizendo que sim e recentemente a própria equipe do prefeito também se queixou. Os assessores de Gray acreditam que o Post não terminou “seu caso amoroso” com o ex-prefeito Adrian M. Fenty e pune Gray em decorrência disso.
Pode parecer que desde que foi eleito prefeito, em 2010, Gray quase não teve sossego, comentou Pexton em sua coluna [9/12/12]. Primeiro enfrentou um problema porque membros de sua equipe estavam contratando seus filhos para empregos públicos. Depois houve o escândalo com Sulaimon Brown, candidato a prefeito que disse que recebeu dinheiro de autoridades da campanha de Gray para desprezar Fenty durante a eleição primária de 2010 do Partido Democrata.
Paralelamente, Ronald C. Machen Jr., do Ministério Público, vem investigando desde a primavera de 2011 uma “campanha oculta” não registrada de US$ 650 mil (cerca de R$ 1,3 milhão) que os assessores de Gray organizaram em 2010. Esse tipo de investigação – principalmente por visar a dois conselheiros [vereadores] condenados por transgressão criminal – lança dúvidas sobre o governo municipal.
Gray tem o crédito de continuar a trabalhar duramente como prefeito enquanto enfrenta uma investigação federal. Se você olhar pela cidade, verá progresso. O desemprego, em Washington, caiu; as finanças no Distrito de Columbia estão equilibradas e o fundo para uma emergência está em dia; as reformas das escolas estão em andamento; ciclovias continuam sendo construídas; a iniciativa do prefeito para atrair mão de obra altamente qualificada foi aprovada; e ele vem conseguindo o apoio dos republicanos no Congresso, o que não é pouco.
A maior parte dos feitos citadas anteriormente, o ombudsman leu no Post. É verdade que algumas das boas notícias só aparecem na edição online e em blogs que nem todo mundo lê. Além disso, algumas dessas matérias vêm em linguagem do tipo: “Apesar do escândalo, o controvertido prefeito do Distrito de Columbia conseguiu, na realidade, fazer algo hoje.”
Mas a redação e o conselho editorial do Post reagem com veemência às sugestões de parcialidade contra Gray. Mike Semel, subeditor para informação e investigações da editorial local, diz o seguinte: “Gray é o prefeito da capital da nação e as reportagens do Post levantaram questões muito sérias e muito concretas sobre como ele foi eleito. É nosso trabalho, nosso objetivo e nossa missão esclarecer essas questões. Além do mais, tudo o que escrevemos foi reconhecido como correto nos tribunais. Nossa precisão jamais foi colocada em dúvida. Insistimos repetidamente com o prefeito Gray, pedindo-lhe que respondesse e nos dissesse o seu lado da história e ele recusou. Se temos algum tipo de tendência, é a favor da verdade.”
A investigação irá continuar
A equipe do prefeito tem ainda mais experiência com os editoriais do Post. Jo-Ann Armao, membro do conselho editorial que foi uma infatigável repórter da editoria “Metro” e editora antes de se juntar à equipe de opinião, escreve a maior parte deles. É verdade que seus editoriais batem forte, mas são apoiados por reportagens sólidas que até agora ninguém provou serem falsas. Fred Hiatt, editor da página de opinião, respondeu assim às críticas: “Tudo o que fazemos é com base em reportagens. Jo-Ann nunca escreve um texto crítico sem reunir todos os fatos e tentar explicar suas posições com abordagens por todos os lados. Foi graças a seus editoriais que o comportamento indecoroso de (o conselheiro [vereador]) Harry Thomas Jr. foi exposto e acabou levando à sua renúncia e condenação. Eu diria que isso é o que de melhor se pode esperar de uma página editorial. Alegações bastante plausíveis foram levantadas sobre o mau comportamento na campanha de Gray e autoridades próximas a ele admitiram a culpa em sérios delitos. Como informamos recentemente, ele se recusou a falar com promotores ou em público, sobre as acusações. Enquanto não o fizer, acredito que lhe faltará alguma coisa para seu cargo e isso não se deve a editoriais críticos.”
Seguindo orientação de seu advogado, Gray disse que não falará publicamente sobre a “campanha oculta” enquanto esta estiver sendo investigada. É um direito seu. É possível que Gray não tivesse conhecimento dela. A investigação pelo legislativo dos problemas de nepotismo no início de seu mandato considerou Gray “desconectado” das decisões de contratação. Mas não falar com os promotores ou com o público garante que a investigação irá continuar, assim como as dúvidas que pairam sobre o governo municipal.