Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

“'Quando o jornalismo produz o cruzamento dos números originados em diferentes fontes ele deixa de ser o jornalismo de números e passa a ser verdadeiramente jornalismo…’ Paulo Machado, jornalista

Que jornalista não se entende bem com números não é novidade. Essa falha, aliás, não é uma exclusividade do O POVO, muito menos de profissionais da área de Economia. Uma análise nos Erramos publicados aqui no jornal pode constatar a variedade. Só na última semana, dois dos nove Erramos publicados corrigia valores errados. Um em Fortaleza e outro em Política. É óbvio que ninguém erra de propósito. Mas há alguns registros que desafiam qualquer lógica.

A manchete de sexta-feira (‘Vale terá empresa no Pecém’) é um exemplo. A capa e a editoria de Economia promoveram o show do bilhão que terminou confundindo o leitor. Na chamada de 1ª página o jornal informou que a empresa iria investir US$ 98 bilhões para implantar uma empresa no Pecém. Ao buscar detalhes nas páginas internas se constata que o investimento é grande, mas nem tanto. Serão US$ 98 milhões – e não bilhões como a capa afirmou.

Povoamento exagerado

Um leitor chegou a questionar em quem acreditar? ‘São números bem diferentes. Uma realidade difícil de acontecer’. Outros leitores engrossaram o coro. ‘A Vale não é mais estatal como afirma a chamada de capa’ lembrou Cláudio Martins. De fato, a Vale foi privatizada em 1997. O exagero nos números teve mais um ato na sexta-feira. Na seção ‘bate-pronto’ de Economia, o jornal atribuiu ao secretário do Planejamento e Gestão, Eduardo Diogo, a seguinte declaração.

‘Tenho que governar para mais de 8 bilhões de cearenses..’. Ele não deve ter dito isso. E mesmo que tivesse, caberia ao jornal corrigir. Oito bilhões é seis vezes maior que a população da China. Neste caso, uma leitura atenta evitaria essa ‘superpopulação de cearenses’. O jornalista Jocélio Leal, editor-executivo do Núcleo de Negócios, pediu desculpas pelas falhas. ‘Logo que percebemos o erro, redigimos um Erramos para a edição do dia seguinte (sábado)’. O tal Erramos não foi publicado na prometida edição de sábado.

Dica de especialistas

O que leva mesmo um jornalista que lida com números ao erro? O artigo ‘Sorry, Wrong Number’, do jornalista norte-americano Craig Silverman, publicado em 2009, no Columbia Journalismo Review, uma revista especializada em jornalismo, aborda o assunto e cita alguns desses fatores. Por exemplo, o erro acontece quando a fonte diz um número ao repórter que ouve errado e publica sem checar o dado. Ou então a fonte erra, sem querer, um dado e o jornalista confia plenamente.

Outro fator: a fonte mente descaradamente e mais uma vez não há a checagem. Isso é comum quando se fala da quantidade de público em certos eventos. Quarto fato: repórter e editor calculam errado e não fazem a devida conferência. Outra mania apontada: o jornalista recebe um dado ‘que todo mundo sabe’ e passa adiante. Sem qualquer checagem. Resumindo: a dica para evitar erros, em qualquer pauta, mas principalmente quando se trata com números é a… checagem! A velha e simples checagem de informação.

Simples, porém, nem sempre lembrada.

Balanço

O Conselho de Leitores do O POVO encerrou, na última terça-feira, o trabalho de avaliação do jornal na gestão 2012. Empossados em fevereiro, os conselheiros fizeram um balanço das atividades destacando como pontos positivos a cobertura das eleições, os cadernos sobre o Cocó e a alteração editorial na coluna O POVO nos Bairros. Entre o que precisa ser melhorado estão os erros de Português, a repetição de matérias e a falta de satisfação na mudança de seções. Em 2013 essa avaliação, única no jornalismo local, será feita por novos conselheiros e um novo ombudsman que tomam posse em janeiro.

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