“Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização. (Bernard Shaw)
Na última quinta-feira, dia 28, o repórter da editoria de Política, Carlos Mazza, foi escalado para a equipe que cobriria o seminário em Fortaleza pelos 10 anos do PT no poder. O evento contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No aeroporto velho, o jornalista abordou o petista, com uma bateria de perguntas. Em vez de respondê-las, Lula ‘distribuiu afagos para o repórter do O POVO’, segundo as palavras do próprio jornal, no dia seguinte. A reação do petista, publicada na página 10 do primeiro caderno, foi acompanhada de duas fotos, de uma coluna de largura, cada. O episodio também rendeu um post no blog Segunda Leitura, mantido por membros da editoria. Lá, sob o título ‘No lugar de entrevista, repórter ganha chamego de Lula’, o próprio Mazza deu mais detalhes e colocou algumas impressões do que aconteceu. Seis pequenas fotos, em forma de mosaico, acompanharam o texto na plataforma online.
Não basta ser; tem que parecer
No relatório interno de avaliação da edição, considerei um erro as publicações. Nem tanto pela atitude de Lula. É do estilo dele. Nem do repórter, que reagiu educadamente e continuou insistindo na entrevista. O problema é quando o jornal eleva o episódio à condição de notícia, agregando-o ao restante do conteúdo editorial. O fato foi inevitável. Mas, publicá-lo, foi uma decisão do O POVO. Isso ganha outra dimensão. Não precisa dizer, mas é sempre bom registrar, que faltou distanciamento da edição. Coberturas políticas são sempre melindrosas. Não tem tempo bom para se relaxar na busca de um conteúdo o mais equilibrado possível. É assim que se evita, a cada edição, que o leitor, por mais sóbrio que seja, insinue comportamento inadequado do veículo. É a lição da mulher de César.
Repercussão e resposta da Redação
O episódio repercutiu entre leitores, que ligaram para o ombudsman, e no Portal O POVO Online, onde as opiniões se dividiram. A decisão de publicá-lo recebeu apoio unânime de jornalistas que se manifestaram na lista de discussão mantida pelo ombudsman. A pedido da Coluna, o Núcleo de Conjuntura enviou o seguinte comentário: ‘Não faltou distanciamento. O repórter não estimulou, retribuiu, tampouco deixou de fazer as perguntas ao Lula, inclusive após o abraço. A atitude partiu inteiramente do Lula, razão pela qual não se rompeu o distanciamento. Razão pela qual não vejo, também, motivo para omitir do leitor o episódio ou se envergonhar. Não vejo postura jornalística da nossa parte passível de questionamento. Então, não vejo razão para escondê-la do leitor.’
‘Não foi um afago qualquer’
Mais um trecho enviado pela editoria: ‘Não é todo dia que um ex-presidente trata um repórter desta maneira. E não foi um afago qualquer. Lula só faltou embalar o repórter Carlos Mazza nos braços. Tudo para não responder aos seus questionamentos. Mesmo assim, o jornalista insistiu nas perguntas, recebendo em troca outras demonstrações de afeto e a promessa de que, à noite, concederia entrevista. O que acabou não acontecendo, ressalte-se. As imagens e a narração do episódio tiveram ampla repercussão tanto aqui na Redação como nas redes sociais. Foi um dos assuntos mais compartilhados e comentados do dia.’
‘Missão fracassou’
A seguir, o último parágrafo do post, assinado pelo repórter afagado: ‘No final das contas, a missão fracassou: não consegui a tal entrevista. E sobre o que eram as perguntas mesmo? Alguma coisa sobre governadores, troca de acusações, rompimentos e crises políticas’. Com a palavra, leitores e internautas.
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