Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“‘Infelizes aqueles cuja segurança depende dos outros.’ Cristina Alexandra, rainha da Suécia

Olá, leitores/internautas. Uma das marcas da cobertura na semana foram duas manchetes seguidas em que O POVO ‘testou’ dois serviços na área da segurança pública. Terça-feira, 17: ‘Grande Fortaleza: Ronda não atende metade das ligações’; quarta, 18: ‘Delegacias] Indiferença e descaso: a via-crúcis de quem precisa prestar queixa’. No primeiro caso, o jornal constatou, através de 122 ligações feitas para o Ronda do Quarteirão, que em 50% das vezes a chamada não completava, ninguém atendia ou o aparelho estava fora de área. A segunda manchete falou do martírio no atendimento em uma das delegacias na Capital. Relatou situações em que uma vítima de roubo levou três dias para conseguir entregar a prova do crime. Nos relatórios internos, elogiei as reportagens. Mas também chamei a atenção para aspectos que considero importantes. Em relação aos números em que alguém atendeu, qual foi o procedimento? Em ambos os casos, o jornal, ao expor apenas o lado negativo, não estaria desestimulando a população a procurar a polícia, por telefone ou pessoalmente, quando a própria imprensa se ressente de índices irreais sobre a criminalidade?

O que diz a Redação

Sobre os pontos acima, a jornalista Tânia Alves, editora executiva de Cotidiano, núcleo gerador das manchetes, enviou o seguinte texto: ‘Caro ombudsman, em nenhum momento, durante a apuração da pauta, o repórter deixou de fazer jornalismo. Quando o telefone atendia, o repórter realizava a chamada ronda. Perguntava se tinha alguma ocorrência na área, que é um procedimento normal na cobertura diária de segurança pública. Quanto à subnotificação, concordo que faltou (na segunda matéria, o que foi feito na primeira) uma indicação sobre como proceder para fazer registro em caso de violência. Não acredito, no entanto, que isto vá interferir nas estatísticas da Secretaria da Segurança do Ceará’.

O procedimento comum e outros meios

Permitam-me uma tréplica. Como cheguei a dizer, na lista de discussão que mantenho com a Redação, ao repórter autor das matérias, O POVO não pode deixar a impressão de que está atrapalhando um serviço que, como o próprio jornal diz, já é tão problemático. Em outras palavras, o que nos garante que uma ocorrência não deixou de ser atendida enquanto o policial falava com o repórter ‘testador’ do serviço? Foi informado que quando o telefone era atendido, procurava-se saber se algo estava acontecendo. O procedimento é muito comum em redações de jornal. Mas o padrão não é ficar ligando para cada viatura da Polícia. Para isso, tem-se os comandos, batalhões, delegacias e demais setores e órgãos de segurança. Portanto, a abordagem ao policial que atendeu o telefone serviu apenas de disfarce. A ideia da pauta era outra. Para deixar claro: o jornal pode e deve fazer ‘testes’. Isso está no pacote de serviços relevantes que um veículo de comunicação presta à comunidade. Mas deve existir outros meios. Exemplo concreto: o jornal não precisou ir a nenhum dos 35 distritos policiais ‘prestar queixa’ para manchetar que o atendimento por lá é um tormento. Bastou contar histórias de quem passou pela situação.

O estímulo e o joio

A Redação minimiza o efeito das duas manchetes sobre a iniciativa do cidadão em procurar a Polícia, telefonando ou indo a uma delegacia. A questão renderia outra coluna. O importante, por enquanto, é dizer que faltou ao jornal estimular a procura aos órgãos de segurança (na manchete de quinta-feira, principalmente), apesar dos gargalos relatados. É uma das maneiras de pressionar as autoridades a melhorar o serviço. Por fim: todo ‘teste’ pressupõe a apresentação do que funciona e do que não funciona. As reportagens mostraram apenas o lado ineficiente, o que acaba por reforçar uma conhecida frase entre jornalistas, atribuída ao político americano Adlai Stevenson (1900-65): ‘A imprensa separa o joio do trigo. E publica o joio.’ Até domingo.

FOMOS BEM

CONFRONTO DAS IDEIAS sobre redução da menoridade penal. Jornal promoveu debate qualificado.

FOMOS MAL

REAJUSTE NA CONTA DE LUZ

Ficou escondida a informação do índice para o consumidor residencial.”