Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Suzana Singer

“O principal concorrente da Folha, que se orgulhava de ser ‘muito mais jornal’, diminuiu. Desde segunda-feira passada, o ‘Estado de S. Paulo’ está circulando com menos cadernos.

O ‘Metrópole’, que trata dos assuntos de São Paulo, e o ‘Esporte’ foram incorporados ao Primeiro Caderno durante boa parte da semana. Vários suplementos, como o literário, o infantil e o de informática, foram eliminados ou viraram seções ampliadas.

Aos domingos, o ‘Estadão’ promete manter um conteúdo maior e fazer jus ao seu apelido. O enxugamento foi anunciado como ‘a maior menor mudança’ que o jornal já teve, num slogan tão constrangedor quanto a campanha na TV.

Uma mulher fala em alta velocidade sobre tudo o que o jornal cobre durante a semana e garante que ficará agora mais fácil ‘entender’ o que está acontecendo. Em seguida, o marido, em voz arrastada, diz que, no domingo, quando há tempo suficiente para ‘ler e reler’, haverá notícias exclusivas e novas seções -a única citada é uma de fotos.

Nem Don Draper, o sexy gênio criativo de ‘Mad Men’, teria se saído bem diante da missão de convencer o leitor de que ele está recebendo menos jornal, pelo mesmo preço, mas que isso é uma vantagem.

A diminuição do espaço editorial não é, porém, prerrogativa do ‘Estado’. A Folha vem emagrecendo ao longo dos anos, só que de modo mais suave e preservando a divisão de cadernos. No anúncio da última grande reforma gráfica, em 2010, já se falava em ‘textos sintéticos e analíticos em pouco espaço’.

O argumento para enxugar é que o tempo do leitor está cada vez mais curto, o que é facilmente verificável. O dia teima em continuar com 24 horas, mas agora, além de ler jornal, é preciso checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais -só para ficar em algumas das invenções disseminadas na última década.

Como bem definiu um leitor da Folha recentemente, ‘há tanta informação disponível que dá até uma indigestão jornalística’.

O que não se diz ao público é que o enxugamento, ‘para o seu próprio bem’, visa cortar custos de papel, de mão de obra (jornalistas) e de tempo de gráfica.

As edições de sábado da Folha, nas quais se desdobram cadernos, mostram que a defesa do jornal compacto fica de lado sempre que é necessário atender as exigências do mercado publicitário. No último dia 20, havia ‘Poder 2’, ‘Mundo 2’, ‘Cotidiano 2’ e ‘Mercado 2’, num jornal com 40 anúncios de imóveis.

O dilema para os jornais hoje, e não só no Brasil, é encontrar um novo ponto de equilíbrio. Se as pessoas têm pouco tempo para ler, vamos escrever menos, mas, se o jornal ficar fino e superficial demais, para que comprá-lo, já que há informação de graça na rede?

Nos EUA, onde a perda de receita publicitária do impresso é dramática, a discussão sobre o futuro dos jornais se faz mais premente. Lá, as energias se concentram na tentativa de rentabilizar os sites, fazendo o possível para convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade.

É o que o ‘New York Times’, ao anunciar mais uma queda de lucro, chamou de ‘reposicionamento da empresa para a era digital’.

Talvez o caminho do futuro seja mesmo no sentido de um jornal cada vez mais sintético, mas é um percurso bastante perigoso, a ser percorrido com toda a cautela.

Oferecer menos conteúdo precisa ter necessariamente como contrapartida uma melhoria significativa na qualidade do que é publicado. Poucos assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância.”