“‘Chamo jornalismo a tudo o que será menos interessante amanhã do que hoje.’ André Gide, escritor francês
Olá, leitores e internautas. Vem aí o Dia dos Namorados, no próximo dia 12de junho. No Brasil, é a terceira data comercial mais rentável para o varejo em volume de vendas, segundo dizem as corporações do setor. As mais lucrativas são o Natal e o Dia das Mães. Crianças e Pais fecham a lista das cinco melhores. Em todas essas ocasiões, a imprensa, de maneira geral, é a primeira a entrar no clima, tanto no sentido comercial quanto editorial. Sobre o primeiro ponto, é até compreensível. Toda empresa tem contas para pagar. Não há romantismo nisso. O problema é quando a lógica invade o noticiário. Não estou nem me referindo aos especiais, alguns dignos, jornalisticamente. A questão são as famosas metas e perspectivas de vendas. Por regra, todos os veículos, sem exceção, projetam crescimentos no faturamento. Para não fugir à regra, na última quarta-feira, 5, O POVO reproduziu no Ceará uma informação do tipo, distribuída por agências de notícias: ‘Alshop prevê alta de 5% nas vendas do Dia dos Namorados’. Entidades locais seguem na mesma linha da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping. E depois, quando toda a euforia passar? Faço a pergunta porque todos os veículos deveriam, sempre, voltar à pauta para prestar contas do que disse. Principalmente, se a tal previsão não for confirmada.
Não é só na cobertura econômica onde acontecem projeções passíveis de checagem ou confirmação posterior. O jornalismo declaratório da política também tem das suas. O exemplo mais contundente aconteceu por ocasião da última visita da presidente Dilma Rousseff ao Ceará. No dia 1º de abril, dissemos, em manchete de página interna: ‘Dilma anunciará crédito e deve suspender dívida de agricultores’. Como se sabe, a segunda parte do que foi dito não aconteceu. E o jornal não publicou retratação ou cobrança de quem o fez embromar o leitor.
A grande contradição
Assim como em outras datas, o Dia dos Namorados estimula o surgimento de listas de presentes. Por motivos comerciais, os produtos manufaturados com muita tecnologia são os mais citados. Invariavelmente, o ranking destaca os de maior valor agregado. E haja pressão sobre o consumidor. Se ele não entrar na fila do caixa, estará condenado à exclusão. E se o leitor se endividar além do limite de crédito? Não tem problema. Depois se publica uma listinha de dicas sobre o que ele deve fazer para sair do vermelho. Após isso, começa tudo de novo. No caso da próxima data, o que mais chama a atenção é que a onda de consumismo acontece no mês em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente. Todo veículo que se preze solta reportagens especiais ou suplementos sobre o assunto, no dia 5 de junho. Aqui acontece uma das maiores contradições da mídia: estimular o consumo pessoal, ao mesmo tempo em que prega um mundo ecologicamente viável. São estilos diametralmente incompatíveis. No dia em que os meios de comunicação levarem a causa da sustentabilidade a sério, a primeira editoria a ser repensada será a de economia.
Sexo e automóveis
A esquizofrenia da imprensa apresenta pelo menos outros dois grandes cases. Um deles é a moral, os bons costumes e a legalidade que permeia todo o noticiário, no mesmo pacote de anúncios de garotas e garotos de programa dos mais variados, para todos os gostos. É a feira livre do sexo. Nesse ponto, registre-se que os jornais impressos são os únicos que mantêm esse tipo de propaganda. A melhor controvérsia, porém, está no urbanismo. É difícil uma edição que não traga pelo menos uma matéria sobre os gargalos do trânsito. A pergunta é sempre a mesma: o que fazer com cada vez mais carros nas ruas? Não raríssimo também, o debate acontece ao lado de belas peças de publicidade de automóveis, de encher os olhos e esvaziar os bolsos. Só falta alguém dizer: ‘Que tal ganhar um possante desses no Dia dos Namorados?’ Até domingo.
FOMOS BEM
EMANCIPAÇÃO DE DISTRITOS
Estamos mostrando bem os contras e prós da criação de novos municípios
FOMOS MAL
COMPRA DA USINA DE ÁLCOOL EM BARBALHA
Não acertamos nem o nome dos donos da empresa falida”