No filme Três dias do Condor, de 1975, um agente da CIA interpretado por Robert Redford, com o codinome de Condor, está em frente ao prédio do New York Times. Com a vida em perigo, ele pensa em levar as informações de conduta ilegal do governo ao jornal. Nesse momento, um vice-diretor da CIA lhe diz que o NYTimes pode não querer publicar as informações, no que Redford responde que, com certeza, publicarão. O vice-diretor lhe pergunta como ele pode ter tanta certeza. A câmera dá um close em Condor e o filme acaba.
Atualmente, a situação é outra, comentaa ombudsman do NYTimes, Margaret Sullivan [15/6/13]. Quando fontes têm uma grande revelação a fazer, elas não precisam mais do NYTimes. Veja o exemplo de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), que revelou que o governo estava monitorando registros telefônicos e atividades de e-mail de cidadãos comuns. Snowden levou boa parte das suas informações a Glenn Greenwald, jornalista e advogado conhecido por contestar os excessos da vigilância do governo após os atentados de 11/9 e por defender liberdades civis. Ele publicou algumas informações no site americano do jornal britânico Guardian. O Washington Post publicou uma parte importante do material. O NYTimes tentou não ficar atrás.
Diversas opções para publicar revelações
Mais de quatro décadas após o NYTimes ter publicado os Papéis do Pentágono, que revelaram as mentiras que o governo americano contou a cidadãos sobre a guerra do Vietnã, uma fonte com segredos de Estado tem hoje mais opções para a disseminação de informações. Ainda assim, a aprovação do NYTimes é poderosa; os repórteres que cobrem segurança nacional também são extremamente respeitados. Por isso, um leitor da cidade de Nova York, Peter Hutchings, indagou se Snowden chegou a entrar em contato com o NYTimes e, se sim, por que o jornal optou por não publicar a matéria.
Segundo o chefe de redação, Dean Baquet, Snowden não fez contato. “É uma matéria importante e nós teríamos amado ter tido as informações”, respondeu. “Mas ele optou por dar a outra pessoa com um ponto de vista claro”. Para Margaret, no entanto, essa é apenas parte da resposta. Ela lembra que, há oito anos, em 2005, os repórteres James Risen e Eric Lichtblau publicaram uma matéria sobre a vigilância da NSA – não com base em um grande vazamento, mas como fruto de uma reportagem investigativa de muitas fontes durante meses. A matéria que revelou que o governo monitorava americanos sem ordens da corte recebeu um prêmio Pulitzerem 2006.
No entanto, a reportagem ficou por um ano na “gaveta”, sem ser publicada, a pedido do governo de George W. Bush, que alegou que ela prejudicaria a segurança nacional. Em um artigo para a Slate, em 2008, Lichtblau, que se irritou com o atraso na publicação, descreveu a cena surreal na qual ele e editores esperavam ansiosos na Casa Branca, para ser recebidos pela então secretária de Estado, Condoleezza Rice, e a conselheira Harriet Miers. Snowden pode ter considerado este exemplo: não queria arriscar que suas informações fossem guardadas por tanto tempo. (A videojornalista Laura Poitras, que trabalhou nas matérias sobre a NSA no Guardian e no Post, afirmou que o caso influenciou, sim, a escolha de Snowden)
Quando questionado por Margaret sobre este ponto, Baquet disse que, se tivesse as informações, as teria publicado o mais rápido possível. Não se trata de decidir publicar e então fazê-lo. As revelações do WikiLeaks, em 2010, levaram semanas para ser publicadas. No caso de Snowden, o Guardian e o Post gastaram um tempo analisando o material, para verificar se ele prejudicaria a segurança nacional. Além disso, não publicaram tudo o que tinham.
Para a ombudsman, o fato de o NYTimes não ter sido escolhido não prejudica a credibilidade do jornal, que continua a fazer um jornalismo excelente em muitos temas, incluindo segurança nacional. Como a editora-executiva Jill Abramson afirmou sobre o caso da reportagem de 2005, o importante é que a reportagem foi publicada. No entanto, ela confessou um certo desapontamento de não terem sido procurados por Snowden.