“Certamente a glória do jornalismo é a sua transitoriedade Malcolm Muggeridge, jornalista e escritor alemão
Por estes últimos dias, relendo trechos do livro A Herança de Sísifo – a arte de carregar pedra como ombudsman na imprensa – percebi como está atualíssima a metáfora mitológica usada pelo jornalista Lira Neto, que exerceu o mandato no ano de 1998. Na obra, o hoje renomado biógrafo fala da insistência da mídia em patinar nos mesmos erros – apesar de apontados, cotidianamente. É o paralelo da maldição do mito grego, que empurra a pedra montanha acima, para vê-la rolar morro abaixo. Aí começa tudo de novo. É mais ou menos essa a labuta de quem, na perspectiva e com a colaboração de leitores, acompanha, criticamente, a cobertura de um jornal. Grafias, conceitos e padrões editoriais fazem parte de uma infinidade de problemas que, invariavelmente, vão às rotativas. Alguns exemplos: ‘Acquário’ em vez de ‘Acquario’; confusão de significados entre ‘assalto’, ‘roubo’ e ‘furto’, e um que já se tornou clássico: chamar de ‘cruzamento’ o entroncamento das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales, no Cocó, em Fortaleza, onde a Prefeitura pretende erguer um viaduto.
Perdi as contas de quantas vezes já fiz essas observações nos relatórios internos de avaliação das edições. São erros primários, que além de desgastar a imagem do veículo, suga energia e tempo que poderiam ser aplicados na discussão de questões mais nobres da cobertura. O problema não é de hoje e seria ingenuidade esperar textos integralmente corretos todos os dias – embora seja nosso dever entregá-los sem mácula aos assinantes e anunciantes. Os leitores sentem. Muitos pedem explicação. Alguns lamentam. A resposta não é fácil nem única. As melhores pistas podem estar no fato de as empresas terem extinto a função de revisor; na faixa etária dos repórteres, cada vez mais baixa – muitos ainda não formados; na alta rotatividade de profissionais; na formação dos novos jornalistas, que hoje aponta para outros rumos; na cada vez maior pressão de se fazer mais com menos. Já escrevi aqui sobre esses gargalos. Volto ao assunto por ter sido abordado por colegas da Redação, comentando alguns dos aspectos acima.
Sobre espaço e liminares
Manchete do O POVO da última sexta-feira, 23. ‘Cocó] Reintegração de posse: Justiça espera pela União para resolver impasse’. Internamente, o jornal faz o apanhado do vai e vem jurídico em torno do projeto de viadutos da Prefeitura de Fortaleza. Enfatiza a última decisão, diz os motivos e ilustra o clima de impasse entre as instâncias e instituições envolvidas. Registra o que de importante aconteceu, em intervalos precisos de tempo. Mas não levou ao leitor o essencial: o lugar onde a tal obra será construída, pelo que defende a Prefeitura de Fortaleza. No caso, o entroncamento das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales, no bairro do Cocó.
No relatório à Redação, expus a gravidade de uma manchete de jornal que não traz o elemento fundamental da história. Ou seja, o espaço onde se dá o conflito político-jurídico. Ora, é justamente o lugar marcado para receber o empreendimento o núcleo de toda a celeuma, que já se arrasta há meses. Não enfatizar a base do que está sendo questionado equivale a se publicar, por exemplo, uma matéria sobre partida de futebol sem a informação do placar. Em uma avaliação mais decantada, é como se O POVO tivesse passado a valorizar mais a guerrilha de liminares do que o lugar da obra de mobilidade urbana, propriamente – sem entrarmos, aqui, no mérito se a obra deva ou não ser levada adiante. Não é de hoje que insisto na necessidade de o jornal ser mais atencioso e didático em suas referências espaciais sobre o que é notícia. Foi uma das primeiras colunas publicadas neste espaço. Íntegra aqui: http://bit.ly/16ZeAgM.
FOMOS BEM
SUPERSALÁRIOS NO CEARÁ Mostramos, com exclusividade, a pouca afeição do TCE à transparência pública.
FOMOS MAL
‘FARRA DAS VASSOURAS’ Entramos na pauta depois que a concorrência local e a imprensa nacional noticiou.”