Quando se tornou a quinta pessoa a ocupar o posto de ombudsman do New York Times, há um ano, Margaret Sullivan não poderia imaginar a intensidade e a extensão do cargo. Em sua mais recente coluna [31/8/13], ela comenta que, diariamente, tem que aprender a mesclar momentos que vão da diversão ao horror. “É o universo tentando me ensinar, de uma vez por todas, a não tentar agradar a todos”.
A marca de um ano no cargo a encorajou a fazer um balanço do período. Margaret considera como pontos positivos o feedback dos leitores, que dizem se sentir ouvidos; a sensação de ter feito a diferença algumas vezes, como ao pressionar pela proibição da aprovação de citações por fontes de notícias; o destaque para a necessidade de mais cobertura de pessoas com menor poder aquisitivo e do meio ambiente; e o que escreveu sobre sigilo governamental e direitos da imprensa em um momento crucial dos EUA.
Em relação ao que não considera tão positivo, ela destaca o fato de não ser capaz de investigar completamente todas as reclamações de leitores ou ainda de não ter conseguido fazer a diferença em questões como o uso excessivo de fontes anônimas. A ombudsman espera dar, no futuro, mais atenção a como o jornalismo está sendo afetado pelas mudanças econômicas e como o NYTimes explora a necessidade de fazer dinheiro de várias formas – por meio de conferências, projetos multimídia patrocinados e novos modelos de anunciantes.
Excelente, mas não impecável
Sobre o que aprendeu sobre o NYTimes, a partir de sua posição única, Margaret diz achar o jornal excelente, mas dificilmente impecável. Seus recursos humanos – uma redação de alto nível com mais de mil pessoas – fazem o jornalismo do diário indispensável, mas isso é geralmente acompanhado de autossatisfação. Embora ele corrija rapidamente erros factuais, não é tão rápido para admitir que questões de tom ou prática podiam ser melhores, ou que uma decisão deveria ser reconsiderada. Quando questionados, muitos jornalistas adotam uma postura defensiva e tendem mais a elaborar um argumento do que a aceitar o valor do ponto de vista de outra pessoa. Ainda assim, de maneira paradoxal, um espírito de coleguismo e idealismo prevalece, diz a ombudsman. Mesmo ocupando um cargo que não é lá tão popular diante da redação, Margaret encontrou um alto nível de cooperação, profissionalismo e até apreciação de seus colegas.
O princípio que guia Margaret é analisar de maneira completa cada blog ou coluna, amplificar as vozes dos leitores, ler o jornal com um olhar direcionado para a crítica construtiva e pressionar repórteres e editores por respostas. No dia em que estreou no posto, há um ano, a ombudsman postou uma mensagem no Twitter citando Bob Dylan: “É preciso servir a alguém”. Na época, ela disse que queria servir aos leitores do NYTimes. “Foi um ano tumultuado, mas, quando entro no segundo, esse objetivo não mudou nem um pouco”.