Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“‘A Internet está se tornando a praça pública para a aldeia global de amanhã’ Bill Gates, fundador da Microsoft

Na manhã da última sexta-feira, publiquei o seguinte comentário na conta do ombudsman no Twitter: ‘Jornalismo na rede: o dia em que o Facebook pautou os jornais de Fortaleza’. Era uma tentativa de resumir o sentimento diante da manchete única dos três veículos impressos da Cidade. O caso: a partir de uma declaração do governador Cid Gomes no Facebook, destacou-se a reforma que o Chefe do Executivo faria, ao longo do dia e da noite, no primeiro escalão da gestão comandada por ele. Com o anúncio, um forte clima de apreensão e especulação tomou conta da política cearense – inclusive da imprensa. Quem sairia e por quê? No dia seguinte (sábado), previsivelmente, a mídia de papel voltou a manchetar o assunto.

Com farto material jornalístico disponível, os analistas e resenhistas políticos se ocuparão, certamente, das análises e dissecações dos critérios e das supostas motivações que levaram Cid a fazer a maior mudança em sete anos de governo. Aqui cabe perguntar o seguinte: o que pode ter lavado a mais importante autoridade do Estado a fazer os anúncios via Facebook? O que aconteceu não encontra paralelo na história do Ceará; a novidade não é encontrada com tanta força Brasil afora; o governador tem gosto pelas novas tecnologias, pessoalmente, e no dia a dia do governo; nos últimos meses, Cid protagonizou inúmeras histórias cujo nascedouro foram declarações dele nas redes sociais; o chefe do Executivo é pioneiro na terrinha em papear com internautas nas plataformas online; o governador já concedeu entrevistas via twitcam; os Ferreira Gomes é pouco afeito à dinâmica da cobertura tradicional. Por último: Cid já declarou que não ler jornal.

O meio e a mensagem

Com base em tudo isso, respondo à pergunta sobre os motivos que levaram Cid Gomes a anunciar a reforma no secretariado via Facebook com outras perguntas. Ei-las: não estaria a mídia off line perdendo prestígio efetivo para as redes sociais? Não estaríamos entrando em uma era em que não será mais preciso a tutela do papel e da tinta para sacramentar decisões de governo? Por que não fomos chamados para uma coletiva de imprensa, com hora e local determinados, protocolos, mesa formada, entrevistas e releases distribuído por assessores? Estaria este formato jornalístico sedimentado há décadas perto do fim? Por que o governador precisaria de intermediários (mídia) se ele poderia falar, como falou, diretamente, para todo o mundo? A forma como o anúncio foi feito incomodou – alguns acusaram o golpe – o que só reforça a tese da perda de espaço.

As muralhas e os conselhos

No relatório à Redação da sexta-feira, registrei a estranheza em não ter encontrado, no jornal, praticamente nenhuma menção ao rebuliço virtual que se deu a partir do anúncio das mudanças. O máximo que conseguimos dizer foi que a postagem de Cid no Face, na noite anterior, tinha rendido ‘900 curtições e mais de 300 comentários’. Na edição deste sábado, nem isso. Foi um erro não termos puxado o ambiente online para as páginas do jornal. Nos dois dias, preferimos levantar muralhas e cavar abismos – em vez de construir pontes -, entre o que estava acontecendo nas redes sociais e a cobertura offline, entregue horas depois na porta do assinante. Isso, a despeito da intensa movimentação que se deu em plataformas como o Portal O POVO Online.

No mês de junho, quando a chamada imprensa tradicional ficou sabendo dos protestos quando estes já explodiam nas ruas e montavam barricadas, foi dado um recado para a atual maneira de fazer jornalismo: está em formação um novo tipo de experiência noticiosa e de comunicação. Manchetes de jornal de papel, nascidas na internet, como as dos últimos dois dias, serão cada vez mais frequentes. Fingir que ainda existem barreiras ou minimizar o novo momento não são bons conselhos.

FOMOS BEM

BEYONCÉ EM FORTALEZA. Na reta final, levamos ao leitor informações úteis e de qualidade sobre o show.

FOMOS MAL

ASSALTOS A ÔNIBUS. Não demos as linhas e áreas da Cidade mais visadas nem repercutimos com o Sindiônibus.”