O repórter que cobre segurança nacional na sucursal de Washington do New York Times, Eric Schmitt, ficou surpreso quando descobriu que o uso de fontes anônimas era o que mais incomodava os leitores – e não erros factuais ou inclinações políticas. Schmitt faz parte de comitê da redação que analisa práticas jornalísticas e que produziu, em 2004, um relatório após dois episódios que foram ruins para a credibilidade do jornal: a série de reportagens pré-guerra do Iraque e a desonestidade do repórter Jayson Blair. O relatório aconselha os repórteres a não usar muitas fontes anônimas e o próprio manual de estilo do jornal alerta que fontes anônimas devem ser vistas como “o último recurso”.
No começo do mês, Schmitt coescreveu um artigo que usou muitas fontes anônimas e, diversas vezes, em termos gerais, como “funcionário do governo”. A ombudsman do jornal, Margaret Sullivan, conversou com ele sobre a questão e, a partir dessa conversa e de outras com vários jornalistas, chegou à conclusão de que há uma disconexão entre como jornalistas e leitores veem o uso de fontes anônimas.
Fontes confidenciais
Para muitos jornalistas, estas fontes são uma necessidade. E essa necessidade é crescente – especialmente em relação a matérias sobre segurança nacional – agora que a administração do presidente Barack Obama está em guerra contra vazamentos. “É quase impossível obter depoimentos de pessoas que sabem alguma coisa, especialmente sem ser em off”, comentou Bill Hamilton, que edita a cobertura de segurança nacional no Times.
Já para muitos leitores, as fontes anônimas são uma praga que prejudicam a objetividade e a credibilidade do trabalho jornalístico. Com um desejo cada vez maior pela transparência no jornalismo, leitores veem essa prática como um tipo de reportagem que toma como certo tudo o que o governo diz. Leitores criticam o uso de fontes anônimas não somente em artigos de política, mas também nas editorias de esportes, estilo, local e nacional.
Para Scmitt, uma solução parcial seria descrever as fontes, com o maior detalhamento possível, e explicar aos leitores as razões do anonimato. Outra seria pressionar mais contra fontes que pedem para não ser identificadas. Editores também têm a função de estabelecer um limite e impedir que conteúdo com fontes não identificadas seja publicado. Repórteres podem então colocar a culpa nos editores e as fontes podem preferir ser identificadas do que ignoradas.
Os leitores, escreve Margaret, devem lembrar que muitos trabalhos jornalísticos importantes, em especial os de interesse público, dependeram de fontes confidenciais – talvez o exemplo mais marcante seja o escândalo Watergate. Ainda assim, pondera ela, “leitores estão certos em protestar quando veem o uso gratuito de anonimato”.