Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“‘Jornalismo de economia no Brasil não é uma coisa nem outra.’ Delfim Neto, economista e político brasileiro

Costumo dizer que, atualmente, com tantos conteúdos informativos à disposição, ler qualquer coisa em qualquer lugar, apenas para ter a (falsa) sensação de que está por dentro do que acontece, pode ser perda de tempo e acarretar outros prejuízos. Por outro lado, é cada vez mais necessário que o jornalismo abrace a peculiaridade da plataforma à qual pertence. Uma ilustração grosso modo: sites e blogs têm a marca da agilidade e do tempo real. À mídia impressa, no dia seguinte, cabe aprofundar e fazer reflexões. Ampliar a visão da pauta. Ou as empresas de comunicação entendem essa regrinha ou terão dificuldades no médio prazo. Francamente: por que tenho de comprar jornal para ler a mesma notícia, às vezes com o mesmo texto – e eventuais fragilidades e erros -, que horas atrás já estava na minha tela, gratuitamente?

As provações acima nos levam à seguinte pergunta: como está a cobertura impressa do O POVO? Para ajudar a respondê-la, pincei três recentes manchetes do jornal, produzidas por editorias diferentes. Busquei manchetes porque são, em tese, o conteúdo com que o jornal mais se preocupa; procurei áreas diferentes da cobertura (Economia, Cotidiano e Política) porque o jornal tem de ser visto no todo; privilegiei assuntos recorrentes (inflação, segurança pública, viadutos no Cocó) porque, em tese, de novo, são pautas já amadurecidas nas editorias. Portanto, de onde se espera menos problemas. Por último: todas as observações que seguem foram remetidas, no mesmo dia da edição, para a Redação, que consentiu com o silêncio.

Capital da inflação

Economia, 10 de outubro: ‘Inflação em Fortaleza é a maior do Brasil’. Na primeira quinzena de outubro do ano passado, demos a mesma manchete. É um movimento cíclico. A Capital do Ceará, tradicionalmente, lidera o ranking porque somos uma área consumidora, não produtora. Estamos, portanto, muito susceptíveis a oscilações do mercado lá fora, como entressafras, logística, infraestrutura e fatores meteorológicos. Internamente, outro dado é determinante para a nossa inflação alta: a achatada média salarial. Como sabemos, quanto mais baixo o rendimento do trabalhador, maior o percentual de comprometimento do mesmo com itens como alimentação – o que empurra a inflação para cima.

Junto e misturado

Cotidiano, 2 de outubro: ‘Assaltos a banco já superam todo o ano passado’. Os problemas começam nos dizeres. O jornal misturou assalto em horário bancário, explosão de agências e dinamitação de caixas eletrônicos. Há muitas diferenças. Do tipo de armamento à quantidade de veículos usados; do nível de informações privilegiadas a rotas de fuga; da possibilidade de resultar em reféns ao uso de explosivos. Os bandos têm preferência por instituições cujas ações contra são investigadas pela Polícia Federal. Por causa de um erro de origem do jornal, que batizou todas as ocorrências de ‘assalto’, todo o material ficou prejudicado.

Data máxima venia

Política, 27 de setembro: ‘Justiça manda desocupar o Cocó’. Em relatórios anteriores, antes dessa manchete, já havia observado o risco de nos limitar a reproduzir a gincana jurídica em que se tornara a cobertura dos viadutos/ocupação. Nesse dia, ‘chegamos lá’. Falamos da decisão judicial, apegando-se a ‘agravos’ – um de ‘instrumento’ e outro ‘regimental’, sem explicar nem um nem outro. Enquanto isso, esquecemos o básico: não diferenciamos as várias instâncias da Justiça Federal e não informamos onde fica o TRF-5. Acredite: sequer citamos as avenidas onde os viadutos devem ser construídos, segundo a Prefeitura de Fortaleza.

Grandes portais já disponibilizam produções exclusivas em texto, áudio e vídeo. Têm análises e conteúdos em profundidade. Explicam o entorno da notícia. Parecem avançar sobre o impresso. Alguns são patrocinados ou bancados pela publicidade, o que lhes permite acesso livre. No meio de tudo isso, fico com a impressão de que nem todo conteúdo free é de baixa qualidade nem o que custa dinheiro é, necessariamente, relevante. Basta saber navegar.

FOMOS BEM

OUTUBRO ROSA

Grupo marca luta contra câncer de mama, informando e sensibilizando.

FOMOS MAL

VANDALISMO NO PAÇO

No início, associamos os atos criminosos a manifestações de rua.”