Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Erivaldo Carvalho

“Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros” (Confúcio, pensador chinês)

Nas últimas semanas e dias, principalmente, leitores/internautas me abordaram com uma pergunta reveladora: o jornal deixou de publicar os erramos? Claro que não, respondo sempre. Depois, passo a detalhar como se dá o processo. Antes de mais nada, registro, a eles e aqui, que o ideal seria a retificação o mais breve possível. Já na próxima edição, se houver condições. Mas o procedimento depende de algumas variáveis, que vão da pauta em questão ao número de páginas, do dia da semana ou até mesmo da editoria onde o problema foi gerado. Há rechecagens que precisam ser feitas, há edições que fecham dias antes, como alguns cadernos dominicais, tem relação com a disponibilidade de espaço na página e até com a cultura interna do setor da Redação. Ao levantar esses pontos, tento aproximar ao máximo o público da realidade das coberturas, sempre correndo contra o tempo. Faço-o, também, do ponto de vista de quem já esteve repórter/editor, com suas quotas de erramos a fazer.

Então, por que considero perguntas do tipo reveladoras, independentemente do meio-de-campo que eu faça com o público, tentando explicar-lhe os meandros da coisa? Porque indagações assim podem expor o nível de comprometimento que o jornal tem com seu público e com o próprio olhar que mantém sobre seu produto final. Pelas minhas observações empíricas, leitores/internautas voltam a ligar ou passam e-mail novamente se a falha que ele apontou foi corrigida. Se o jornal der de ombros, o que impede que o público faça o mesmo com a empresa?

Listas acumuladas

Nos primeiros dias de mandato de ombudsman, esse foi um dos pontos para o qual me chamaram a atenção: não deixar de cobrar a publicação de erramos. Assim o fiz. E continuo fazendo. Sempre que encontro erros ou os anoto via leitor/internauta, faço as devidas considerações nos relatórios internos de avaliação das edições. Aponto, claramente, na forma e no conteúdo, como a informação deveria ter sido publicada. Conforme me advertiram, não está sendo tarefa fácil. No primeiro semestre, quando acumulava, cheguei a reenviar a lista atualizada. Em vão. Editores chegaram a pedir reenvios extras das listas. Nada aconteceu. É verdade que alguns poucos erros são reconsiderados, depois dos devidos esclarecimentos entre membros da editoria e o ombudsman. Mas o grosso é, solenemente, ignorado. Para registro: a publicação de erratas não está condicionada ao número de vezes em que é mencionada em relatórios. Se o erro foi publicado, identificado, e não houve nenhum tipo de contestação para convencimento do contrário, então se considere um débito da Redação. Geralmente, são questões bem objetivas. Em tempo: os erramos a publicar estão às dezenas, mesmo se considerando aqueles que caducaram.

Atribuições

A figura do ombudsman no Grupo de Comunicação O POVO não é subordinada à Redação ou outros departamentos das empresas que o compõem. Mas também não detém nenhuma função executiva ou de hierarquia. Minhas atribuições vão até a constatação de problemas, a exemplo dos erramos, com suas respectivas mediações e encaminhamentos. Depois, a bola quica para a Redação, de onde deve sair algum tipo de solução. Todas essas observações estão sendo feitas, publicamente, em respeito que tenho aos leitores, em nome de quem exerço o mandato. Alguns deles me perguntaram. Estou respondendo.

Os prejuízos

Se o jornal não publica seus erramos, estabelece-se uma cadeia de prejuízos, de várias naturezas. A mais grave, como dito acima, é a deterioração da qualidade do que o jornal publica, que afeta, diretamente, a credibilidade perante o público. Como sabemos, esse valor simbólico é de árdua aquisição e de alta volatilidade. Nesse cenário, deve-se considerar a famosa resistência de jornalistas admitirem erros – fator que, indiretamente, entra no pacote – visto que somos treinados para apontar apenas os erros alheios. Por fim, usar uma coluna externa para fazer esse tipo de cobrança é tirar uma oportunidade de aqui se abordar assuntos mais sofisticados e mais caros ao jornalismo e às nossas coberturas.

FOMOS BEM

ESCÂNDALOS POLÍTICOS NO INTERIOR. Em duas manchetes, mostramos melhor o que de pior está acontecendo.

FOMOS MAL

13º SALÁRIO. Pegamos apenas a expectativa dos empresários. Faltou-nos abordar os trabalhadores.