A agressão sofrida pelo repórter da Folha que estava cobrindo o acidente no Itaquerão permite que se discutam alguns procedimentos dos jornalistas e das autoridades em momentos tensos como aquele.
O repórter Daniel Vasques, 29, do caderno “Imóveis”, estava a caminho do trabalho quando viu o acidente. Correu ao local, entrevistou operários e bombeiros. Foi avançando até chegar perto de onde estava sendo retirado o corpo de uma das vítimas. Com o celular, fotografou a cena, o que chamou a atenção das pessoas ao redor e ele acabou sendo expulso dali.
Mais à frente, Vasques foi encurralado por um grupo. Foi xingado, empurrado e deram-lhe socos na perna na tentativa de quebrar o celular guardado no bolso. Um policial militar se aproximou e, em vez de proteger o repórter, mandou Vasques apagar as fotos. Ele obedeceu, sem revelar, contudo, que tinha outro celular guardado com mais imagens do acidente.
O jornalista já tinha passado à Redação, por telefone, o relato do acidente e algumas fotos. Graças à sua iniciativa, a Folha foi um dos primeiros veículos a noticiar o que acontecia em Itaquera.
Na descrição da tentativa de intimidação, o site publicou que o ex-presidente do Corinthians Andres Sanchez tinha agredido o jornalista (“Andres e seguranças agridem repórter da Folha no Itaquerão”).
No dia seguinte, a história em “Esporte” era diferente. O jornal afirmava que Andres “viu” o repórter ser agredido por um grupo que o acompanhava -o que o ex-presidente do Corinthians também nega. Ele só admite ter xingado o jornalista. “É lamentável que, durante um fato tão triste, existam pessoas que queiram se promover diante da fatalidade”, disse Andres, em nota.
O Corinthians acusa o repórter de ter se passado por funcionário da Odebrecht para ter acesso ao local. Vasques afirma que não mentiu, apenas aproveitou a confusão do momento para ver de perto o guindaste tombado -tomando o cuidado de não atrapalhar o resgate.
Todo (bom) repórter faria o mesmo diante de uma tragédia: correria ao local e tentaria obter o máximo de informações, mesmo desrespeitando avisos de “área restrita”.
O erro da Folha estava no primeiro relato do episódio da agressão. O ex-presidente do Corinthians não bateu no repórter. “Houve um mal-entendido entre o repórter, no Itaquerão, e quem redigiu o texto na Redação. A reportagem estava errada e foi corrigida na internet”, explica a editoria de “Esporte”.
A acusação feita pelo site foi grave e o “erramos” só foi veiculado na sexta-feira. Mas, em todo esse episódio, o pior foi terem obrigado o repórter a apagar as fotos do acidente. Se ele entrou onde não deveria, é do jogo tirá-lo de lá, mas não confiscar o material jornalístico, muito menos com uso da força.
Com a Copa chegando, seria bom incorporar à lista de preocupações um item sobre como lidar corretamente com jornalistas.
Sete dias sem carne
A Folha submeteu o crítico gastronômico Josimar Melo a um regime sem qualquer alimento de origem animal (carnes, leite, ovos, queijos). O relato dessa experiência de sete dias, capa do último “Comida”, provocou revolta em adeptos da dieta vegana.
Um abaixo-assinado contra o jornal reuniu 307 nomes até sexta-feira. Os veganos criticam a forma “pejorativa” como a dieta foi descrita, acusam um tom preconceituoso e apontam supostos erros.
Josimar não gostou nem um pouco da sua semana natureba. Escreveu que o prazer da mesa é trocado pela “lógica da receita médica” e que a comida fica pesada, sem refinamento.
Era um depoimento, não uma reportagem com a preocupação de balancear os dois lados, como prega o projeto Folha. A capa do caderno, com uma grande ilustração, passava essa ideia, mas o jornal errou ao dar um segundo título noticioso: “Dieta vegana causa carência de nutrientes”.
Os veganos dizem que isso não é verdade, já que dá para encontrar equivalentes em outros tipos de alimentos. “É possível, desde que com uma boa orientação. Mas a suplementação da vitamina B-12 será sempre necessária”, diz Silvia Cozzolino, nutricionista da USP.
A mobilização vegana mostra que se tocou em uma questão sensível. Tomara que o jornal mantenha a polêmica em pauta.