“‘A primeira essência do jornalismo é saber o que se quer saber, a segunda é descobrir quem o vai dizer.’ John Gunther, escritor americano.
Primeiro, um elogio. O POVO não faz jornalismo policial nu e cru. Como sabemos, o formato em que se evidencia cadáveres ensanguentados ainda perdura na imprensa, aqui e alhures, em todas as plataformas (jornal, rádio, TV e internet). Em vez disso, procuramos levar aos leitores discussões sobre segurança pública, com seus grandes desafios e eventuais avanços. Para tanto, acompanhamos o que vem sendo feito pelo governo e pelo Estado, enquanto responsáveis pela área. Por isso, o jornal é o porto seguro de cidadãos, anônimos ou públicos, especialistas ou não, para desabafos, análises e cobranças.
Dito isso, uma provocação: temos conseguido avançar na cobertura dos hollywoodianos ataques a bancos e caixas eletrônicos no interior do Ceará? Pelo que venho observando, poderíamos estar muito além. Vejamos: repetimos sempre o mesmo roteiro. Dizemos quantos bandidos participaram da ação, informamos em qual município o crime foi cometido, mencionamos o nome do banco, citamos o horário, observamos se usaram explosivos, se levaram dinheiro, se houve confronto com a polícia, que rota de fuga pegaram e, por último, se queimaram um veículo na saída da cidade. Se for mais de um caso na mesma madrugada, somamos na manchete e detalhamos num infográfico. As declarações de autoridades policiais cada vez mais se assemelham a entrevistas com jogador de futebol: mais do mesmo.
A banalização e as perguntas
Os elementos citados acima são básicos em qualquer notícia do tipo. Imprescindíveis, portanto. Mas ficar só neles sinaliza que estagnamos no previsível relato policial. Há alguns meses, as cenas de chumbo grosso relatadas em cidades interioranas causavam espanto e choque. Atualmente, com os sucessivos casos – cujo número total já se aproxima de uma centena neste 2013 -, a cobertura caiu na banalização. Diante disso, ou O POVO procura olhar o fenômeno de outro ângulo ou ficaremos esperando o próximo ataque, para aplicarmos a receita acima e atualizarmos os números. Só.
Os próprios pontos em comum nas ações criminosas podem ser um bom começo. Algumas perguntas: é possível, com base nas características que aproximam ou distanciam os ataques, estimarmos quantas quadrilhas atuam no Ceará? Por que aumentou a quantidade de ataques a caixas eletrônicos e diminuiu a de assaltos a agências em horário de expediente? Por que determinadas cidades já foram sitiadas mais de uma vez e outras, vizinhas, permanecem ilesas? Por que os bandidos têm preferência por, basicamente, duas marcas de banco? A mão de obra utilizada é local ou estamos importando de outros estados? Qual é o panorama no Nordeste? De onde vem os explosivos? Os atos são só uma questão de segurança pública ou tem a ver, também, com segurança bancária? Na última semana, os criminosos tiveram pouco êxito e alguns foram mortos. É um sinal de que estamos virando o jogo?
Briga de números
No paralelo a questões maiores, o jornal precisa ajustar o foco nas contas que faz para totalizar os ataques a caixas eletrônicos. Antes, citava-se o Sindicato dos Bancários como referência para os números. A entidade trabalha com um universo não reconhecido pela Secretaria da Segurança Pública. Na edição da última quinta-feira, 5, dissemos que já se deram 90 atos criminosos, sem atribuirmos a fonte nem ao sindicato nem ao governo. A concorrência diz que foram 85.
O que diz a Redação
O núcleo de Cotidiano da Redação, onde está abrigada a cobertura, enviou a seguinte nota à coluna: ‘Em todas as matérias sobre ataques a banco, a gente cita o modus operandi das quadrilhas (sitiam a cidade, fazem refém, geralmente de madrugada, com explosões, no início do mês, etc) e já fizemos matérias específicas sobre isso. Mas a gente pode sim voltar a fazer uma reportagem abordando a questão. Os números de ataques a bancos e caixas eletrônicos são um levantamento do O POVO a partir de dados do Sindicato dos Bancários, já que a Secretaria da Segurança nunca divulga esse número em tempo hábil. Na última matéria, realmente, não deixamos isso claro’.
FOMOS BEM
NELSON MANDELA
Caderno Especial ficou à altura de nossa qualidade e do líder sul-africano
FOMOS MAL
PREFEITURA DE FORTALEZA
Primeiro orçamento proposto e aprovado pela atual gestão merecia mais atenção.”