O cargo é tão controverso que apenas dois jornais do País têm a coragem de adotá-lo. Além do O POVO, a Folha de S.Paulo. Esta coluna é a primeira deste mandato. Assumo, por um período de um ano, a experiência de reaprender a ler o jornal. Ou de ler o jornal sob o ponto de vista do receptor, o público que paga por ele.
As visões acerca do cargo variam. Paulo Francis adotava o conceito de “bedel do jornal”, ao se referir ao ombudsman. Há quem sustente a tese de que é uma estratégia de marketing eficaz, a ser propagada pelo jornal. E existem também aqueles que cobram uma suposta tentativa maior de imparcialidade ao ser favorável que profissionais de fora da empresa ocupem a missão. Não teremos consenso. Mas temos discussão, e sempre é bom que ela exista, para explicitarmos as variadas interpretações acerca de um mesmo caso.
No O POVO, o ombudsman está presente desde 1993. Este é o ano 21 desde que a professora Adísia Sá inaugurou o serviço no jornal cearense. O ombudsman, termo sueco adotado pelo jornalismo, é o ouvidor. Responsável por acolher comentários acerca da edição, ele produz a cada dia uma crítica interna, uma avaliação do jornal, que é dirigida à Redação e a demais setores. Discute-se com o objetivo primeiro de melhorar a qualidade da informação, com vistas a diminuir a quantidade de erros. E, sejam de informação, sejam de ortografia/gramática, eles existem.
Entrega do jornal
Além das questões tratadas diretamente com a Redação do jornal, o ombudsman cuida de solucionar questões do consumidor, como problemas na assinatura e na entrega do produto. Mais do que encaminhar as dificuldades para os setores responsáveis, cabe ao profissional cobrar soluções. Afinal, não adianta nos esforçarmos no conteúdo se falhamos no aparato logístico.
A instituição jornalismo
Nesse contexto diferenciado, está uma função cujo enunciado é polifônico, sob o conceito do linguista Mikhail Bakhtin. Em um mesmo texto, a presença de outros textos se faz necessária, em uma construção coletiva de vozes, como pede o bom debate. É assim que trabalhamos, é assim que temos de trabalhar.
A instituição jornalismo ganha a partir do “outro olhar”. Em tempos nos quais um jornal divulga imagens de presos decapitados no Maranhão, uma revista mostra cenas de uma criança que morreu queimada em um ônibus e um portal exibe vídeo do estupro de uma menina de 9 anos, é fundamental discutirmos que tipo de jornalismo o Brasil está fazendo.
O primeiro ombudsman da imprensa brasileira, Caio Túlio Costa, escreveu na obra Ombudsman: O relógio de Pascal que a paciência é a qualidade fundamental requerida para o posto.
Que ela não nos falte.
A semana no O POVO
Desde que uma adutora, além de não funcionar na inauguração, causou a paralisação no abastecimento de água no município de Itapipoca, em dezembro de 2013, O POVO tem acompanhado. A cobertura não parou no abastecimento de água na área. Foi ao local, mostrou os erros de engenharia, expôs as falhas na fiscalização e tem cobrado soluções. Ponto para o Núcleo de Conjuntura (editoria de Política). O bom acompanhamento das histórias reforça o bom jornalismo.
A informação deixou de ser dada, entretanto, no campo da cultura. Na terça, 7, o show do DJ francês David Guetta congregou 16 mil amantes da música eletrônica (conforme O POVO Online). É um show internacional em um dia útil da semana. Não poderia ter sido minimizado como foi. O POVO ignorou a cobertura na edição impressa. Tive acesso a um texto sobre o show no portal O POVO Online. Questionei o Núcleo de Cultura e Entretenimento na avaliação interna por três dias consecutivos sobre a ausência da cobertura em nossas páginas. A chefia do Núcleo, indiferente, não deu resposta à ombudsman.