Na segunda-feira [24/2], a Folha informava na capa que o ex-presidente Lula anda criticando o governo Dilma em conversas com políticos e empresários. Lula teria dito que confia na reeleição de sua ex-ministra, mas que ela precisa mudar em 2015. A atual equipe econômica estaria com o “prazo de validade vencido”.
A reportagem foi toda construída com declarações “off the record” (“fora dos registros”), feitas em condição de anonimato a pedido dos entrevistados. São citados “interlocutores do mundo político e empresarial”, pessoas da “equipe de Lula” e um “amigo próximo do ex-presidente” (http://folha.com/no1416735).
O segundo destaque de política, nesse mesmo dia, eram as preocupações de empresários com o intervencionismo na economia e com a formação do ministério de um eventual novo mandato de Dilma. Mais uma vez, tudo “off the record”. Os anônimos eram “líderes do agronegócio”, “o dirigente de uma grande indústria”, “banqueiros de peso” e “empreiteiros” (http://folha.com/no1416741).
Declarações anônimas são um instrumento importante do jornalismo, porque, muitas vezes, não há outra forma de obter uma informação valiosa. Só que seu uso não pode ser banalizado, deve ser um último recurso da reportagem.
Quando dá espaço a vozes sem dono ou crava uma informação baseada em “a Folha apurou…”, o jornal está exigindo um voto de confiança do leitor. É como se dissesse: “Não posso contar quem afirmou isso nem como consegui o dado, mas está correto, acredite”.
A informação “off the record” costuma ser negada no dia seguinte e aí o jornal garante que as fontes são “seguras”. No caso das críticas de Lula a Dilma, na própria segunda-feira, a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca: “Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir”.
O ideal é que a declaração anônima seja o ponto de partida de uma apuração maior, que o repórter busque documentos e entrevistas que comprovem o que foi dito. Nas reportagens sobre as ressalvas à gestão Dilma, dá para entender a dificuldade de convencer o entrevistado a mostrar a cara, mas é inegável que textos assim, sem nenhum nome citado, parecem intriga.
Para diminuir essa má sensação, o jornal deveria explicar por que aceita reproduzir declarações de gente invisível. Algo na linha “a Folha aceitou o anonimato porque os empresários temem represálias do governo” ou “a Folha ouviu quatro petistas e dois banqueiros, que não revelaram seus nomes porque Lula pediu sigilo nas conversas”.
Aposto que, se exigir que o “off” seja justificado, o jornal constatará que ele é, muitas vezes, dispensável. A presença de anônimos deveria reduzir-se ao mínimo necessário.
A morte da psicóloga
A tira de humor “Psicóloga Direta”, de João Mirio Pavan, durou menos de uma semana no site da Folha. Anunciada na sexta-feira, dia 21, foi retirada depois de apenas uma inserção, quando se constatou que o desenho era plagiado/inspirado/adaptado –a palavra depende do grau de indignação de cada um– de um ilustrador espanhol.
A ascensão e a queda da “psicóloga” aconteceram nas redes sociais. Ao apresentar a nova tira, o jornal destacou que ela tinha alcançado 250 mil curtidas em um mês no Facebook. A graça vinha das respostas, sempre maldosas, dadas aos pacientes.
Mulher chorando: “Meu amor não me valoriza, não me dá atenção e vive ocupado quando eu ligo. O que ele tem?”
Psicóloga: “Outra.”
A Folha soube pelos internautas que não se tratava de um trabalho original. O espanhol Molg H., criador de “La Psicóloga Honesta”, não quis dar entrevista, mas esclareceu no Facebook que não tinha cedido os direitos do desenho a ninguém.
“Não fiz de propósito. Foi uma brincadeira que virou sucesso. Cometi vários erros, assumo, mas nada justifica esse ódio de alguns que me querem fora da Folha”, diz Pavan, que decidiu acabar com a tira inclusive no Facebook.