Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Daniela Nogueira

É fato que o uso da internet móvel está crescendo. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, os jornais estão com dificuldade de fazer essa transição. E mais – estão ficando para trás. Neste ano de 2014, pela primeira vez na história, os norte-americanos passarão mais tempo consumindo mídia em aparelhos móveis (celulares do tipo smartphone e tablets) do que no computador. É o que mostra um estudo feito pelo eMarketer no mês passado e publicado pelo site Digiday no início deste mês. Para ter acesso a outros dados, acesse o link (em inglês).

Em 2014, 23,3% da média de consumo de mídia dos norte-americanos será em aparelhos móveis. No computador, o número será de 18%, de acordo com o mesmo estudo. O que as pessoas acessam pelos equipamentos móveis? A análise apresenta que praticamente um quarto (24,5%) do tempo dos usuários em smartphones e tablets é usado com redes sociais. No computador, os usuários gastam 15,5% do tempo nas redes sociais.

Jogos online também aparecem nos dados. Representam 4,4% do tempo usado pelos usuários norte-americanos em smartphones e 5,8% em tablets.

Em relação aos jornais, os números não são amistosos. Por meio do computador, os usuários gastam somente 0,9% do tempo acessando páginas de jornais. Quando se levam em consideração smartphones e tablets, a situação piora. Acessar os jornais pelo smartphone ocupa 0,2% do tempo dos usuários de smartphones e 0,4% do tempo dos usuários de tablets.

Mídia digital

O estudo se refere a um contexto diferente do brasileiro. Restringe-se ao mercado norte-americano. Podemos, no entanto, aprender com eles. O que esses números dizem aos fazedores de notícias impressas? É preciso se reinventar para se adaptar às novas mídias, como já é tão propalado. Mas isso não significa apenas transportar o conteúdo impresso para a mídia digital. Fazer uso da criatividade e da inovação é fundamental nesse processo em que as chamadas mídias online estão impondo ao jornalismo um novo modo de informar – e de interagir.

As plataformas móveis exigem um esforço muito maior das empresas para conquistar a audiência que se esvai da mídia impressa. Nesse novo cenário, as redes sociais passam a ser vistas também como ambientes de produção e divulgação do material jornalístico. Novos cargos passam a surgir, atualizações devem ser frequentes e os estudos sobre os ambientes precisam ser constantes.

O público deixa o papel de mero receptor da informação e assume a função de produtor de notícias. A ênfase ao chamado “jornalismo colaborativo” deve muito às mídias sociais. A crescente acessibilidade à internet tem desafiado o modo tradicional de divulgar conteúdo no jornalismo, especialmente no ciberespaço.

Jornalismo digital

Será que nos consideramos preparados para enfrentar o desafio de surpreender o leitor por meio das mídias sociais? Tomando por base a imprensa local, do Estado, ainda estamos muito atrasados. A dedicação existe na formação de equipes e no cuidado com o texto produzido para os novos cenários de mídia. Mas nossa visão ainda se prende ao impresso, com a simples reprodução do conteúdo para o ambiente online, sem um zelo mais apurado com as especificidades que a web demanda. Em geral, não nos demos o trabalho de mudar títulos nem adicionar hipertextos ao meio digital.

Ou, então, fazemos o caminho de volta: na versão impressa do dia seguinte, transcrevemos para o impresso o mesmo conteúdo divulgado, no dia anterior, nos portais e redes sociais.

A interação, nas redes, é falha e, muitas vezes, o leitor não tem seus questionamentos atendidos. Lidar com a pluralidade de opiniões na internet também não é fácil. Administrar os comentários diversos (por vezes, ofensivos) é outra tarefa espinhosa. As redes sociais precisam ser encaradas com profissionalismo. É o jornalismo se reconfigurando dentro da cibercultura.

Dentro dessa discussão, questiono a você, leitor: quanto tempo por dia você usa as redes sociais dos veículos de comunicação? Está satisfeito com o conteúdo que recebe?

Números

23,3% – Da média de consumo de mídia dos norte-americanos, por dia, neste ano será em aparelhos móveis; 18% será no computador.

0,9% – Do tempo que os usuários passam na internet é usado para ler jornais, pelo computador. Em smartphones, o número é 0,2%; em tablets, 0,4%.

24,5% – É o tempo usado, por dia, pelos usuários em redes sociais nos smartphones e tablets. No computador, o número cai para 15,5%.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo