Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Daniela Nogueira

Comentei, na coluna de domingo passado, acerca do interesse crescente do leitor em relação às redes sociais. Recebi alguns comentários do público, em que avaliava o desempenho do O POVO nessas redes digitais – o Twitter e o Facebook, principalmente.

Um deles veio do professor Jamil Marques, membro do Conselho de Leitores do jornal. Ele constatou que “o jornal enfrenta algumas dificuldades nas redes sociais digitais – especificamente no Twitter”. Jamil, que é professor universitário e atua na área de Comunicação, Política e Tecnologia, listou observações quanto à redação dos tweets, confusa em alguns casos e incompleta em outros.

 “Inflação dos alimentos é maior que a média nacional” (9/5) e “Presidente da Avianca oficializa início em agosto” (10/5) foram títulos da conta no Twitter @opovoonline em que não há referência sobre o contexto das informações. Seriam em Fortaleza? O professor observa que a limitação dos caracteres não era o problema nesses casos.

Em outro título na rede social, “a redação poderia ser mais específica”, atesta o professor. “Confira o balanço de ocorrência das últimas 24 horas” foi um dos títulos em 10/5. Balanço em relação a qual informação? Vale lembrar que dados sobre o local do fato devem ser expostos, em concordância com o foco no caráter regional, um dos tópicos da Carta de Princípios da empresa, lembra Jamil.

O que diz a Redação

A gestora das mídias sociais do O POVO, Juliana Matos Brito, comenta que “O POVO é líder, no Ceará, em relação às mídias sociais” e destaca a intensidade de produção da equipe.

“Nosso grande desafio é manter essa relação sólida com a audiência. O leitor tem percebido e dado retorno positivo a este trabalho. Lembro que, por meio das redes sociais, estamos diretamente ligados aos nossos leitores. Estamos sujeitos a erros? É claro, como em qualquer processo que está em construção. E este é o caso, e não apenas no O POVO. Mas a correção de rota tem sido pronta e, reforço, estamos dispostos a fazer sempre que necessário. Para isso, contamos com a colaboração de leitores, internautas e de todos os canais que o Grupo de Comunicação coloca à disposição para se comunicar com o público”, acrescenta.

O desafio

O jornal e todos os demais veículos antes focados nas chamadas ‘mídias tradicionais’ (rádio, jornal e TV) têm sido desafiados ao lidar com as mídias que surgem. Além de lidar com ritmo de produção diferente dos textos, é preciso ser hábil com a tecnologia. O que não podemos perder de vista é que informações essenciais a qualquer notícia não mudam de acordo com o gênero textual. Jornalismo é jornalismo em qualquer mídia, e informações devem ser claras em todas elas.

Três jornais, três dados

Na edição da segunda-feira passada, 19/5, os três principais jornais do Estado tiveram como manchete o acidente na estrada cearense, com um ônibus que tombou em Canindé. Dentre mortos e feridos, os números eram diferentes, ainda que as fontes de informação dos três veículos fossem as mesmas. No O POVO, a Capa apresentou: “Canindé. Ônibus tomba na BR-020. 18 mortos em acidente”. A matéria interna informou que havia 21 feridos. No Diário do Nordeste, a manchete foi “18 mortos, 23 feridos. Tragédia na estrada”. E no O Estado, “Tragédia em Canindé. 19 mortos e 18 feridos”. Perceba que o número de mortos é o mesmo em dois dos três jornais. O número de feridos difere nos três.

No dia 21/5, quarta-feira, os três jornais voltam a divergir quando tratam da mesma informação. Na matéria “Latrocínio. Soldado da PM é morto a tiros no Conjunto Ceará” (Cotidiano, página 6), O POVO avisa que o soldado assassinado tinha 37 anos de idade. No Diário do Nordeste e no O Estado, as matérias indicavam que a idade dele era 35. Além disso, no O POVO e no Diário, um homem havia sido preso por participação no crime. No O Estado, três suspeitos haviam sido presos. Segundo O POVO, o soldado estava há 17 anos na Polícia Militar. De acordo com o Diário do Nordeste, ele estava há 15. E O Estado assegurava que ele estava há 16.

O leitor tende a acreditar na notícia do veículo que está consumindo. Assim, o leitor do O POVO deve tomar como certos os dados que o jornal está confirmando. Mas os leitores dos outros dois jornais fazem o mesmo. Desse modo, acabaremos disseminando informações divergentes sobre um mesmo fato. Se as fontes são as mesmas, como conseguimos ter acesso a números distintos?

O que não podemos perder de vista é que informações essenciais a qualquer notícia não mudam de acordo com o gênero textual. Jornalismo é jornalismo em qualquer mídia.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo