Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vera Guimarães Martins

Ninguém gosta de errar, e admitir publicamente os erros é um embaraço a que muito poucos veículos se submetem. A Folha é uma dessas exceções, ao manter uma seção fixa para corrigir dados publicados.

Em alguns casos, porém, registrar a correção no lugar de costume não basta. É preciso sanar o problema com presteza no site, antes que ele se propague e, às vezes, republicar a matéria no impresso.

Faltaram as duas providências em relação à reportagem da última pesquisa do Datafolha, publicada na quinta (3) com o título “Dilma lidera, mas com margem menor”.

Na sexta, a seção “Erramos” registrou que a soma das intenções de voto dos concorrentes da presidente em junho atingia 35%, e não 32%, como havia sido divulgado na véspera. A diferença altera substancialmente o conteúdo publicado.

Se a petista tinha então 34% e os rivais 35%, não se poderia ter dito que sua margem de liderança ficou mais estreita quando ambos empataram em 38%, como afirmava o lide, nem que a possibilidade de segundo turno parecia maior neste momento, como concluía o texto. Mais: os adversários conquistaram três pontos, não seis.

A Secretaria de Redação considera que não houve alteração no quadro eleitoral que justificasse a publicação de uma reportagem. “Em todos os cenários, no certo e no errado, a distância entre Dilma e os adversários está dentro da margem de erro de dois pontos e indica que a disputa presidencial será decidida no segundo turno.”

É verdade, mas as pesquisas do Datafolha são fonte de informação de importância capital não só para leitores, mas para uma infinidade de profissionais cujo desempenho depende do rigor dos números –sem falar da obrigação jornalística de ser preciso.

Na sexta, o erro aparecia replicado em colunas políticas dos jornais concorrentes e persistia em um trecho de reportagem do site da própria Folha. Para fazer o certo, nesse caso, era preciso ter feito mais.

“Esporte” pisou na bola

E a cobertura da Copa na Folha registra outra pisada na bola. Depois do erro com o técnico da seleção, agora foi a vez do craque.

Na edição de quinta (3), reportagem em “Esporte” apontou Neymar da Silva, pai e empresário do atacante, como suspeito na investigação do esquema internacional de cambistas desbaratado pela Polícia Civil do Rio na terça (1º).

A reportagem elencava ex-jogadores e empresários de futebol que tiveram algum contato com integrantes do esquema ou haviam sido citados em gravações obtidas com escuta autorizada.

Neymar sênior entrou no último grupo, quando um suspeito grampeado contou a outro que assistia a Brasil e Chile ao lado dele, no Mineirão. A matéria dizia que a polícia investigava se havia ligação entre o empresário e o grupo.

Neymar Jr. protestou em rede social, acusando a Folha, única a divulgar a notícia, de mentir para vender jornal. Site e impresso tiveram que publicar errata: o empresário deve ser ouvido como testemunha, não como investigado.

É um daqueles casos em que o chamariz do nome famoso parece ter falado mais alto do que a responsabilidade jornalística. Na corrida pelo furo, a ligeireza atropelou a precaução e atingiu figuras que, até que se prove o contrário, não deveriam ter a reputação atrelada, de forma tão ligeira, a uma investigação criminal.

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Vera Guimarães Martinsé ombudsman daFolha de S. Paulo