Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Daniela Nogueira

Como venho fazendo a cada dois meses, apresento a relação das retificações publicadas pelo O POVO em julho e agosto. Foram 32 informações corrigidas no mês de julho e 44 em agosto, como pode ser visto no gráfico abaixo. Esse número só não foi maior do que os Erramos de janeiro, quando foram corrigidas 45 informações. Em fevereiro, 39. Em março, 19. Em abril, 30. Em maio, 32. Em junho, 26. Os números mostram uma média de 33 correções por mês.

O jornal demonstra compromisso com a verdade ao se expor, admitindo publicamente que veiculou uma informação incorreta. Isso atesta a credibilidade que tem com o leitor e é indispensável a qualquer obra confiável.

Naiana Rodrigues, jornalista, mestre em Comunicação e professora de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), considera positiva a iniciativa da publicação dos Erramos: “A existência da seção Erramos tem um papel fundamental no reforço do contrato de comunicação do jornalismo – e do veículo, em particular – com seu público. Contrato este que é regido pela credibilidade e confiança. Portanto, assumir publicamente as limitações na mediação da realidade é demonstrar para o leitor e para a própria sociedade que o compromisso do jornal é para com a factualidade, a verossimilhança, que ele se orienta na direção da apreensão de uma verdade objetiva que está fora de si. Omitir o erro seria, portanto, negar a existência de uma realidade fora do discurso jornalístico”.

Falta revisão

Quando se remete a erros de português (sejam de ortografia, sejam de concordância, sejam de pontuação, por exemplo), o leitor não consegue entender como um profissional treinado para lidar bem com as palavras comete falhas tão evidentes. Recebo vários questionamentos, dia a dia, acerca da ausência de um profissional revisor nas redações. No O POVO, ele não existe mais, há muito tempo. O jornalista é responsável por seu texto e precisa dar conta de atender a todos os requisitos que envolvem a atividade, em relação a escrever correto e informar.

Para o jornalista Dilson Alexandre, coordenador do curso de Jornalismo da FA7, os veículos precisam investir mais em revisão dos textos. “Em uma sociedade marcada pelo excesso de informação, a luta contra os erros (incluindo os ortográficos) exige mais ferramentas e compromisso do ‘fazer jornalístico’. O ‘Erramos’ deveria ser ampliado e repensado em sua estrutura e conteúdo. Também seria necessário investir mais em revisão antes da publicação (sites não podem ser esquecidos), com auxílio aos jornalistas, por meio de profissionais e programas de computador mais eficientes. Tais ações seriam percebidas e admiradas pelos leitores/internautas”, comenta.

Por que erramos?

No entanto, ao mesmo tempo em que se admite o erro, surge um questionamento: por que erramos tanto? Os equívocos são de vários matizes – de língua portuguesa a fatos que não são verdadeiros. Se a verificação antes da publicação é uma ação imprescindível à atividade jornalística, por que ainda publicamos erradamente? Há uma falha em um processo que seria básico – apurar e checar antes de publicar.

Segundo a professora Naiana Rodrigues, a frequência do erro atesta motivos exteriores ao momento de escritura do texto. “Mesmo reconhecendo que é impossível ao jornalismo ser infalível, isso não exime a instituição de olhar para suas práticas e tentar aprimorá-las. A recorrência excessiva no erro denota falhas no processo de apuração e checagem das informações e declarações, estas que podem estar sendo ocasionadas por sobrecarga de trabalho, resultado do acúmulo de funções, por exemplo. Portanto, a correção do erro não deve ser apenas uma ação pontual, mas a oportunidade para se rever toda a rotina produtiva de trabalho”, sugere.

É preciso se preocupar com as consequências que um erro pode acarretar. O jornal impresso “é uma fonte de valor histórico de uma época”, como lembra a professora, e a manutenção de um erro pode levar a proporções que não somos capazes de dimensionar. O ideal seria que isso não escapasse ao jornalista no momento em que escrevesse seu texto.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo