Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Balanço de mais um ano no posto de ombudsman

Passou-se mais um ano de minha tarefa como ombudsman, que começou em setembro de 2012. Ou, para usar outra referência, foram cerca de 45 mil e-mails – mais de 800 por semana. Os leitores do Times escreveram-me sobre tópicos que iam do global (mostrar ou não imagens dos vídeos da organização terrorista Estado Islâmico) ao local (dar crédito a outras publicações no caso do escândalo da ponte George Washington, em Nova Jersey). Compartilharam suas opiniões tanto em textos sérios (uma reportagem sobre tortura) quanto besteiras (uma matéria sobre a tendência a usar monóculo).

Algumas das queixas e pedidos dos leitores saem em textos no meu blog, ou nas colunas de domingo, muitas vezes com respostas de editores e repórteres. Outros transparecem em conversas de bastidores com editores, inclusive com aqueles encarregados das erratas ou de departamentos como negócios ou noticiário de Washington.

Há ainda outros que são enviados, às vezes com comentários, aos editores e redatores. Alguns recebem respostas de forma direta. Mas uma coisa é certa: todos são lidos e levados em consideração. (Jonah Bromwich, meu assistente, dá uma primeira olhada na fila de e-mails e ele merece todos os nossos agradecimentos.)

Vamos passar em revista alguns dos principais tópicos e ver como vêm sendo tratados.

Fontes anônimas

Lancei este ano uma coluna que chamei AnonyWatch, que tinha por objetivo chamar a atenção para o uso gratuito de fontes não identificadas, e já escrevi muitas vezes sobre o assunto, aparentemente sem utilidade alguma. O uso excessivo de fontes anônimas continua prosperando no Times. Eis aqui um exemplo, de um artigo de primeira página que saiu este mês, sobre um professor do bairro do Brooklyn acusado de abusar sexualmente de seus estudantes. “Eu o procurei”, disse um ex-colega de ensino médio do hoje professor, falando na condição de anonimato por recear retaliações. “Lembro-me de achar que ele era muito talentoso, de uma maneira geral. Eu diria que fez seu curso numa faculdade muito boa. Ele era um estudante excepcional. Eu o via como uma pessoa excepcional.”

Na semana passada [retrasada], procurei o editor-executivo, Dean Baquet, sobre o assunto e perguntei-lhe se os editores e repórteres do Times não obedecem ao Manual de Redação, que só permite que seja concedido o anonimato como último recurso. Ele concordou que os editores têm que ficar atentos para isso: “É uma coisa na qual precisamos prestar mais atenção”. Baquet disse que, até aquele momento, não falara com os chefes de departamento sobre essa prática, mas pretendia fazê-lo em sua próxima reunião. Disse que o uso de fontes confidenciais às vezes é necessário e importante. “Não irão desaparecer por completo”, disse, “mas temos que impor limites.” Eu concordei inteiramente e continuarei monitorando seu uso e apelando para tais limites.

Falso equilíbrio

Os leitores frequentemente me dizem que não apreciam reportagens do tipo “ele disse, ela disse”, que os deixam no escuro, sem saber em que acreditar. Em relação a este assunto, já notei algum progresso. Atualmente, é uma prática mais ou menos comum para o Times estabelecer a confiança em sua própria voz, e não dar um peso igual a opiniões desiguais. Por exemplo, uma matéria de 5 de setembro sobre uma decisão de um tribunal federal do estado de Ohio incluía uma frase anônima: “Praticamente, não foram documentadas fraudes na votação pessoal no país.” Esse tipo de coisa nem sempre ocorre (em grande parte, faltou em matérias mais recentes sobre a legislação de identificação do eleitor nos estados de Wisconsin e Texas) e eu continuo ouvindo queixas.

Cobertura do meio ambiente

Recentemente, o Times organizou uma nova equipe de repórteres particularmente talentosos para cobrir as mudanças climáticas e o meio ambiente. É “a coisa mais importante que vem acontecendo”, disse-me Barbara Strauch, editora de Ciência. Também está sendo preparada uma minissérie chamada The Big Fix. Isso é uma excelente notícia, principalmente porque essa cobertura vinha caindo nos últimos tempos, quando foi desativado o grupo que antes fazia reportagens e com o sumiço do blog Verde.

Diversidade na equipe do Times

Depois de ter escrito recentemente sobre isso, no contexto de um artigo para televisão, muito controvertido, sobre a produtora Shonda Rhimes, fui conversar com Dean Baquet. Quando o texto apareceu, ele me havia dito que sentia uma enorme responsabilidade em diversificar a equipe, inclusive a equipe de 20 críticos, da qual não faz parte um crítico negro. (Dean Baquet é o único membro negro entre os principais editores recentemente reorganizados.)

Como poderia ele diversificar a equipe, perguntei-lhe, num momento em que se vê obrigado a reduzir o número de jornalistas da redação? Rapidamente ele respondeu que isso iria ocorrer “através de contratações e promoções”. Disse-me que acredita que “o nível de contratações do Times tornou-se muito mais diversificado”. “Não vamos parar de contratar. Eu não acredito em congelamento de contratações.” E disse que pretende tornar a diversidade uma prioridade, quando se tratar de promoções internas.

A diversidade da equipe – e não apenas racial – faz uma diferença de peso porque, inevitavelmente, trará uma gama mais ampla de opiniões e experiências. Isso só pode ser benéfico para o jornalismo.

Desafios dos negócios

Como outras empresas jornalísticas, o Times vem enfrentando mudanças importantes em seu modelo de negócios – especialmente no que se refere à queda da receita publicitária do jornal impresso. Teve um sucesso significativo com seu projeto de assinaturas digitais pagas, que agora são em torno de 870 mil. Segundo os cálculos que Ken Doctor fez e que foram divulgados nos Relatórios da Fundação Nieman, o Times tem atualmente mais leitores pagantes do que tinha em 1999. Isso é notável. Nem toda a incursão foi bem-sucedida e alguns esforços para aumentar a receita – como, por exemplo, a “publicidade nativa” – acabam, às vezes, confundindo o leitor em benefício do anunciante. Mais ainda: alguns leitores frequentemente se queixam da natureza invasiva de alguns anúncios online. Jim Kelley, de Coral Springs, estado da Flórida, diz o seguinte: “Como assinante online há muitos anos, devo dizer que a home page de vocês está ficando pesada, para dizer o mínimo. Sei que as comunicações e as redes sociais vêm mudando e vocês precisam ter lucro; mas os pop-ups, os anúncios invasivos e outras distrações tornam a edição digital do New York Times difícil de usar.”

Este mês, o Times irá suspender o aplicativo de Opinião que vem usando há alguns meses e também irá mudar a estratégia de seu aplicativo NYT Now. Recentemente, o jornal anunciou a necessidade de reduzir a equipe da redação em 100 jornalistas. É problemático, mas Ken Doctor descreveu um quadro mais amplo: “Enquanto o número total de funcionários nas equipes editoriais dos jornais diminuiu em todo o país (uma queda de 20 mil empregos, cerca de 30% do total, em sete anos), o Times vem reforçando sua equipe.” Mesmo depois dos cortes programados, o número de jornalistas na redação – cerca de 1.230 – será maior do que em 2011.

“Continuaremos tendo a maior e mais sólida redação” do país, disse-me Dean Baquet. E acrescentou: “Estamos num período de turbulência, mas sabemos que nem todas as turbulências e mudanças irão embora.” Manter um jornalismo de primeira qualidade é uma excelente maneira de enfrentar as adversidades dos negócios, mas não será fácil.

Enquanto me preparo para entrar em meu terceiro ano, tentarei manter o Times em seus altos padrões e representar os principais interesses dos leitores. Ah, sim – e obrigada por escreverem.

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Margaret Sullivan é ombudsman do New York Times