A imparcialidade é uma das palavras que norteiam a “Carta de Princípios do O POVO”. Para isso, é necessário que o noticiário do jornal sempre se paute pela equidade. Não foi o que ocorreu com a manchete da terça-feira passada, 17, com o título: “Tesoureiro do PT e mais 26 são denunciados pelo MPF”. A chamada da matéria dava conta de que, na véspera de completar um ano, o Ministério Público Federal denunciou à Justiça, João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, e outras 26 pessoas suspeitas de participação no esquema de corrupção da Petrobras. A chamada de capa indicava que o leitor deveria se inteirar do assunto com mais profundidade na Editoria Política.
O leitor que se interessou sobre o assunto e foi verificar na página 14 encontrou informação pela metade. Da lista dos 27 denunciados pelo MPF, só aparecia o nome de dois deles: João Vaccari Neto, já citado na capa, e do ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, que voltou a ser preso na segunda-feira passada, e que teria sido indicado ao cargo pelo PT. Ora, se a manchete do jornal apontava para uma lista de pessoas era necessário colocar os nomes de todas elas e não se restringir a dois.
Na página, que estava com bom espaço branco, foram editadas duas matérias de agências e dois quadros, um deles com a cronologia da Operação Lava Jato. Muitas das informações estavam repetidas nos textos. No dia seguinte, a editoria publicou uma suíte (sequência da publicação) da denúncia da Operação. De novo, o jornal perdeu a oportunidade de divulgar o nome dos denunciados. Só aparecia o nome de dois. A edição pecou mais uma vez. Enviei email para que os editores de Política se posicionassem sobre a cobertura. Não obtive resposta.
Só dois
A manchete do jornal anunciou uma informação que não entregou na sua totalidade. A matéria careceu de equidade. Naquele dia, os 27 denunciados eram equivalentes. Além disso, era uma informação relevante para o texto jornalístico. Se o espaço era insuficiente para explicar o motivo da denúncia de todos eles, pelo menos a lista com os nomes se fazia necessária. Até este sábado, 21, os leitores ainda tinham desconhecimento dos nomes dos outros acusados de envolvimento na operação, além de João Vaccari e Renato Duque. Foi uma falha.
Passou ou não passou?
No dia 1º de fevereiro, publiquei nota na coluna externa sobre a necessidade do O POVO publicar matéria mostrando o resultado obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelo estudante João Victor Claudino dos Santos. O aluno de escola pública ficou conhecido no Brasil inteiro a partir de matéria publicada no O POVO, no dia 19 de novembro do ano passado, informando ele haver acertado 95% das questões do Enem. O resultado foi antes da redação. Até este sábado, faltava publicação da matéria sobre o assunto e sequer uma notinha.
O portal “Tribuna do Ceará”, que também havia noticiado o assunto no ano passado, correu em busca do fato e voltou a publicar matéria no dia 25 de fevereiro, com o título: “Nota da redação tira vaga na universidade para menino fenômeno do Enem”. Nela, o texto informa, por meio da diretoria do Colégio Estadual Governador Adauto Bezerra, onde ele estava cursando o ensino médio, que o estudante não conseguiu aprovação na Universidade Federal do Ceará (UFC), pois a nota na redação ficou muito baixa. Segundo a matéria, ele teria conseguido vaga em Alagoas, mas decidiu não ir para lá.
Questionado por qual motivo até hoje não havia sido publicada matéria sobre o assunto, o editor-executivo do Núcleo Cotidiano, Érico Firmo, justificou estar tentando contato com ele, até agora preferindo não se manifestar. “Como se trata de questão pessoal, achamos que não devemos nem temos o direito – inclusive legalmente – de tratar do assunto sem autorização dele”.
Os leitores do O POVO estão até o momento sem ter a informação do resultado de jovem no Enem. Repito o que disse anteriormente. O jornal precisa buscar meios para dar continuidade a essa história. Os leitores precisam saber qual foi o final da história.
Ouvidoria ou ombudsman?
Leitora envia email com a seguinte pergunta: “Você começou como ouvidora. Achei lindo, ficou mais perto do leitor. Mas depois voltou para o nome pomposo ombudsman. Por que?” A leitora tem razão. Comecei escrevendo nas primeiras colunas ouvidoria e depois passei a escrever ombudsman. Tornou-se confuso. Esclarecendo: o nome oficial é ombudsman. Eu prefiro ouvidoria.
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Tânia Alves é ombudsman do jornalO Povo