Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Paulo Rogério

“O jornalismo não age, ele levanta a questão.’ – Ciro Marcondes Filho, sociólogo e jornalista

Uma das normas básicas do jornalismo é simples: deve retratar a verdade. Fora disso é ficção, conto da carochinha. Na última quinta-feira, O POVO quebrou essa regra ao publicar na seção ‘Confronto das Ideias’ (Política, página 27) as opiniões dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE, foto) e Pedro Taques (PDT-MT) diante da pergunta: ‘Você concorda com a postura que a imprensa tem tomado na denúncia contra o ministro dos Esportes Orlando Silva?’. As respostas estariam corretas não fosse um importante detalhe.

Ninguém do jornal fez a tal pergunta aos senadores. Como então surgiram as opiniões SIM e NÃO tão bem editadas? Esta foi a observação que a jornalista Emília Augusta, assessora de imprensa de Inácio Arruda, fez ao ombudsman. ‘O senador nunca respondeu a esta pergunta, porque não foi procurado por nenhum repórter do jornal para tratar desta questão’. Teria sido então um repórter fantasma? Se fosse ficção, diria que sim, mas estamos falando de jornalismo. E aí não cabe invenção.

Honestidade

O enredo é risível. Segundo o editor executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, a editoria aproveitou as manifestações que os dois parlamentares fizeram anteriormente, decidiu que era possível montar um confronto de opiniões e editou a pergunta. Resumindo: se valeu de declarações dadas em outras situações – a de Inácio em pronunciamento no Senado Federal na segunda-feira, dia 17, e a de Pedro Taques em audiência no Senado, dia 19 – e encaixou uma questão. Bingo!

O próprio editor reconhece a falha. ‘Nossa avaliação posterior é de que a ideia foi mal executada. Razão pela qual apresentei o pedido de desculpas à assessoria do senador’. A reclamação da assessora tem total procedência e merece reparação. Não se pode inventar resposta a pergunta não formulada. Isto é manipulação. Há que se ter honestidade com a fonte e, principalmente, com o leitor. Gualter diz que o projeto da seção prevê essa possibilidade em raros casos – o que, para mim, já era um erro. De qualquer forma, essa exceção passa a ser vetada, garante o editor.

Nariz-de-cera

Em jornalismo chamamos de nariz-de-cera aquela introdução vaga no texto, sem informação relevante e desnecessária. na tentativa de torná-lo atraente. Grande parte da imprensa repudia o estilo por tornar o texto prolixo. O leitor e jornalista Anchieta Silveira desaprovou o uso dela na matéria ‘Prefeitura inicia limpeza de lagoa’ publicada dia 18, na editoria Fortaleza. ‘O repórter preferiu começar falando do deslumbramento do gari Jardel e sua esposa Elizanir com a brisa da lagoa. Só no final descobre-se que para lá escorrem dejetos de esgotos de 300 famílias. Aí é que está a notícia!’ Para ele, houve ainda erro na abordagem da pauta ao destacar a limpeza no lugar das irregularidades. ‘Chega de release oficial’.

A editora executiva do Núcleo de Cotidiano, Tânia Alves, discorda. Para ela, há o contraponto no abre da matéria quando cita que, apesar da limpeza, a lagoa é poluída. ‘A pauta era sobre a limpeza. Já publicamos matéria sobre os esgotos no local, mas nada impede que a gente volte ao assunto’, acrescentou. De fato o crime ambiental provocado pelo esgoto clandestino e que causa a limpeza constante – era a terceira só este ano – merecia melhor lugar que o fim da matéria. Que se volte ao assunto. Mas dessa vez sem o chato nariz-de-cera.

Esquecido pela mídia

Marinheiros resgatados de navio detido no Mucuripe.

FOMOS BEM

SAÚDE PÚBLICA

Denúncia exclusiva de lixo hospitalar dos EUA no comércio de Fortaleza.

FOMOS MAL

PAN 2011

Cobertura começou fraca e sem dar devida importância à competição.”