“Aos 20 anos, mal saído da adolescência, morreu o suplemento Folhateen. Seu falecimento será anunciado amanhã, numa edição derradeira, que remeterá os leitores para uma página semanal na Ilustrada.
Concebido sob o signo da dúvida, depois de outras tentativas frustradas de falar com o leitor mais jovem, o Folhateen já nasceu provocativo, com uma pauta inquieta e um nome anglófilo que enfureceu os nacionalistas e troçava com o ‘Folhetim’, influente suplemento literário que a Folha publicou até 1989.
A causa mortis não foi revelada. A Secretaria de Redação diz apenas que ‘cadernos jornalísticos têm vida útil’. ‘O Folhateen foi criado em 1991, em outro contexto, para outro leitorado, e num Brasil diferente do de hoje. Muitos suplementos importantes para a história da Folha tiveram começo e fim, como o ‘Mais!’’
O Folhateen nasceu gordo e grande, em formato standard, como o resto do jornal. Morreu pequeno (tabloide) e minguado (poucas páginas). A ideia inicial era prender o leitor crescido que não se via mais na Folhinha, mas que ainda era cru para abraçar a Ilustrada.
Era oferecida a esses adolescentes uma soma de serviço para vestibular + cultura (com ênfase em música) + comportamento (com bastante sexo). A primeira edição, de 18 de fevereiro de 1991, trazia na capa um teste com os aprovados na Fuvest (‘Calouro da USP lê até 9 livros por ano, mas não sabe quem foi Proust’) e, na última página, um perfil da atriz Winona Rider, então com 19 anos.
Ao longo de sua vida, o caderno lançou colunistas -Álvaro Pereira Júnior, Gustavo Ioschpe, Jairo Bouer e Marcelo Rubens Paiva, entre outros-, abordou assuntos delicados, abriu espaço para novos talentos dos quadrinhos (Chiquinha, Allan Sieber, André Dahmer, Danilo Zamboni) e levou outros jornais a criar produtos semelhantes. Seu legado mais importante foi provar que é possível falar para os jovens sem subestimá-los.
Sua morte sinaliza que a Folha não acredita mais na fórmula de suplemento para atrair jovens ao meio jornal. O Perfil do Leitor deste ano mostrou que apenas 11% dos nossos leitores têm até 22 anos -no ano 2000, eram 20%.
O principal meio de informação dos jovens das classes A, B e C deixou de ser a TV aberta (35%), ultrapassada pela internet (39%), segundo a pesquisa ‘Hábitos de Mídia’, feita pelo Datafolha. O impresso aparece com 6%.
Quem convive com jovens sabe que é mais fácil encontrar ararinhas-azuis do que um bando de adolescentes que suje os dedos todos os dias para se informar. A geração do computador pessoal estranha o impresso, como seus pais se intimidam diante de tablets.
Além de sugar leitores, a internet desmantelou boa parte da pauta do Folhateen. Há 20 anos, ainda se precisava do jornal para entender o som de Seattle ou para dirimir dúvidas sobre a primeira transa. Hoje, todas essas e muitas outras informações estão na rede. ‘O Perfil do Leitor nos mostrou que os interesses do jovem estão mudando. Carreiras e investimentos, por exemplo, são mais importantes do que há uma década’, afirma a Secretaria de Redação.
A extinção do Folhateen não pode significar resignar-se com o envelhecimento do leitor. A Folha -e todos os jornais do mundo- precisam encontrar novas formas de convencer a atual geração de que o ‘noticiário miojo’ da internet (ainda) não é suficiente. Ninguém está bem nutrido com toneladas de informações instantâneas e insossas. O desafio é abrir o apetite desses comensais.
PÁGINA SOBRE EDUCAÇÃO VAI ACABAR
Será anunciada amanhã também a extinção da página de educação, publicada às segundas-feiras em Cotidiano. Os dois colunistas que se revezavam serão reaproveitados, segundo a Secretaria de Redação. Ricardo Semler manterá sua colaboração na Folha.com e Fernando Veloso escreverá análises sobre educação.
‘Saber’ foi criada há dois anos, na esteira do sucesso da seção ‘Saúde’, mas não atingiu seus objetivos. Com uma pauta que variava demais, sem uma preocupação em ser útil ao pai ou mãe de aluno e sem espaço para aprofundar discussões sobre educação, a página não deixará saudades.”