Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A ante-sala da guerra em retrospecto

Em maio, os editores do New York Times publicaram uma nota em que admitem que o jornal havia exagerado a ameaça que representava o Iraque de Saddam Hussein através das armas de destruição em massa que o ditador supostamente possuiria. O ombudsman do Washington Post, Michael Getler, escreve em sua coluna de 20/6/04, que, desde a publicação do mea culpa do concorrente nova-iorquino, recebeu algumas cartas de leitores perguntando quando o Post faria o mesmo.

Getler responde que está claro que a imprensa, de modo geral, não fez um bom trabalho no que diz respeito a desafiar as alegações usadas pelo governo Bush para invadir o Iraque. Mas, ainda assim, acredita que o Post não cometeu os mesmos erros que o Times. Houve, de fato, algumas matérias de capa que ajudaram a esquentar o clima de guerra, como a reportagem de 12/12/02, intitulada ‘EUA suspeitam que Al Qaeda tenha obtido agente nervoso de iraquianos’. Na época, o ombudsman chegou a escrever sobre aquela notícia. Mas as duas falhas mais graves que Getler vê na cobertura dos preparativos para a guerra feita pelo Post são outras: diversas matérias que desafiavam a posição oficial tiveram pouco destaque e uma série de eventos públicos mostrando que havia um ponto de vista contrário ao conflito iminente foram ignorados ou subestimados pelo jornal.

Apesar de um certo número de matérias que questionavam os argumentos do governo terem sido colocadas na capa, a quantidade de reportagens desse tipo que ficaram relegadas às páginas internas desagradaram a muitos leitores e ao próprio ombudsman. A importante chamada ‘Evidências sobre Iraque desafiadas: especialistas questionam se tubos eram para uso em programa de armas’, sobre os tubos metálicos encontrados no Iraque que serviriam para uma centrífuga de material nuclear, publicada no dia 19/9/02, por exemplo, apareceu somente na página 18 do primeiro caderno.

Entre os acontecimentos públicos que ganharam menos destaque do que deveriam, estavam, por exemplo, dúvidas levantadas por republicanos como o ex-conselheiro de Segurança Nacional Brent Scrowcroft, em 2002, quanto à necessidade de invadir o Iraque, e as audiências do Comitê de Relações Internacionais do Senado, em que estratégias alternativas foram discutidas, além de grandes manifestações populares dentro e fora dos EUA que não ganharam espaço na capa do diário.