No dia 14/9, o jornalista e escritor Max Blumenthal publicou um artigo na Columbia Journalism Review afirmando que a cobertura feita pelo chefe da sucursal de Jerusalém do New York Times, Ethan Bronner, estaria comprometida por sua ligação com uma empresa de relações públicas que o agenciava para fazer palestras pagas.
Conflito de interesses, afirma o ombudsman do Times, Arthur Brisbane, é como veneno para o jornalismo. A aparência de um conflito de interesses é algo tão danoso quanto o ato em si. A situação consegue ficar ainda pior quando envolve Israel e os Palestinos, tema que, segundo Brisbane, atrai bastante ceticismo dos leitores e dos partidos políticos americanos sobre a cobertura do diário.
O artigo de Max Blumenthal levou a uma cadeia de novos artigos sobre a acusação a Bronner e críticas ao Times. O ombudsman avaliou os fatos, e concluiu que a possibilidade de ter havido conflito de interesses é fraca. Mas a aparência do conflito existe, diz ele, e isto, por si só, já é um problema.
As diretrizes éticas do Times determinam que funcionários do jornal “não devem aceitar nada que possa ser interpretado como pagamento por cobertura favorável ou como incentivo para alterar ou deixar de publicar cobertura desfavorável”.
A ligação de Bronner com a Lone Star Communications, empresa dirigida por Charles Levine, um importante executivo de relações públicas em Israel, teve início em 2009. Naquele ano, o empresário criou uma unidade de palestrantes, e o jornalista aceitou ser representado por ele. Para Bronner, que hoje não é mais cliente da Lone Star, não existe um verdadeiro conflito de interesses; o problema foi puramente de aparência.
A crítica de Blumenthal parte do fato de Levine ser uma figura pública da direita de Israel, que tem como clientes sionistas proeminentes. O autor defende que era inapropriado que Bronner tivesse uma relação de trabalho com Levine enquanto chefiava a cobertura de matérias de eventos ou personagens promovidos pela Lone Star.
No artigo da Columbia Journalism Review, Blumenthal não acusa explicitamente o jornalista de fornecer cobertura favorável à empresa em troca de algum serviço de Levine. Mas critica o fato de Bronner aceitar pagamento de palestras conseguidas para ele pela Lone Star, que também fornece pautas para o jornal. Ao mesmo tempo, Blumenthal reconhece, deve ser muito difícil fazer uma cobertura de Israel sem, em algum momento, tropeçar nos muitos clientes da Lone Star. Esta seria, diz ele, uma boa razão para que o chefe da sucursal do Times em Jerusalém não tivesse uma relação de negócios com a empresa.
O artigo de Blumenthal enumerava seis casos de matérias em que Bronner pelo menos mencionou clientes da Lone Star. O jornalista se defende: afirma que, dos seis casos, apenas uma pauta foi sugerida pela empresa, e ele não viu problema nela. O artigo envolvia o Fundo Nacional Judaico e tratava de um parquinho fortificado para as crianças na cidade de Sderot. Nos outros casos, Bronner diz que a pauta não foi passada pela Lone Star e que ele não sabia que envolvia clientes da empresa.
Imprudência
Brisbane ressalta que o artigo de Blumenthal sugere a existência de uma relação corrupta. Para ele, no entanto, a relação entre Bronner e a Lone Star foi imprudente, o que criou esta impressão. O ombdusman consultou dois especialistas em ética jornalística:
“Houve de fato um conflito de interesses? Eu acredito que, neste caso, não. E quanto à percepção de um conflito? É aí que eu acho que algumas pessoas verão a relação entre ele [Bronner] e a firma de relações públicas e terão motivos para duvidar”, diz Stephen Ward, que chefia o Centro para Ética Jornalística da Universidade do Wisconsin.
Ed Wasserman, professor de ética no jornalismo da Universidade Washington and Lee, na Virginia, enfatizou que a decisão de Bronner de encerrar seus laços com a Lone Star foi “apropriada”.
Bronner, por sua vez, sente-se mal pelo ocorrido. “Eu me permiti estar em uma situação em que alguém poderia vir atrás de mim desta forma”, pondera. O jornalista conta que fez apenas seis palestras por meio da Lone Star, de um total de 75 desde que assumiu o cargo de chefe da sucursal, há três anos e meio. Ele fala apenas a organizações sem fins lucrativos e, em Israel, costuma receber menos de mil dólares por participação.
Ele não havia informado seus editores sobre sua relação com a Lone Star porque não achou que precisasse fazê-lo. De fato, diz o ombudsman, o código de ética do jornal não determina especificamente que relações deste tipo devam ser informadas. Por outro lado, as diretrizes afirmam que funcionários editoriais devem informar aos editores caso recebam mais de US$ 5 mil em palestras por ano. Bronner reconhece que errou – acreditava que precisava informar apenas se recebesse mais de US$ 5 mil por palestra, outra determinação do código de ética.
O jornalista reconhece seus erros, mas argumenta que Blumenthal, que critica em seus artigos os acordos de Israel com os Palestinos, teria motivação ideológica para atacá-lo. Pode até ser, mas não se pode negar, diz o ombudsman, que a relação de Bronner com a Lone Star criou um problema e serve agora de lembrete: o Times deve se manter meticulosamente independente, na realidade e nas aparências, ou corre o risco de enfrentar mais ataques como este.
Esta não foi a primeira vez que Bronner enfrentou críticas. Quando seu filho se alistou no Exército israelense, Clark Hoyt, então ombudsman do Times, recomendou que o jornalista fosse trocado de cargo, justamente por causa da aparência de um conflito de interesses. Bill Keller, na época editor-executivo do jornal, defendeu Bronner, e ele manteve-se no posto. Desde então, o filho do jornalista completou o serviço militar e voltou aos EUA.