O Washington Post foi o único grande jornal que reproduziu com todas as letras o palavrão usado pelo vice-presidente americano Dick Cheney contra o senador democrata Patrick Leahy na semana passada. Cheney respondeu com a expressão ‘f…-se’ a comentários do senador, quando discutiam sobre as ligações do vice de George W. Bush com a companhia Halliburton. O editor-executivo do diário, Leonard Downie Jr., defendeu sua decisão de não esconder a expressão chula atrás de reticências, apontando que Cheney estava dentro do senado para uma seção de fotos. Oficialmente, ele detém o cargo de presidente da casa legislativa. Para Downie, cabe ao leitor julgar o significado de suas palavras naquele instante.
O ombudsman do Post, Michael Getler, em sua coluna de 4/7/04, diz que os leitores ficaram divididos sobre se o jornal deveria ter reproduzido o xingamento. ‘Acreditem ou não, ainda há muitos de nós que se ofendem com a vulgaridade’, escreveu uma pessoa. ‘A verdadeira notícia aqui é o gratuito rebaixamento dos padrões do Post‘, critica outro leitor, que, assim como outros reclamantes, afirmou que a matéria não seria adequada ao público jovem.
Esse argumento, no entanto, foi rebatido por um número igual de pessoas que apoiaram a publicação integral do palavrão. Elas acreditam que ‘qualquer jovem que consegue chegar ao terceiro parágrafo de um texto sob uma chamada de uma coluna na página A4 sem dúvida já ouviu essa expressão’, explica Getler.
O que não agradou a alguns leitores e tampouco ao próprio ombudsman é que a reportagem, de autoria de Helen Dewar e Dana Milbank, fazia referências nitidamente parciais contra Cheney. A matéria diz, por exemplo: ‘‘F…-se’, disse o homem que é uma força motriz da presidência’. Por que não escrever apenas ‘disse o vice-presidente’? ‘O jornal está insinuando que um homem raivoso poderia muito facilmente virar presidente’, reclamou um leitor. ‘Meu Deus! Uma bomba-relógio prestes a explodir!’, ironizou outro. ‘Esta foi uma notícia certamente explosiva por causa da linguagem. Mas ela deveria ter sido feita de uma forma jornalisticamente irrepreensível’, conclui Getler.