Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A difícil arte da neutralidade política

Deborah Howell, ombudsman do Washington Post, dedicou sua coluna de domingo [16/11/08] a responder a acusações de críticos conservadores sobre a parcialidade do diário. Nos mais de três anos em ocupa o cargo de representante dos leitores, Deborah recebeu diversas reclamações de que o Post seria ‘liberal demais’ – muitos leitores já cancelaram suas assinaturas por este motivo; apenas nas últimas quatro semanas, isso aconteceu 900 vezes.

É duro perder leitores em um momento de crise financeira. E os conservadores, que culpam a atuação da mídia pela derrota do republicano John McCain na corrida presidencial, podem estar equivocados. A vitória do democrata Barack Obama ocorreu devido a sua eficiente campanha e à crise econômica, defende a ombudsman. No entanto, os críticos não estão totalmente errados, continua ela. De maneira geral, o meio jornalístico atrai pessoas com inclinação política liberal – jornalistas querem mudar o mundo. Deborah especula que a maior parte da redação do Post deve ter votado em Obama – assim como ela o fez. Mas a redação do Post não é composta apenas de liberais; há pessoas de centro e conservadores.

Parcial sim, mas sem querer

Jornalistas não admitem que podem ser tendenciosos; eles acreditam que suas decisões jornalísticas são racionais e que suas opiniões políticas não afetam a cobertura das notícias. Tom Rosenstiel, ex-repórter político que administra o instituto de pesquisa Project for Excellence in Journalism, acredita que a percepção de tendência liberal é um problema na mídia. ‘Conservadores que pensam que a mídia tenta deliberadamente ajudar os democratas estão errados. Mas os conservadores estão certos em afirmar que o jornalismo tem muitos liberais e poucos conservadores. É inconcebível achar que isto seja irrelevante’, avalia.

Deborah reuniu diversas matérias que geraram reclamações de conservadores – e não foram poucas. Para ela, uma possível solução para evitar as acusações de parcialidade seria ter mais jornalistas conservadores nas redações e uma edição mais rigorosa. O problema é que editores não contratam repórteres com base em crenças políticas. ‘Deveria haver mais diversidade intelectual entre jornalistas. Ter mais conservadores nas redações resultaria em um jornalismo melhor. Temos que ser mais atentos e conscientes em relação à parcialidade’, afirma Rosenstiel. Bob Steele, professor de ética do Instituto Poynter, na Flórida, acredita que editores deveriam fazer uma avaliação contínua da cobertura.