Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A emenda pior que o soneto

Um erro de informação sempre afeta a credibilidade de um jornal e uma correção, se mal feita, pode até piorar a situação. O editor-público do New York Times, Byron Calame, em sua coluna de 17/7/05, mostra um exemplo de como isso acontece. Recentemente, o jornalão publicou uma errata em que explicava que um artigo de sua seção de opinião havia saído com afirmações falsas. Tratava-se de um texto em que o capitão Philip Carter propunha que o presidente americano, George W. Bush, deveria anunciar publicamente que os EUA estavam convocando reservistas para mandá-los ao Iraque.

A versão publicada continha frases inteiras descrevendo a surpresa de Carter, atualmente um advogado na Califórnia, ao saber que voltaria à ativa e seria mandado ao Oriente Médio. A errata, no entanto, sem dar maiores detalhes, afirmava que aquelas frases não eram de autoria do capitão, mas de um editor. Isso gerou forte reação dos leitores: então, um texto de opinião, antes de ser publicado, fora enriquecido com comentários e expressões anti-Bush por um funcionário do jornal? ‘Se supõe que um artigo opinativo deva refletir as opiniões do autor, não a do editor. Essa eu não entendi’, dizia uma das mensagens.

Aí entra a questão da errata mal feita. É praxe no NYT que editores façam sugestões de alterações nos artigos de opinião, pois muitos dos autores não são escritores profissionais e esta é uma maneira de tornar seus textos mais atraentes. No entanto, a palavra final é sempre daquele que assina. No caso de Carter, foi sugerida pelo editor a inclusão dos trechos posteriormente citados na errata. O capitão, contudo, não concordou com a alegação de que teria se surpreendido com a convocação militar, pois havia se registrado como voluntário caso mais tropas fossem necessárias. Assim, aquelas afirmações não teriam sentido algum.

Uma versão final, com a qual Carter estava de acordo, foi composta e preparada para publicação. Mas, por falha da pessoa encarregada de incluir o texto na edição do dia seguinte, o texto anterior acabou indo para a impressão. O capitão viu o erro no portal do NYT naquela mesma noite e ligou para a redação a tempo de que parte da edição impressa saísse sem seu artigo. Mas, como havia exemplares com o texto circulando, a errata se fez necessária. Faltou ela ser mais clara quanto aos processos internos do jornal, para afastar a idéia de que os editores moldam à sua maneira os artigos de opinião.