Há quase uma década, durante uma reunião de planejamento em um hotel na Flórida, chefes de redação da equipe do Washington Post ouviram uma avaliação da cobertura local do diário. Jo-Ann Armao, então editora de notícias locais, descreveu uma ‘transformação extraordinária’ na seção metropolitana, que contava com 110 repórteres, 30 editores seniors e dezenas de outros editores e assistentes. A equipe de cobertura de Maryland havia aumentado para 38 repórteres, com novas sucursais em oito condados. Para a Virgínia, havia 32 repórteres e sucursais em sete condados e na capital. Apenas em Washington, D.C. a equipe havia sido reduzida – porque a população havia diminuído.
Hoje, não há mais esta vasta rede. A necessidade de corte de custos fez com que a seção metropolitana diminuísse para 40 repórteres e o número de editores foi cortado à metade. Apenas um pequeno número de repórteres permanece nos subúrbios. Ao longo do último ano, o ombudsman Andrew Alexander vem recebendo reclamações de leitores destas áreas, que alegam que a cobertura jornalística de suas comunidades é escassa.
Candidatos a cargos políticos também reclamam que recebem pouca atenção, e pais dizem ser ignorados nas suas demandas, comenta Alexander em sua coluna de domingo [17/10/10]. O porta-voz das escolas do condado de Fairfax, Paul Regnier, observou uma considerável redução nas matérias sobre as escolas locais, incluindo o acalorado debate sobre o orçamento, que afeta diretamente os contribuintes. ‘Não há muito interesse no dia a dia do que está acontecendo no sistema escolar’, desabafou.
Os chefes de redação, entretanto, não devem ser culpados pelas reduções de equipe, avalia o ombudsman. Cortes dramáticos foram necessários por conta da recessão e consequente queda nos anúncios, o que colocou as finanças do Post no vermelho. Houve, portanto, um caminho lógico em colocar a equipe reduzida focada nos tópicos mais importantes e não distribuída geograficamente.
Cobertura desequilibrada
Ainda assim, Alexander vê dois problemas com a atual operação de notícias locais. Primeiro, a cobertura não é equilibrada. Uma avaliação de 450 matérias locais mostra que 40% estão focadas em Washington – muito mais que os condados de Montgomery, Fairfax e Prince George juntos. No entanto, a tiragem dominical e diária em Montgomery e Fairfax é imensamente maior do que em Washington e apenas um pouco menor do que em Prince George.
A disparidade pode ser explicada pela aquecida disputa nas eleições primárias à prefeitura do Distrito de Columbia. Além disso, o interesse no local é alto por conta da região ser um centro de empregos e entretenimento. A cobertura pode, ainda, ser influenciada pelos locais onde a equipe do Post mora. Uma análise dos endereços mostra que mais da metade mora em Washington, com poucos em Maryland e menos ainda na Virgínia. Assim como os leitores, jornalistas tendem a focar em suas próprias comunidades.
Um outro problema é que os repórteres locais trabalham na redação do Post, e não em sucursais nos subúrbios. Ao trabalhar diretamente dos locais onde ocorrem os fatos, os repórteres poderiam produzir matérias com mais impacto e profundidade. Segundo a chefe de redação Liz Spayd, estas questões estão sendo discutidas e mudanças serão anunciadas após a substituição do editor de notícias locais Emilio Garcia-Ruiz, que ocupará um novo cargo envolvendo projetos digitais.