Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A insubstituível sensação de uma virada de página

Em sua coluna de 17/2, o ombudsman do Washington Post, Michael Getler, comenta dois artigos, publicados recentemente pelo diário, que se complementam. O primeiro aborda o futuro, aparentemente pouco promissor, dos jornais impressos; o segundo fala sobre a pressão, cada vez maior, que os blogueiros exercem sobre os veículos de comunicação tradicionais. Os artigos notam que os jornais têm perdido leitores, sofrem concorrência da TV e, ainda por cima, têm protagonizado episódios que puseram sua credibilidade em dúvida.

Getler comenta que, como ouvidor, tem percebido um aumento da contestação de conteúdo do Post por parte dos leitores. Cresceram, sobretudo, os protestos coordenados, massivos, com clara intenção política. ‘O número de pessoas que dizem que vão cancelar suas assinaturas porque não gostam da cobertura também aumentou’, escreve. ‘Eu também me preocupo com o futuro dos jornais. Eles são essenciais para uma cidadania informada e sua função especial não pode ser exercida pela concorrência’.

O ombudsman afirma que, no caso do Post, seu sítio já extrapolou o alcance da versão impressa, já que chega ao alcance de muitas pessoas que vivem distantes de Washington. No entanto, Getler acredita que o jornal de papel ainda é ‘mais compatível com nossa história e hábitos, com a leitura e a discussão, e com o sentimento de descoberta que muitas vezes só vem com uma virada de página’. Para ele, o público da versão impressa deverá se reduzir a um grupo fiel, um bloco principal de leitores, além de alguns novos aficionados que ainda podem surgir.

Os blogs têm um papel importante na fiscalização da grande imprensa, mas não a substituem, pois só os jornais possuem os profissionais, a técnica e o tempo para fazer uma ampla cobertura dos assuntos que interessam para a sociedade. Os blogueiros podem, recentemente, ter furado os jornais em alguns assuntos, mas, segundo Getler, isso não significa que essas notícias não viriam à tona de qualquer maneira.

O desafio para os editores agora é adaptar seus veículos aos novos tempos: tornar os jornais mais fáceis de ‘navegar’ e dar as notícias de forma mais concisa. ‘Eu sou de opinião de que precisa haver mais hard news, especialmente na capa, mais questionamento do governo e das instituições em todos os níveis, e mais daquele jornalismo que até agora tem sido irrepreensível – em outras palavras, o confiável’, defende o ombudsman.