No dia 23/3/05, The Washington Post saiu às bancas com uma manchete muito pouco surpreendente: ‘Cheney aplaude indicações de Bush’. Esta foi a chamada principal da primeira edição do dia. As seguintes vieram com ‘Cheney defende indicações de Bush’, mais conservadora jornalisticamente, mais ainda assim pouco noticiosa. Afinal, o que é que se espera que faça o vice-presidente com relação às decisões de George W. Bush?
O ombudsman do jornal, Michael Getler, conta que a manchete se refere a uma entrevista concedida por Dick Cheney a bordo do Air Force Two. Foram vinte minutos de conversa com o repórter Jim VandeHei, em que o vice elogiou as nomeações do ex-funcionário do departamento de Estado John Bolton como embaixador dos EUA nas Nações Unidas, e do ex-vice-secretário de Defesa, Paul Wolfowitz, como presidente do Banco Mundial. É praticamente uma norma da grande imprensa que, quando alguém da importância do vice-presidente oferece a rara oportunidade de uma entrevista exclusiva, isso sai na primeira página, e com o Post não foi diferente. Para Getler, não é um bom sinal, pois significa que o governo tem papel de destaque em qualquer jornal quando quiser.
O ombudsman observa que uma manchete como a publicada na semana passada é pior ainda que uma simples chamada em algum lugar da capa. Muitos leitores a criticaram como exagerada e sem sentido. ‘Esta é a única notícia que o Post consegue extrair de um dos mais controversos vices da história recente?’, metralhou um leitor. Getler comenta que VandeHei provavelmente fez o melhor que pôde, mas que a reportagem ganhou destaque exagerado. ‘E a chamada ficou ridícula? Certamente. Se Cheney tivesse feito esses comentários num programa de TV numa manhã de domingo, provavelmente não teriam ganho mais que um ou dois parágrafos no Post do dia seguinte’, conclui.