Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A violência não refletida

No dia 16/6, o ombudsman do Washington Post, Michael Getler [26/6/05], recebeu ligação de uma leitora reclamando que havia ouvido no rádio que sete fuzileiros navais americanos haviam morrido no dia anterior no Iraque, e que o jornal não deu nada a respeito. Getler responde que essa notícia saiu sim, nos dois dias seguintes às mortes, mas no meio de matérias sobre outros assuntos relacionados à guerra, sem chamada específica.

O ombudsman conta que, a cada semana, recebe duas ou três mensagens de leitores insatisfeitos sobre o modo como o Post noticia as baixas americanas no Iraque. ‘Não é muito, mas forma um ruído constante ao longo do ano e eu simpatizo com eles’, escreve. Ele ressalta que, em sua opinião, o diário faz uma excelente cobertura do Iraque, que inclui notas sobre os funerais de soldados de Washington no caderno Metro e a publicação, em 15 ocasiões, de páginas duplas com as fotos de todos os militares caídos na invasão. No dia 1/5, saiu um gráfico sobre os custos financeiros e humanos da guerra.

Ainda assim, observa Getler, não houve nos últimos meses nenhuma chamada de capa que transmitisse o fato de que, desde abril, foram mortas quase 200 pessoas a serviço dos EUA no Iraque e o mais comum é mesmo que as mortes sejam noticiadas em matérias com títulos pouco explícitos. No dia 11/6, a morte de cinco fuzileiros navais ganhou a chamada ‘Cresce violência na zona fronteiriça com a Síria’. Comparadas às da Guerra do Vietnã ou da Coréia, as baixas no Iraque ainda são poucas, mas este conflito é altamente controvertido e, por isso, os jornais precisam refletir em sua capa qualquer escalada de violência, por menor que seja.