Na semana passada, o ombudsman do Washington Post [24/4/05], Michael Getler, recebeu cerca de 700 mensagens de pessoas ligadas ao grupo esquerdista de monitoramento de mídia FAIR (Fairness and Accuracy in Reporting) reclamando de um perfil do senador Trent Lott publicado pelo diário, cujo título dizia que ele havia ‘superado’ o incidente que o obrigou a renunciar à função de líder da maioria republicana em sua casa do congresso. Em dezembro de 2002, o político comentou, no aniversário de 100 anos do colega senador Strom Thurmond, que se este ‘dixiecrata‘ (referência aos estados sulistas escravagistas americanos) tivesse ganho a eleição presidencial a que concorreu em 1948, ‘não teriam ocorrido todos estes problemas por tantos anos’. A observação virou um escândalo e o passado racista de Lott virou tema recorrente na imprensa.
Getler comenta que não gosta de correntes de e-mail em que centenas de pessoas mandam queixas com os mesmos argumentos, entulhando sua caixa postal. Seria melhor que a FAIR enviasse um só e-mail, expondo suas críticas à reportagem. No entanto, prossegue, esse fato não invalida a queixa dos simpatizantes da organização. De fato, o perfil de Lott não dava voz a nenhum opositor do senador e tampouco citava seu passado segregacionista.
Consultada pelo ombudsman, a editora administrativa assistente do Post, Liz Spayd, argumentou que o objetivo do texto não era ‘reexaminar os comentários controversos’ de Lott, mas mostrar como o incidente de 2002 não o tirou definitivamente da vida política. Getler concorda que, como leitor, o texto lhe foi útil para se informar sobre a articulação que o senador tem empreendido. Por outro lado, acredita que, da forma como está escrito, o perfil serve para impulsionar a recuperação que Lott busca. ‘Enfim, em minha opinião, aqui não há um veredicto definitivo de culpado ou inocente, mas um saudável intercâmbio entre o diário e seus críticos’, conclui o ombudsman.