Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alterações e explicações

O ombudsman do New York Times, Daniel Okrent, arrumou briga dentro do jornal depois da publicação de sua coluna de 28/11. Nela, Okrent falou sobre o fim da enorme lista de eventos culturais do Times, substituída no mês passado por uma nova seção, chamada The Guide. No guia original, mais de 300 eventos eram listados semanalmente; na nova versão, não passam de 20. O ombudsman tratou do assunto depois de receber milhares de reclamações dos leitores. O problema, segundo ele, foi a falta de aviso do jornal: a troca foi feita sem explicações.

Duas semanas depois de seu último texto, Okrent [12/12/04] conta que recebeu manifestações de gratidão e de zombaria sobre o assunto. Entre as críticas feitas a sua coluna por alguns editores e repórteres do Times está a da escolha de alguns termos usados no texto e considerados, no mínimo, indelicados. Para retratar a postura dos editores de cultura do jornal, o ombudsman utilizou as palavras ‘superficial’, ‘condescendente’ e ‘arrogante’.

Okrent concorda com a crítica. Diz que se fosse um escritor melhor teria seguido o antigo ditado ‘mostre, não conte’ e deixado que os leitores preenchessem os fatos com seus próprios adjetivos. Mas usa esta mesma crítica para voltar a criticar os editores de cultura. ‘Às vezes, contar é melhor do que mostrar, especialmente quando o ‘mostrar’ vem como um choque – por exemplo, quando os editores fazem grandes mudanças naquilo que ofereciam aos leitores há décadas e não explicam o que estão fazendo ou o porquê’, alfineta ele. ‘Se os editores fizessem as explicações, talvez eu não precisasse fazê-lo por eles’.

E continua: diz que enquanto apurava informações para escrever sua coluna anterior, recebeu do editor de cultura Jonathan Landman a explicação de que jornalistas tendem a evitar a auto-promoção de mudanças ou novidades, deixando que o jornal fale por si próprio. Okrent acha o raciocínio antiquado e inocente. ‘Em uma época onde a imprensa é considerada por muitos como uma besta destruidora e fora de controle, a falha em permitir que os leitores dêem uma olhada dentro da gaiola pode agravar suas piores suspeitas’.

Segundo ele, isso não se aplica apenas a mudanças de formato, mas a qualquer mínima modificação de comportamento do jornal. O ombudsman conta que recebe mensagens de leitores todas as semanas com sérias questões sobre as mais diversas alterações e variações nos padrões do Times. Nada que uma curta explicação não resolvesse.