Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Aprender com os acertos dos outros

Daniel Okrent, editor público do New York Times, abriu sua coluna de 1o/2/04 falando que cometeria em seu texto uma ‘heresia jornalística’. ‘Gostaria de sugerir a jornais com olhos voltados à excelência – como o que o leitor está segurando em suas mãos – que aprendam a ser generosos a seus concorrentes, oferecendo nesse processo valores a seus leitores’, afirmou logo na abertura.

Sempre fez parte da política do Times dar crédito a furos de reportagem de outros veículos de comunicação. Nas últimas semanas, no entanto, três reportagens publicadas antes em outros jornais foram desprezadas pelo jornalão. Nos três casos, o esforço em manter um alto nível do que as pessoas do Times chamam de ‘metabolismo competitivo’ não serviu bem aos leitores. E passou a comentar uma dessas reportagens.

Em outubro passado, o jornal The Blade in Toledo, do estado de Ohio, publicou uma série de artigos revelando que ‘membros de um grupo de soldados americanos conhecido por Tiger Force massacrou incontáveis civis vietnamitas num período de sete meses, em 1967’. A Associated Press resumiu as descobertas reveladas na série e muitos jornais pegaram a reportagem da AP, inclusive o International Herald Tribune, da mesma companhia do Times. O editor internacional do Times disse então que o assunto era importante, mas não deu a atenção devida porque estava voltado à guerra no Iraque. No final das contas, a história do Vietnã foi ignorada pelo jornalão.

Na revista The New Yorker de 10/11/03, o repórter Seymour Hersh elogiou a série do Blade, observando que quatro grandes emissoras e a maioria dos grandes jornais não tinham dado a notícia. O editor-executivo Bill Keller resolveu dar atenção ao caso e em 28/12/03 a história foi finalmente publicada – dois meses de atraso para uma história que ocorreu em 1967.

O publisher e editor-chefe do Blade, John Robinson Block, achou que o fato de o Times ter demorado tanto por decidir publicar o furo, com boas doses de ressalvas e ceticismo indicando que uma nova investigação seria quase inevitável, foi um insulto a seu jornal e seus repórteres. Keller disse a Okrent que se sua própria equipe tivesse produzido a série do Blade ela estaria na primeira página, mas porque se tratavam de reportagens de outro veículo, acabaram sendo menosprezadas, atrasadas e, para alguns, desvalorizadas.