Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Artigo dos sete erros

No dia 22/7, o New York Times publicou uma vergonhosa correção em relação a sete erros em um único artigo – sobre a morte do famoso âncora da CBS Walter Cronkite, aos 92 anos. Foram publicadas datas erradas sobre eventos históricos, informações incorretas sobre o trabalho do jornalista, de seus colegas e índices de audiência de seu programa, erros no nome de uma agência de notícias e de um satélite. A quantidade de dados incorretos chamou a atenção de muitos leitores. ‘Uau. Como isto pôde ter acontecido?’, indagou o leitor Arthur Cooper, de Manhattan.

De maneira resumida, o ombudsman do diário, Clark Hoyt, explica em sua coluna de domingo [2/8/09] que uma crítica de TV com um histórico de erros em suas matérias escreveu rapidamente o artigo e não checou seu trabalho. Além disso, os editores deveriam ter sido mais atentos.

De modo mais completo, Hoyt ponderou que, mesmo jornais como o NYTimes, com diversas etapas de edição para garantir a precisão das informações, podem sair dos trilhos quando a comunição é pobre, indivíduos não dão o melhor de si e fazem suposições sobre o trabalho de outros. O artigo em questão foi lido por cinco editores, em momentos diferentes, mas nenhum deles o submeteu a um controle rígido.

Erros que parecem pequenos podem causar grandes estragos a um jornal, pois diminuem sua autoridade e credibilidade. Por isso, os diários tentam sempre descobrir onde está a falha, para que ela não se repita. O NYTimes parece ter dificuldades em escrever sobre pessoas logo após suas mortes. Uma série de obituários recentes registrou múltiplos erros. Craig Whitney, editor de padrões do NYTimes, informou que um editor está sendo deslocado para o setor de obituários para checar os fatos, a fim de reduzir os ‘altos índices inaceitáveis de erros’.

O caso Cronkite sugere que uma redação preparada para enfrentar os desafios dos deadlines deve encontrar uma maneira melhor de lidar com aqueles artigos que não têm data certa para ser publicados. Repórteres e editores acreditam que terão tempo de sobra para lidar com eles mais tarde – e, quando menos se espera, já é tarde demais.

A pressa (e a calma) são inimigas da perfeição

Um mês antes da morte de Cronkite, começaram a circular informações de que o veterano jornalista estava gravemente doente. No dia 19/6, a crítica de TV Alessandra Stanley escreveu um histórico sobre carreira de Cronkite, para ser publicado depois de sua morte. Alessandra estava trabalhando em um outro artigo no mesmo período, com deadline; por isso, apressou-se em escrever o sobre o âncora. Ela enviou a peça para sua editora, com o objetivo de verificar algumas informações mais tarde – o que nunca fez. ‘É minha culpa. Não há desculpas’, admitiu.

Na pressa, Alessandra apenas conferiu a data de dois eventos que Cronkite cobriu – o assassinato de Martin Luther King e o momento em que Neil Armstrong pisou na Lua – e copiou as informações de modo errado. A jornalista ainda escreveu que o âncora estava na praia no Dia D, durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele estava na verdade cobrindo os fatos de um avião militar. ‘Não reli cuidadosamente [o texto] para perceber que as pessoas iam interpretar a frase literalmente, achando que ele estava nas areias da praia de Omaha’, explicou.

Caso recorrente

Mesmo sendo considerada uma ótima crítica por seus editores, Alessandra cometeu tantos erros em 2005 que uma revisora ficou encarregada de checar os fatos para ela – até que seu índice de erros diminuiu. Antes do artigo de Cronkite, Alessandra não estava nem entre os 20 repórteres e editores com mais correções no ano passado. Agora, ela é a quarta e receberá atenção especial por isso.

Sucessão de erros

O dia 19/6 – uma sexta-feira – foi movimentado na editoria de Cultura, onde eram fechadas, simultaneamente, as edições de sábado, domingo e segunda-feira. O editor Lorne Manly leu o artigo, mas não encontrou erros. Pior: ele fez uma mudança que ocasionou outro erro. A crítica havia escrito corretamente que Cronkite havia trabalhado para a United Press. O editor mudou para ‘United Press International’, com uma nota para que a informação fosse checada. No fim das contas, saiu publicado ‘United Press’ e ‘United Press International’ na mesma frase. Mesmo com a data em que Armstrong pisou na Lua estando fresca em sua mente, Manly não percebeu o erro. Se o tivesse feito, talvez tivesse dado mais atenção ao artigo.

A revisora Janet Higbie disse que começou a ler o artigo de Alessandra na sexta-feira e pescou o erro na digitação do satélite Telstar e duas datas incorretas, mas suas correções não saíram na edição impressa. ‘Não sei o que aconteceu’, afirmou. Como tinha que revisar outra matéria com prazo curto, achou que alguém terminaria de revisar o texto sobre Cronkite – o que não ocorreu por quatro semanas, quando o jornalista morreu em outra sexta-feira movimentada na redação.

Dois dias antes da morte do pai, Chip Cronkite escreveu para Hoyt pedindo que o jornal tivesse cuidado em verificar os dados sobre o jornalista antecipadamente, pois a CBS havia encontrado erros ao revisar o material para o obituário. Douglas Martin, que havia escrito o obituário de Cronkite há anos, telefonou para Chip e repassou com ele datas, nomes e outras informações. Ninguém, no entanto, lembrou de enviar estes dados para a editoria de Cultura, onde o artigo de Alessandra foi publicado.