Dezoito meses após ter inaugurado o posto de ombudsman do New York Times, Daniel Okrent deixa o posto para a chegada de seu sucessor, Barney Calame. Em sua última coluna, de 22/5/05, o editor-público enumera uma lista ‘quase aleatória’ de assuntos e questões que não teve tempo ou espaço para abordar durante seu mandato:
** Okrent lembra que, em sua primeira coluna, se auto-definiu como um defensor absolutista da Primeira Emenda da Constituição Americana, que estabelece o direito à liberdade de expressão. Mesmo reconhecendo que absolutismo não é dos melhores termos para se usar, reitera seu irrestrito apoio àquele artigo constitucional, que considera ser a base da democracia. Faz a ressalva, no entanto, de que gostaria de que os jornalistas, em vez de se protegerem com o manto da lei, pudessem invocar mais a precisão e a correção da notícia em sua legítima defesa.
** Sobre sua polêmica coluna intitulada ‘The New York Times é um jornal liberal?‘ – pergunta respondida logo no primeiro parágrafo com ‘é claro que sim’ –, o editor-público comenta que defende o que escreveu e que não mudou sua opinião de que o diário é resultado da visão de mundo daqueles que o escrevem. No entanto, admite que entregou uma ‘metralhadora’ de bandeja para os inimigos conservadores do jornal, que, de forma um tanto injusta, passaram a citar a abertura do texto sem fazer menção às reflexões que ele incluía, como se sua idéia fosse de que o Times é simplesmente uma publicação liberal e nada mais.
** Um leitor pergunta: se o comentarista da CNN Tucker Carlson é rotulado de ‘conservador’ nas páginas do Times, por que o âncora Bill Moyers, da rede pública PBS, por muitos tido como liberal, é apenas ‘Bill Moyers’ para o jornal? ‘Boa pergunta’, responde Okrent.
** Se um crítico de arte do jornal não gosta do trabalho de um determinado artista, este nunca terá uma chance justa para divulgação de sua obra naquela publicação. ‘Que tal criar limites de tempo de trabalho – 10 anos, por exemplo – para os críticos?’, pergunta o editor-público.
** O aparecimento de assinaturas pouco familiares nas matérias do Times tem explicação: pressionado economicamente, o jornal tem contado cada vez mais com a colaboração de freelancers. Okrent comenta que não tem nada contra os repórteres autônomos, que fazem seu trabalho tão dignamente como qualquer outro jornalista. No entanto, por colaborarem com diferentes veículos e não estarem imersos na redação, não absorvem tão bem suas normas internas. Em seu mandato, o ombudsman se deparou diversas vezes com falhas causadas por esse fator. Ele acrescenta estar convicto de que o Times é o diário que mais investe em reportagem nos EUA. No entanto, acrescenta, poderá pagar um preço muito caro por reduzir em demasia sua equipe fixa.
** Por que na seção de turismo os restaurantes sempre têm comida deliciosa, os hotéis são aconchegantes e as vistas maravilhosas? Onde está o senso crítico nas matérias de viagem?
** Muitas reportagens apresentam opiniões contundentes de ‘pessoas comuns’ envolvidas no assunto, sem explicar qual é sua autoridade ou representatividade para falar sobre aquilo. Se uma pesquisa com centenas de anônimos sempre vem acompanhada de uma explicação sobre margem de erro, por que, quando se trata da opinião de apenas um deles, ela passa a ser dispensável?
** ‘Desejaria não ter feito tanto barulho, escrevendo e dando entrevistas, sobre como este trabalho é duro. (O correspondente) Dexter Filkins, em Bagdá, tem um trabalho duro; Steve Erlanger, em Jerusalém, tem um trabalho duro. Seguindo qualquer padrão razoável, ser editor- público é como um passeio no parque’.
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Assim Okrent finaliza seu ano e meio na pele de ombudsman de um dos jornais de maior destaque no mundo. ‘Senhoras e senhores, por favor, dêem as boas-vindas a Barney Calame’.