No domingo retrasado, a repórter Judith Miller, do New York Times, foi ao programa Hardball with Chris Wallace, da rede americana MSNBC, e anunciou o que seria uma das grandes notícias do dia. O governo americano estaria, segundo Judith, negociando a participação do ex-exilado Ahmad Chalabi na administração iraquiana que seria eleita naquele domingo. Um fato chamou a atenção do ombudsman do New York Times, Daniel Okrent: a notícia – considerada bombástica – não havia sido publicada pelo jornal.
Jornalistas são frequentemente chamados a participar de programas na TV americana, informa Okrent [6/2/05]. Segundo ele, ao contrário de colunistas, repórteres não devem aceitar esses convites.
Essas aparições colocam, em certos casos, o jornal que paga os salários do repórter em situação embaraçosa. O exemplo de Judith Miller traz à cabeça do leitor do NYT algumas questões: se o jornal tinha conhecimento das informações obtidas pela repórter, por que não as publicou? Há duas explicações possíveis, diz Okrent. Na primeira, os editores sabiam da notícia, mas não a julgaram crível. Na segunda, o Times está, por outros motivos, segurando a publicação de uma importante notícia. Dado que Judith foi apresentada no programa de TV como repórter do New York Times, ambas as explicações são ruins para a credibilidade do jornal.
Segundo Okrent, porém, os editores de Judith não sabiam que a repórter havia apurado a notícia. Reportagens publicadas em um jornal são produto de um trabalho de equipe; envolve editores, redatores e até mesmo executivos da empresa. No caso de um programa de TV, a repórter fica sujeita à tentação de dar uma notícia, ou até mesmo uma opinião, que não passaria por todos esses filtros para a publicação no jornal.
A solução para o problema é apenas uma, diz Okrent. O jornal tem que colocar em prática a política – já contida no Manual de Redação do NYT – segundo a qual nenhum repórter pode revelar no rádio, na televisão ou na internet qualquer notícia que não tem condições de ser publicada nas páginas do New York Times.